Page 14 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 13 Jose Alberto Fial: Dor - Uma visão sociojurídica

O Enfermeiro na Unidade


de Terapêutica de Dor



Maria Fátima Soares





A intervenção do enfermeiro face ao doente com dor ções, de modo a permitir a livre expressão de senti-
(aguda ou crónica) pressupõe por um lado a sua actua- mentos; criar, sempre que possível, ambiente envol-
ção, ou seja, o CUIDAR o doente com dor e, por outro vente, calmo; elaborar e executar sessões de relaxa-
lado, a sua reacção perante a dor e o sofrimento. mento; observação orientada no sentido de despistar
Cuidar requer o estabelecimento de uma relação inter- situações de crise reais ou potenciais; comunicar aos
pessoal englobando comportamentos e sentimentos, de- restantes elementos da equipa os resultados obtidos,
senvolvendo acções e mostrando capacidade de empa- colaborar na decisão e planeamento de acções futu-
tia em relação às experiências do doente. ras, avaliação contínua e reformulação de cuidados
Comportamentos expressivos como ouvir, confortar, per- face às situações detectadas e registar todas as ac-
mitir a expressão de sentimentos e sensibilidade devem ções de enfermagem.
constituir o seu instrumento de trabalho diário, na Unida- O doente deve ser um elemento activo e interessado
de de Terapêutica de Dor. no processo de erradicação da sua dor. Deve ser
Por estarem frequentemente expostos à dor dos ou- devidamente informado, só assim obteremos confiança,
tros, podem ser levados a fazer julgamentos inadequa- colaboração e adesão ao tratamento.
dos acerca do significado da dor para a pessoa que a É ao enfermeiro que compete o acolhimento do doen-
sente. É essencial que o enfermeiro adopte o ponto de te, entrevistas de enfermagem, apoio ao doente na sala
vista do doente em relação à sua dor. de tratamentos e consulta, ensino e orientação dos
Os cuidados ao doente com dor implicam uma gran- cuidados a ter em casa, nomeadamente com a posolo-
de disponibilidade, por parte dos enfermeiros, com gia e administração de fármacos, apoio aos familiares,
actuação muito superior na área do saber-ser e do preparação e consulta dos processos e fichas.
saber-estar. Nas entrevistas de enfermagem, o enfermeiro faz
Sendo a dor uma experiência multidimensional subjec- uma reavaliação da dor (EVA, escala numérica), avalia
tiva, requer uma abordagem multidisciplinar, em que cada os sinais vitais e regista qualquer alteração que tenha
técnico irá actuar de acordo com a sua área de interven- ocorrido desde a última consulta. Faz ensino adequado
ção e em consonância com os restantes membros da e oportuno sobre a terapêutica, alertando o doente/
equipa, tendo sempre presente o garantir o máximo de família para possíveis efeitos secundários e algumas
bem-estar e qualidade de vida de cada indivíduo. estratégias no sentido de os evitar, cuidados físicos e
Por estarem mais próximos dos doentes e famílias, esclarece dúvidas, entre outros. Prepara e administra
estão idealmente posicionados para avaliar e controlar a terapêutica, avalia a permeabilidade e funcionamento
dor, assim como outros sintomas. dos sistemas de perfusão contínua (DIB, PCA). Colabo-
Podemos considerar que o enfermeiro tem um papel ra, com o médico, nas técnicas invasivas.
multifacetado (suporte técnico e psicológico), visando o A interligação com os outros serviços de apoio é feita
atendimento global do indivíduo/família. A sua interven- através de comunicação escrita e, muitas vezes, por
ção é de primordial importância, especialmente no que telefone.
diz respeito à transmissão de informação, aconselha- No sentido de promover a continuidade dos cuidados
mento, ensino ao doente e família e ainda no proporci- aos doentes com dor, seguidos na UTD, o enfermeiro
onar a continuidade dos cuidados. executa visitas domiciliárias, com o apoio da secretaria
Avalia as necessidades de cuidados de enfermagem regional de saúde e colaboração das colegas dos cen-
dos doentes da UTD e o nível de cuidados prestados e tros de Saúde reduzindo a deslocação do doente à
propõe medidas necessárias à sua melhoria. UTD, assim como o recurso ao internamento.
Dispõe de um leque de intervenções autónomas, entre Está, ainda, em fase inicial o apoio do enfermeiro
as quais as não-farmacológicas, que serão coadjuvantes da UTD aos doentes nos serviços de internamento do
das intervenções farmacológicas, que em muito contribu- CHF, apoiando e avaliando os doentes com dor aguda
em para o alívio da dor e bem-estar do doente. (pós-operatório) e aos doentes com dor crónica, dando
No planeamento das intervenções consideramos im- início ao processo (colheita de dados), para posterior
portante: mostrar disponibilidade em todas as situa- continuidade na UTD.

DOR
Enfermeira Especialista
Unidade de Dor do Centro Hospitalar do Funchal 13
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