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Existe uma cefaleia que é tratada fundamentalmente com indometacina,
que é designada por hemicrania contínua. Esta caracteriza-se por uma dor
contínua, unilateral, não alternante de lado, diária, com exacerbações noctur-
nas, graves, temporárias, de alguns minutos a dias, da intensidade da dor, que
se sobrepõem à intensidade média diária e podem ser acompanhadas de sin-
tomas migranosos. São mais frequentes no sexo feminino. Localiza-se mais
frequentemente na região frontal, temporal, orbitária e região occipital. Encon-
tra-se nesta cefaleia sensibilidade dolorosa na palpação dos músculos cervico-
occipitais e dores de tipo fisgada sobre a região frontotemporal. Por estes
aspectos esta cefaleia deve ser diferenciada da cefaleia cervicogénica. A res-
posta à indometacina é um modo de diferenciar de outras condições como
enxaqueca crónica. Pode ser mais difícil diferenciar da cefaleia hemicrania
paroxística crónica, embora nesta as exacerbações duram menos tempo e são
mais graves.
Também pode haver a cefaleia em salvas crónica em que as cefaleias ocor-
rem durante o período acima de um ano com ou sem períodos de remissão
mas breves, inferiores a um mês.
A cefaleia nova diária persistente é uma dor de cabeça de início súbito com
características de tipo tensão mas que persiste por mais de três meses. O que a
caracteriza é o facto de não haver remissão durante esse período e ser diária.
Também a cefaleia hípnica é uma cefaleia de duração breve, cerca de
15 a 180 min após acordar o paciente, e não surge durante o dia. Funciona
como um relógio despertador acordando o paciente do seu sono. A frequên-
cia é superior a 15 dias por mês. Outra característica é a aparecer após os
cinquenta anos de idade. É mais frequentemente bilateral e de intensidade
moderada.
Várias nevralgias podem também ser causa de dor de cabeça permanente
e de difícil diagnóstico diferencial devido à sintomatologia ser semelhante a
uma cefaleia de causa funcional ou primária. Por exemplo, a nevralgia occipi-
tal que pode apresentar-se com sintomatologia migranosa, ou coexistir com
patologia cervical. As patologias que afectam as articulações da coluna cervi-
cal superior C1-C2-C3 podem ser causa de dor local e referida à região frontal,
orbital e temporal. Podemos ter a dor como consequência do envolvimento
muscular devido ao espasmo reactivo directo ou por defesa. Nestes casos, a
perícia da avaliação, exames complementares radiológicos e o recurso a blo-
queio anestésico local são essenciais para um diagnóstico.
Também as doenças muculoesqueléticas como a fibromialgia ou a dor
miofascial podem estar associadas a outros tipos de cefaleia e a cronicidade.
Na primeira condição, a fibromialgia, existe forte associação com cefaleia
crónica mas o diagnóstico é mais fácil pelas características generalizadas da
síndrome de dor e após exclusão de outras condições clínicas, nomeadamente
reumáticas. No segundo, a síndrome de dor miofascial, este é sempre regional
e por isso quando afecta os músculos da região cefálica e cervical constitui
um grande desafio de diagnóstico e de tratamento. A característica principal
é a presença de trigger points com dor local e dor referida. Podem também
ter sintomas autonómicos associados como rinorreia, lacrimejo e erecção da
raiz dos cabelos no couro cabeludo. A grande maioria destes casos é diagnos-
ticada como tendo cefaleia de tipo tensão. Estes casos podem constituir uma
verdadeira cefaleia miofascial em que a dor frontal unilateral é nitidamente
desencadeada pela palpação de um ponto occipital que é também doloroso,
podendo observar-se o jumps sign, isto é, um movimento brusco do doente à
palpação.
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