Page 11 Volume 18 - N.3 - 2010
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Dor (2010) 18
a longo prazo, a incidência global da dor do mem- Amantadina
bro-fantasma, mas permitiu diminuir a incidência A amantadina é utilizada desde 1976 como
de casos de dor grave . Em estudo observacio- antiviral (Influenza tipo A) e tem também indi-
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nal apresentado por Hayes, et al., associou-se a cação para o tratamento sintomático da doença
menor incidência de dor do membro-fantasma aos de Parkinson. A sua acção como antagonista do
seis meses, com uma diferença numérica relati- NMDAr e a possibilidade de ser administrada
vamente ao grupo-controlo (47 vs 71%) mas es- por via endovenosa com segurança e efeitos
tatisticamente não significativa . A administra- secundários mínimos, confere-lhe um bom po-
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ção preemptiva por via epidural e mantida na tencial clínico.
analgesia pós-operatória (0,03 mg/kg/h durante Quando foi utilizada no tratamento da dor agu-
48 a 72 horas) não se associou a efeito preven- da pós-histerectomia abdominal, não demonstrou
tivo, quando a dor do membro-fantasma foi ava- eficácia analgésica nem capacidade de diminuir
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liada aos 12 meses . Quando foi estudada a sua o consumo de opióides . Na sua administra-
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utilização em doentes já com dor crónica ins- ção no perioperatório de prostatectomia radical
talada, associou-se a redução dos sintomas, (200 mg em duas tomas pré-operatórias e 100 mg
motivando os autores a sugerir o potencial dos em três tomas pós-operatórias) constatou-se uma
antagonistas NMDAr e a necessidade e novos diminuição do consumo pós-operatório de morfi-
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estudos . na sem redução dos efeitos secundários asso-
ciados, uma diminuição da sensibilidade peri-inci-
Artoplastia total da anca sional às 48 horas de pós-operatório (avaliada por
Quando foi administrada por via endovenosa, algometria de pressão) e uma menor incidência
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em bolus pré-incisão (0,5 mg/kg) e mantida em de espasmos vesicais .
perfusão durante 24 horas (0,12 mg/kg/h), redu- Em estudo-piloto sobre a sua utilização na
ziu o consumo de morfina no pós-operatório, mastectomia com esvaziamento axilar (200 mg dia
facilitou a reabilitação e diminuiu a incidência de iniciados na véspera da operação e mantidos
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DCPO aos seis meses de pós-operatório . durante 14 dias), constatou-se que a amantadi-
na não foi eficaz na prevenção da síndrome pós-
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Dextrometorfano mastectomia .
O dextrometorfano é utilizado como agente
antitússico desde 1958, é um análogo da code- Memantina
ína, isómero dextrogiro do levorfanol. Adminis- A memantina, sintetizada em 1968, tem indi-
trado por via oral, intramuscular ou endovenosa, cação actual como opção terapêutica para do-
tem um metabolito farmacologicamente activo, ença de Alzheimer moderada em doentes into-
dextrorfano, produzido por efeito de primeira lerantes aos inibidores das acetilcolinesterases,
passagem hepática. Não tem efeito na analgesia e nas formas graves da doença. Administra-se
preemptiva, mas demonstrou eficácia na analge- por via oral, com uma biodisponibilidade de
sia preventiva, mais evidente quando é administra- 100% e semivida de eliminação de 60 a 80 ho-
do por via endovenosa, possivelmente devido a ras. Dos antagonistas NMDAr é o que apresenta
acção antitolerância induzida pelos opióides 19,41 . maior potência e melhor tolerância (quase au-
No tratamento da dor aguda pós-operatória sência dos efeitos psicomiméticos), o que se
ainda não é possível confirmar a consistência justifica pela afinidade moderada ao NMDAr e
dos seus efeitos analgésicos e de «poupador» por uma cinética de bloqueio que impede a
de opióide, não havendo sugestão para dose ou ocorrência de excesso de antagonismo .
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regimes terapêuticos . Os estudos sobre a utilização da memantina
Em estudo realizado sobre o tratamento da no tratamento da dor incidiram principalmente
dor crónica do membro-fantasma (amputação por sobre quadros de dor neuropática instituídos e, até
doença neoplásica e não-neoplásica), o dextro- recentemente, não permitiam estabelecer orien-
metorfano foi administrado em doses diárias tações para a utilização de um fármaco com
entre 120 a 270 mg, permitindo atenuar satisfa- bom perfil de segurança e potência. Em estudo
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toriamente a dor . A administração de uma dose randomizado com 15 doentes que apresenta-
elevada através de toma única em doentes com vam dor do membro-fantasma crónica (mais de
dor crónica neuropática de origem traumática um ano de evolução), administrada em dose
associou-se a um efeito analgésico, ressalvan- de 20 mg/dia, não demonstrou eficácia na diminui-
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do os autores que a aplicabilidade clínica ficará ção da dor ou alodinia . Em novo estudo, com
limitada pela ocorrência, ou não, de efeitos uma amostra maior (36 doentes com dor crónica
secundários indesejáveis . A sua administra- do membro fantasma com duração superior a
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ção em toma única pré-operatória (150 mg por um ano), voltou a não demonstrar qualquer be-
via oral, uma hora antes do início da cirurgia), nefício na redução da dor crónica, apesar de ter
não diminuiu, aos três meses, a área de hipe- sido utilizada uma dose superior (30 mg/dia) .
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DOR ralgesia envolvendo a zona da incisão cirúrgi- Em estudo semelhante, Wiech, et al. obtiveram
resultados análogos . Contudo, em estudo recen-
ca e pesquisada com o teste de estimulação
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10 de von Frey . te randomizado e controlado, a administração de
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