Page 22 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 21 Jose Alberto Fial: Dor - Uma visão sociojurídica

Que faz um Neurocirurgião


na Consulta de Dor do Centro

Hospitalar do Funchal?



Gil Bebiano Barros Ferreira de Andrade






Tenho 41 anos de idade, sou neurocirurgião há 7 necessário uma grande objectividade e alguma humilda-
anos e colaboro na consulta da dor do CHF desde há de reconhecer que temos dúvidas, a expressão “não
cerca de 3 anos a convite dos Drs. Duarte Correia e Rui sei”, não sai com grande facilidade da boca de um
Silva, responsáveis pela referida consulta desde 1990. médico.
Aceitei o convite para colaborar nesta consulta com Medos? Talvez possam dizer que sou incompetente,
alguma hesitação, calculei que o convite fosse endere- que estou desactualizado, posso perder clientela, o que
çado por amizade, necessidade, enfim fiquei a conver- pensará o doente, etc. Penso que ao expressar as
sar sozinho durante algum tempo. minhas dúvidas e a partilhá-las com colegas capacita-
À medida que ficamos “maduros” profissionalmente, dos, estou a prestar o melhor serviço possível ao doente.
sentimos que cada vez sabemos menos e preocupamo- A consulta multidisciplinar da dor do CHF tem ao
nos em especificar a nossa actividade para daí resultar longo do tempo me fascinado por nela ter encontrado
um melhor qualidade no trabalho produzido. um grupo de colegas que não só partilham as dificulda-
Esta perspectiva é verdade em qualquer parte do des dos seus doentes como também partilham o seu
mundo, mas muito mais verdade num meio pequeno, saber e o domínio das suas técnicas com toda a
em que há uma grande identificação entre a população equipa, com uma abertura e simplicidade que são de
que servimos e o resultado dos nossos actos. Neste louvar.
contexto poderei dizer que um erro feito por mim na Não tenho dúvidas que enriqueci nestes anos em que
Madeira é mais erro do que se o Prof. doutor (X) o colaboro com na consulta da dor. Ofereci o meu melhor
cometer num grande centro universitário. nas vertentes técnica e humana, ganhei uma maior expe-
Desta maior responsabilidade perante a população riência no controle da dor crónica em todas as suas
que servimos, resulta uma actividade profissional mar- vertentes.
cada pela objectividade, o teórico é relegado para Face a algumas acções de formação desencadeadas
segundo plano, sendo o resultado ideal aquele que nos últimos anos, perspectiva-se a implementação de
melhor serve a população que sirvo. novas técnicas invasivas no âmbito da neurocirurgia para
No entanto, apesar de restringir a minha actividade às controle da dor, sendo com orgulho que participo activa-
técnicas que domino, preocupar-me com a qualidade das mente nas mesmas.
mesmas, ter um espírito crítico a cada passo da minha Críticas, claro que tenho; essas discutirei nos lugares
actividade, tenho a noção que um doente (seja cirúrgico certos e com quem de direito para num futuro próximo
ou não) nunca se esgota na minha especialidade. possa falar delas como problemas resolvidos.
Esta noção que hoje vejo com clareza, tem norteado a A todos os colegas que participam na consulta da
minha actividade profissional desde há algum tempo. É dor o meu obrigado.


















DOR
Assistente hospitalar de Neurocirurgia
Centro Hospitalar do Funchal 21
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