Page 16 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 15 J. Afonso: Intervenção do assistente social na consulta de terapêutica de dor

Intervenção do Assistente Social


na Consulta de Terapêutica de Dor



Joana Afonso







Resumo
Pretende-se com este artigo enquadrar a problemática da dor numa perspectiva psicos-
social e relevar a importância do trabalho interdisciplinar.

Palavras chave
Apoio psicossocial. Equipa transdisciplinar.






A dor é hoje tema recorrente nas diversas formas mais O processo de avaliação das necessidades sociais
ou menos técnicas, mais ou menos emotivas, sendo útil causadas pela doença é fundamental a fim de se poder
que o tratamento da mesma abranja o maior número encaminhar e informar os doentes e suas famílias quan-
possível de actores sociais, na esperança da descoberta to ao armamento social disponível na comunidade, tra-
de soluções inovadoras. O enfoque que tem sido dado duzido em diferentes formas de ajuda.
aos problemas que se colocam com o tratamento mas Do acompanhamento efectuado junto dos doentes
também com a reintegração e acompanhamento dos do- acolhidos pelo serviço social destaca-se como principal
entes. Daí cada vez mais a necessidade de se trabalhar problema a insuficiência económica, nomeadamente bai-
numa acção transdiciplinar em que todos os profissionais, xos salários, pensões atribuídas de reduzido valor, im-
médicos, enfermeiros, assistentes sociais e outros elemen- possibilidade de rendimentos alternativos. A maioria
tos de pertença do doente contribuam para cuidar dele. sobrevive no limite da dignidade envergonhada acresci-
No que diz respeito à intervenção directa junto do da de dificuldades na manutenção das despesas com
doente, o assistente social desenvolve a sua acção a os medicamentos, dietas alimentares, tratamentos pro-
partir do conceito de saúde tal como é definido pela longados.
Organização Mundial de Saúde (OMS). A saúde entendi- No que concerne à prestação de cuidados aos doen-
da não apenas como ausência da doença, mas sobretu- tes, surge a família como a principal prestadora, sobretu-
do como o bem estar bio-psico-social dos indivíduos, do cônjuges, filhos, noras, sobrinhos ou outros familiares.
dos grupos e das comunidades. Um número significativo de doentes vivem sós (ex.
O apoio social privilegia a abordagem psicossocial ao cais de idosos). Recorrem ao pedido de ajuda domici-
doente e sua família. É um princípio básico da interven- liar ou à atribuição de subsídios assistências à 3ª pes-
ção do assistente social alicerçado numa relação profis- soa.
sional de entendimento e compromisso mútuos para A situação habitacional, casa sem condições de ha-
promover a autonomia das pessoas em situação de bitabilidade e acessibilidade, isolamento decorrente de
dependência e o envolvimento das famílias, de molde a fenómenos de desertificação rural constituem proble-
saberem lidar com a situação doença. A permanência da mas e algumas vezes dificultam a manutenção dos
mesma gera instabilidade, insegurança, sentimentos de doentes no seu meio de origem.
medo para o doente e suas famílias, tornando-os mais Como conclusão, depois de equacionadas as neces-
dependentes dos serviços de saúde e segurança social. sidades, considero “urgente” definir planos de cuidados
A intervenção do assistente social junto dos doentes a fim de tratar dignamente estes doentes, havendo
deve basear-se numa análise rigorosa da sua situação necessidade de alargar a rede de apoio social e de
socioeconómica, da dinâmica, dos laços de solidarieda- saúde, uma vez que não dispomos de hospitais de
de existentes entre os familiares, das condições de retaguarda nem de unidades de apoio integrado.
habitabilidade e no que os doentes e famílias vivem,
dos seus conhecimentos e capacidades para darem Bibliografia
resposta às necessidades inerentes à dependência que Ministério da Saúde e do Trabalho e da Solidariedade Social.
os mesmos apresentam. Despacho Conjunto nº 407/98, de 18 de Junho. DOR
O Som do Silencio. Uma reflexão a partir do serviço social da
Assistente Social do Centro Hospitalar do Funchal saúde em Hospital. Revista Intervenção Social 2000:21. 15
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