Page 33 Volume 12, Número 4, 2004
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Figura 2. Organograma sumariando as alterações evidenciadas pelas células após a aplicação de estricnina.
Os quadrados de cor branca representam o período pré-aplicação e os de cor cinzenta o período pós-aplicação.
(OFF) Células sem actividade. (NS) Células nociceptivas específicas. (WDR) Células de escala dinâmica larga.
(NR) Células sem resposta à estimulação. (LT) Células de nível baixo.
Os neurónios LT variaram entre 54 e 57 e os NR do histograma de perievento com um bin de 1 ms.
sofreram uma diminuição de 51 para 47. Tal Com o nosso estimulador robótico, o intervalo de
como já foi referido, a aplicação de estricnina latência dos neurónios ficou distribuído entre
induziu um aumento da hiperexcitabilidade dos 60 e 100 ms, com a maioria das células apre-
neurónios espinhais que, em alguns casos, foi sentando um TLR entre os 70 e 85 ms (Fig. 4.).
traduzido por um aumento da actividade espon- Foram consideradas diferenças de TLR entre os
tânea e/ou por um incremento das respostas ao períodos pré- e pós-aplicação de estricnina,
estímulo aplicado. Quando analisado o período quando o valor de latência se revelou ser pelo
0-60 min após estricnina nas células que apre- menos duas vezes superior ao erro padrão
sentavam respostas ao estímulo inócuo e/ou do- quando comparado com o período controlo (pré-
loroso (200 células), foi possível constatar um aplicação de estricnina).
aumento do nível de resposta da maioria das Do grupo de células estudado, um número
células (116 células). Nessas células, 20 au- significativo apresentou uma diminuição do TLR
mentaram as respostas à estimulação inócua ao estímulo após estricnina (27 células em 69,
(Fig. 3B), 15 à estimulação dolorosa e 77 células 39,1%) (Fig. 4B). Este decréscimo variou entre
a ambos tipos de estimulação. Por outro lado, os 0,1 e 16,3 ms, com 17 células apresentando
29 células revelaram uma redução do nível de uma diminuição até 5 ms (Fig. 4D). A diminuição
resposta ao estímulo. Nesse grupo, 4 células dimi- mais significativa ocorreu nos neurónios com va-
nuíram a resposta ao estímulo inócuo (Fig. 3C), lores de latência naive mais elevados. Os neu-
7 ao doloroso e 18 a ambos estímulos. Cinquenta rónios com um aumento do TLR (12 em 69 cé-
e cinco células não apresentaram qualquer alte- lulas, 17,4%) variaram até 5 ms na maioria dos
ração durante o referido período (Fig. 3D). casos (9 células) (Fig. 4C). Trinta neurónios não
apresentaram qualquer alteração no valor TLR
Tempo de latência de resposta (TLR) após aplicação de estricnina.
Um total de 69 células que apresentaram res-
postas precisas à estimulação táctil foram selec- Discussão
cionadas para a análise do tempo de latência Os resultados do presente estudo demonstra-
de resposta (TLR). Este valor corresponde ao ram que a aplicação de estricnina – antagonista
intervalo de tempo entre a aplicação do estímulo do receptor da glicina na medula espinhal –,
táctil pelo estimulador robótico no campo recep- produz uma diminuição do tempo de latência de
tivo de um neurónio e a resposta do mesmo. Os resposta dos neurónios espinhais somatossensi-
valores de TLR foram automaticamente calcula- tivos. O registo de 267 células comprovou tam-
DOR dos utilizando um algoritmo computacional, ca- bém que a aplicação de estricnina é capaz de
paz de detectar o valor médio dos três pontos
modular a actividade espontânea e as respostas
32 mais elevados do primeiro pico aferido através das células à estimulação. Estes mecanismos