Page 37 Volume 12, Número 4, 2004
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Dor (2004) 12
Dor (2004) 12

Artigo original
Caracterização do Novo Composto

Iodoresiniferatoxina (IRTX): Efeitos


no Receptor Vanilóide



1,2
1,2
1,2
Ana Charrua , António Avelino , Célia D. Cruz , Francisco Cruz 2,3




Resumo
O receptor vanilóide tipo 1 (TRPV1) tem um papel importante no controlo da micção em situações patológicas.
A necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o seu funcionamento levou à criação de antagonistas.
A capsazepina, o antagonista do TRPV1 mais utilizado, é inespecífico nalgumas condições experimentais. Para
ultrapassar este problema, foi sintetizado um novo antagonista do TRPV1, a iodoresiniferatoxina (IRTX). Este
antagonista, uma forma iodada do ligando ultrapotente resiniferatoxina (RTX), mostrou em estudos in vivo ter
características de agonista. Tomando estas discrepâncias em consideração, estudámos os efeitos da IRTX no
reflexo miccional, e se estes são mediados através do TRPV1. Para tal, efectuámos análises funcionais da be-
xiga. A IRTX aumentou a frequência urinária, um efeito que revelou ser mediado pelo TRPV1. Este composto
também demonstrou ter a capacidade de dessensibilizar o receptor.

Palavras-chave: Iodoresiniferatoxina. Receptor vanilóide. Capsaicina. Capsazepina. Bexiga.




Introdução Em 2001, Wahl, et al. sintetizaram uma forma io-
O receptor vanilóide tipo 1 (TRPV1) é activado dada da resiniferatoxina (RTX), a iodoresiniferatoxina
por substâncias vanilóides como a capsaicina e (IRTX), que possui grande afinidade para o TRPV1,
a resiniferatoxina (Sterner, et al., 1999), tempe- e apresentou acção analgésica (Wahl, et al., 2001).
raturas acima de 43 °C (Caterina, et al., 1997) e Estudos electrofisiológicos demonstraram que a
por endocanabinóides como a anandamida (Smart, IRTX antagoniza correntes iónicas induzidas pela
et al., 2000). aplicação de capsaicina, ácido e temperaturas ele-
A importância do TRPV1 na regulação da mic- vadas, de um modo mais potente que a CPZ (Sea-
ção e o papel que desempenha na dor inflamatória brook, et al., 2002). Outros estudos de electrofisio-
são cada vez mais evidentes (para revisão ver logia demonstraram que a IRTX também tem
Szallasi, 2002), o que justifica a necessidade de se capacidade de inibir a libertação de glutamato in-
desenvolver estratégias farmacológicas que envol- duzida pela anandamida (Marinelli, et al., 2003).
vem a síntese de antagonistas específicos para Apesar de se comportar como um antagonista do
estudar o receptor e manipular a sua actividade. TRPV1, a IRTX possui algumas características de
A capsazepina (CPZ), o antagonista do TRPV1 agonista deste receptor, semelhantes às observa-
mais utilizado, tem capacidade de inibir respos- das na molécula da capsaicina, se injectada intra-
tas mediadas pela capsaicina (Bevan, et al., plantarmente em ratos (Seabrook, et al., 2002).
1992). Contudo, estudos efectuados in vivo Baseando-nos nestes resultados, e dado que
demonstraram que este composto é pouco se- a bexiga do rato possui uma elevada densidade
lectivo (Di Marzo, et al., 2000), justificando a de fibras aferentes primárias que expressam o
necessidade de se encontrarem novos antago- receptor vanilóide (Avelino, et al., 2002) propu-
nistas do TRPV1. semo-nos esclarecer o efeito da aplicação tópi-
ca da IRTX na frequência miccional.


Materiais e métodos
Instituto de Histologia e Embriologia
DOR 1 Faculdade de Medicina do Porto, Portugal Animais
Foram utilizados ratos fêmea da estirpe Wistar
2
36 3 IBMC, Porto, Portugal (250-300 g) provenientes da colónia do IBMC
Serviço de Urologia, Hospital de São João, Porto, Portugal
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