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tipo tensão associados que ocorrem em simultâneo de um modo alternado em
que se num dia tem uma enxaqueca depois noutro segue-se dor de tipo tensão
alguns dias para voltar a ter enxaqueca ou algum dia livre de sintomas. Resul-
ta, assim, num quadro misto de cefaleias. Só com apurada perícia e trabalho
em conjunto com o paciente podem ser definidos e diagnosticados os vários
tipos de episódios, o que é fundamental pelas implicações terapêuticas. A
história prévia é também importante para se observar o diagnóstico de enxa-
queca, a presença da mesma condição em familiares, a sua maior associação
com o período menstrual, a quase ausência na gravidez, resposta aos triptanos
e os sintomas neurológicos ou sintomas gastrintestinais ou neurológicos asso-
ciados e factores psicológicos envolventes.
Nesta condição, o abuso de medicação analgésica é comum mas não pare-
ce ser a causa desta condição. Aliás, a Classificação Internacional de Cefaleias
separa a enxaqueca crónica da cefaleia de abuso medicamentoso. Observa-se
na clínica o agravamento que este provoca além doutros riscos que o paciente
corre. A dor de cabeça com o abuso de fármacos analgésicos torna-se refrac-
tária ao tratamento analgésico e à medicação preventiva. Os fármacos que
contêm cafeína e barbitúricos estão associados a maior risco de abuso e de-
pendência. Os níveis de serotonina no sangue aumentam com a interrupção dos
analgésicos. Após período de interrupção do fármaco em causa verifica-se uma
menor frequência da cefaleia mas se não houver um grande controlo dos fac-
tores envolvidos e o doente consciente deste facto volta tudo ao mesmo. O
período de ausência de cefaleias deve ser de pelo menos dois meses para se
considerar devida a abuso medicamentoso. Nos casos em que tal não acontece
temos que rever os componentes somáticos e psicológicos e pensar o que está
a escapar no tratamento do doente. Observa-se nalguns destes pacientes uma
dificuldade no controlo interno e colocam todas as soluções na medicação e
no médico, por vezes sem limites definidos e algo destrutivo. Evidenciam um
deslocamento e projecção dos receios internos conscientes e inconscientes
para a dor e o desejo do alívio imediato. O medo e a insegurança fazem com
que antes de terem uma cefaleia ou com os mínimos sintomas tomem medica-
ção; são pacientes que não seguem as prescrições se não forem bem elucidados.
O medo da cefaleia nalgumas pacientes só é dissipado pela certeza de estar
protegida, isto é, se tomar medicação analgésica. Na experiência clínica com
outros pacientes com outros tipos de dor crónica, o abuso medicamentoso está
presente quando existem componentes afectivos dolorosos que provocam gran-
de sofrimento, e a medicação analgésica com efeitos no sistema nervoso central
funciona como uma anestesia da dor afectiva ou do componente emocional da
dor. Não existe nos outros tipos de dor crónica, por exemplo, a relação com a
cafeína como nas cefaleias. Não predomina ou não se queixam de cefaleia de
rebote por ausência dos analgésicos e quando se verifica encontra-se um quadro
clínico típico de abstinência do fármaco, nomeadamente com os psicoactivos.
Quando a medicação analgésica em muitas outras condições de dor falha o
paciente procura outras soluções ou abandona essa medicação. Assim, tudo
indica estarmos perante condições específicas de dor e de dependência.
Uma cefaleia de rebote é necessária ser prevenida quando se prescreve a
abstinência do analgésico em causa. Nesta condição é também importante
distinguir o que é rebote e o que é recorrência. A primeira ocorre na abstinên-
cia de um abuso continuado de analgésicos ou, por exemplo, cafeína e as ca-
racterísticas das cefaleias são em geral mais atípicas. No segundo caso, trata-
se de ocorrência de uma cefaleia do tipo prévio e na sequência periódica
anterior e em geral cede ao tratamento.
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