Page 21 Volume 9, Número 4, 2001
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Dor (2001) 9: 20
Dor (2001) 9
O essencial no combate à Dor


– colaboração e competência



Lúcia Freitas





Dor – do grego paine – significa castigo e define uma Assim se contribuirá para o decréscimo de situações
variedade de sentimentos, emoções e sensações asso- de dor insuficiente ou ineficientemente controlada.
ciadas ou não a dano físico que vão desde o simples Actualmente, a nossa realidade é de que ainda não se
desconforto à mais excruciante agonia. Sendo de ca- atingiu a excelência no controlo da dor mas procura-se
rácter subjectivo é indefinível como conceito tornando- atingi-la. O esforço e motivação de diversos profissionais
se naquilo que a pessoa diz que é, e existindo sempre de enfermagem de diferentes níveis da cadeia hierárqui-
que a pessoa diz senti-la. ca contribuiu para o desenvolvimento, implementação e
A presença de dor é susceptível de influenciar a reforço de estratégias conjuntas com o objectivo de se
qualidade de vida da pessoa quando altera a sua sensibilizar os enfermeiros para a problemática do con-
capacidade para desempenhar as actividades de vida trolo da dor de modo a considerá-la o quinto sinal vital.
diárias e quando é factor determinante de modificações Promoveu-se a criação de espaços de informação e
ao nível da relação da pessoa consigo própria ou com formação formal e informal acerca da problemática da
o meio familiar e social envolvente. dor em colaboração com a equipa da unidade de dor e
Sendo causa de sofrimento o seu alívio é imperioso e as escolas de enfermagem, contando-se à partida com
constitui um direito do doente e um dever dos profissi- a motivação interna de cada um.
onais de saúde. Em fase de implementação num número restrito de
A eficácia e eficiência no controlo da dor impõe um serviços do sector de cirurgia, está um projecto que preten-
trabalho de equipa centrada no utente e para o utente, de destacar um enfermeiro – elemento de ligação – para
devendo as estratégias a implementar ser concertadas ser o barómetro da equipa em matéria de necessidades de
e visarem um objectivo comum – a satisfação do doente informação ou formação acerca do problema da dor, articu-
– e por inerência a qualidade dos cuidados. O estabe- lando-se com o formador e o chefe de serviço e os
lecimento de protocolos de intervenção e a articulação elementos da equipa de dor, a par de outros projectos.
fluida dos elementos das diversas equipas de saúde Igualmente em fase de implementação está o pro-
com as equipas de dor poderá constituir uma mais valia jecto que prevê a articulação da equipa de enferma-
na consecução do referido objectivo. gem da unidade de dor com as diferentes unidades de
Os enfermeiros inseridos na equipa de saúde detêm um saúde primários e diferenciados.
lugar privilegiado. Actuando a diferentes níveis – avalia- O esforço e motivação conjuntas poderá contribuir
ção, prevenção e controlo da dor – podem constituir para o envolvimento de maior número de responsáveis
elementos chave quando estão sensibilizados e quando e intervenientes no controlo da dor e os empurre para o
desenvolveram competências na área, nomeadamente se verdadeiro trabalho em equipa intra e interdisciplinar.
conhecem a multiplicidade de factores capazes de influ- É um percurso que se prevê longo mas a vontade é
enciar a percepção e reacção individual da pessoa à dor grande.
e tendo em consideração as possíveis barreiras a uma
adequada avaliação do doente com dor sistematizam a
sua avaliação considerando a dor o quinto sinal vital.
O conhecimento mais profundo da pessoa e do seu
estilo de vida permite aos enfermeiros, enquanto ele-
mentos da equipa, colaborar no estabelecimento de
objectivos e de estratégias de intervenção individualiza-
das e adaptadas a cada doente.
Estando conscientes da influência que a dor persis-
tente tem no conforto, morbilidade e processo de recu-
peração dos doentes, os enfermeiros poderão sentir-se
co-responsáveis no processo e motivados para “exigi-
rem” o melhor para as pessoas que estão ao seu
cuidado, envolvendo os seus parceiros de equipa com
vista a concretizar os objectivos previamente traçados
DOR para e com o doente.

20 Enfermeira especialista em Medicina e Cirurgia
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