Page 23 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 22-23
Dor (2001) 9
O Rosto da Dor




Isabel Silva








Resumo
A autora apresenta a sua perspectiva na avaliação e tratamento da dor, referindo a
necessidade de uma mudança de atitudes e mentalidades de todos os profissionais
envolvidos e o registo sistemático da sua quantificação.


Palavras chave
Dor. Registos. Escalas.





A ciência da dor expandiu rapidamente e cuidar de tência de registos sobre dor por parte dos prestadores de
doentes com dor tornou-se uma área específica. Ao cuidados, nas vertentes avaliação – actuação – avalia-
mesmo tempo, a abordagem e alívio daquela tornou-se ção. É nesta última constatação que gostaria de me
da responsabilidade de todos quantos cuidam doentes deter.
com dor. O comportamento dos prestadores deve interiorizar
Desde o passado que enormes progressos foram três aspectos que me parecem simples e determinan-
feitos nesta área. Paradoxalmente, as repercussões tes, apontados pelo The Iowa Cancer Pain Relief Initia-
foram insuficientes na melhoria dos cuidados aos doen- tive and Cancer Care, Inc., a propósito dos Direitos da
tes com dor. Os profissionais de saúde devem ter Pessoa com Dor:
consciência desta imperdoável falha e como seres hu- ❖ Eu tenho o direito a que as minhas queixas sejam
manos devemos reflectir no impacto humano que este aceites como um facto, por todos os profissionais
aspecto envolve. Neste sentido, no Congresso Mundial de saúde.
de 1997 da Associação Internacional para o Estudo da ❖ Eu tenho o direito de ter a minha dor controlada não
Dor (IASP), a situação mundial quanto ao estado da arte importa qual a sua causa ou a sua intensidade.
foi descrita como assustadora! ❖ Eu tenho o direito a ser tratado permanentemente
As instituições deveriam ser responsáveis pela ges- com respeito. Quando precisar de medicação para
tão da dor e isso devia começar pelo pressuposto de a dor, eu tenho direito a não ser tratado como um
que os doentes deveriam ter acesso ao melhor nível de dependente.
alívio da dor o qual deveria ser assegurado. Os conhe- As dificuldades apontadas e responsáveis por algum
cimentos e os recursos existentes são suficientes para impasse em relação à abordagem da dor prendem-se
produzir alívio em 90% dos doentes que sofrem de dor, com questões essencialmente ligadas a 3 ordens de
mas numerosos estudos referem que isso não acontece. factores: o sistema de saúde, os prestadores de cuida-
Um número crescente de pesquisas demonstra que o dos e o próprio doente.
progresso na melhoria desta situação é demasiado Enquanto o controlo da dor não for considerado uma
lento, sugerindo que medidas forçadas podem ser ne- prioridade, a melhoria desta abordagem é muito insuficien-
cessárias para corrigir o subtratamento da dor. As mu- te. Os prestadores ainda não compreenderam a sua res-
danças na gestão da dor jamais ocorrerão apenas com ponsabilidade na melhoria do alívio da dor, mas parado-
medidas de ajustamento terapêutico. É necessário um xalmente sentem a necessidade de controlar a dor dos
esforço sustentado e prioritário na mudança de valores doentes.
profissionais. No sentido de tornar a dor visível, sociedades da
As pesquisas na área da dor colocam a nu falhas especialidade e autores individuais (Mccaffery, 1997) de-
inexplicáveis: prescrições incapazes de debelar a dor, fendem que a dor deve ser considerada como o 5º sinal
subtratamento mesmo após introdução de medidas de vital. É nesta postura que me revejo. À semelhança dos
ajustamento, prescrições terapêuticas feitas na base de restantes sinais vitais – pulso, respiração, temperatura e
incorrectas informações acerca dos analgésicos, inexis- tensão arterial – o registo da dor deveria ser feito de
uma forma contínua (não diria “rotineira” para que a
DOR rotina não se fique por ela mesma – inerte!), recorrendo

22 Enfermeira graduada ao uso de escalas de frequência ou outras. Este tipo de
medida será uma forma de tornar a dor visível e quan-
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