Page 34 Volume 12, Número 4, 2004
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H. Cardoso-Cruz, et al.: Efeito do Antagonista do Receptor de Glicina (Estricnina)...
Figura 3. Histogramas de actividade representando o efeito da estricnina na resposta neuronal. Estimulação por toque
suave (estimulação não dolorosa) e estimulação por pressão nóxica. A) Célula com alterações no tipo de resposta à
estimulação, pré-estricnina respondendo somente ao estímulo nóxico e pós-estricnina respondendo a ambos estímulos.
B) Célula respondendo antes da estricnina à estimulação táctil a uma frequência de 1-3 Hz, apresentando um aumento
do nível de resposta para 5-8 Hz pós-estricnina. C) Neurónio que revela uma diminuição do nível da sua resposta à
estimulação táctil após aplicação de estricnina (de 30-35 Hz para 15-25 Hz) retomando o nível inicial após 60 min.
D) Célula sem alterações significativas entre os períodos pré- e pós-estricnina nos níveis de resposta à estimulação.
Bins com 1 s.
de modulação levaram ao aparecimento de um com mecanismos de sensitização com origem
número significativo de neurónios com um au- central induzidos pelo processamento de
mento das respostas aos estímulos inócuos e/ou inputs inócuos e nóxicos (Sivilotti e Woolf,
nóxicos, um aumento da sua actividade espon- 1994; Lin, et al., 1994, 1996; Peng, et al., 1996;
tânea, ou por alterações do seu padrão de acti- Sherman, et al., 1997).
vidade. Através da classificação dos neurónios de
A análise da actividade espontânea permitiu acordo com a sua resposta à estimulação no
constatar a existência de um aumento do nível período controlo e período após estricnina foi
basal de actividade após a administração de possível constatar um elevado número de célu-
estricnina. Trabalhos anteriores mostraram um las NS que alteraram o seu tipo de resposta para
aumento da excitabilidade espinhal aquando da WDR. Estudos desenvolvidos por Sherman, et al.
remoção da inibição espinhal tónica, induzida por demonstraram que células NS do tálamo medial
estricnina (Seltzer, et al., 1991; Sivilotti e Woolf, passam a responder aos estímulos tácteis após
1994; Dickenson, et al., 1997). Outros trabalhos aplicação de estricnina a nível medular (Sher-
mostraram que a activação espinhal dos recep- man, et al., 1997). Estes resultados comprovam
tores glicinérgicos ou GABAérgicos desencadeia o possível envolvimento das vias nociceptivas
uma inibição das respostas dos neurónios do ascendentes e das estruturas talâmicas na ex-
tracto espinhotalámico (STT) aos estímulos nóxi- pressão de doenças de cariz doloroso. Funcio-
cos periféricos (Lin, et al., 1994, 1996). Por outro nando também como uma justificação para o
lado, o modelo inverso de bloqueamento dos facto de inputs inócuos na medula espinhal, po-
receptores glicinérgicos e GABAérgicos resulta derem promover estados de dor associada a
num aumento da actividade de fundo e das res- mecanismos de origem central, nos quais o tála-
postas à estimulação periférica. Esta informação mo medial pode estar envolvido nomeadamente
sugere que a libertação de glicina e GABA pode no processo mediado pela estricnina. Outro fac-
funcionar como um modelador das funções sen- to importante foi o de apenas um pequeno nú- DOR
soriais espinhais. Outros investigadores corre- mero de células com características LT e WDR
lacionam o aumento da actividade espontânea ter modificado o seu padrão de resposta. Na 33