Page 10 Volume 18 - N.3 - 2010
P. 10
T. Taleço, et al.: Antagonistas do Receptor N-metil-D-aspartato na Abordagem da Dor Crónica Pós-operatória
analgésico adjuvante pode ser administrada por analgesia pós-operatória, com diminuição da dor
diferentes vias (endovenosa, oral, subcutânea, e do consumo de opióides constatou-se igual-
transdérmica, epidural e intratecal, sublingual, mente quando foi administrada por outras vias,
intra-articular, rectal e nasal), na dor aguda e nomeadamente: epidural, transdérmica, infiltra-
48
crónica, pós-operatória ou não . Neste contexto ção subcutânea e periamigdalina 54,60-63 .
utilizam-se doses subanestésicas, definidas A importância da sua acção reflecte-se não só
para a via endovenosa, epidural e subcutânea na fase aguda da dor pós-operatória mas, tam-
como bolus < 1 mg/kg ou perfusão 0,1-1 mg/kg/h, bém, pela capacidade de diminuir a incidência da
até um máximo de 700 mg em 24 horas (dose DCPO. Foram publicados vários estudos que têm
máxima reportada de 3.600 mg/24 h), para a via procurado demonstrar este facto em cirurgias ha-
oral e sublingual 0,5 mg/kg a cada seis horas até bitualmente associadas a risco aumentado.
máximo de 200 mg/dia (dose máxima diária re-
portada 800 mg/dia), e 0,2-0,4 mg/kg para a S(+) Toracotomia
cetamina por via intranasal 34,49-53 . Dos efeitos A administração conjunta de analgesia epidu-
secundários descritos, as alterações psicocog- ral com ropivacaína e morfina (que se manteve
nitivas são as mais frequentes, podendo ocorrer durante 48 horas) e de uma perfusão de ceta-
em cerca de 10% dos doentes . Por ordem mina em dose subanestésica (0,05 mg/kg/h que
54
decrescente de incidência descreveram-se so- se manteve durante 72 horas) reduziu a gravida-
nhos agradáveis, alucinações, alterações visu- de da dor pós-operatória relativamente ao con-
55
ais e pesadelos . No doente acordado podem trolo, mantendo-se estes resultados três meses
ser prevenidas mantendo um ambiente calmo e após a cirurgia . Dualé, et al., não detectaram
64
com pouca luz ou recorrendo à administração benefício na incidência de dor crónica aos qua-
de benzodiazepinas. tro meses de pós-operatório com a utilização pe-
É utilizada na dor crónica não-oncológica, no- rioperatória de cetamina (1 mg/kg na indução,
meadamente na dor neuropática (nas crises de seguida de perfusão intra-operatória a 1 mg/kg/h
agudização, na dor central, na síndrome de dor e perfusão pós-operatória de 24 h com 1 mg/kg),
regional complexa, na nevralgia pós-herpética e em combinação com ropivacaína intrapleural
dor orofacial), na fibromialgia e na dor isquémica. (bolus único), patient controled analgesia (PCA)
Os doentes beneficiam do seu efeito anti-hipe- de morfina, paracetamol e nefopam .
65
ralgesia e da redução no consumo de opióides
(efeito poupador associado a acção anti-OIH e
antitolerância). Bell, em revisão da evidência Mastectomia
existente, salienta que, de facto, existe indica- Na mastectomia, a administração perioperatória
ção para utilização da cetamina neste tipo de (indução e perfusão intra-operatória a 0,25 mg/kg/h)
dor, mas em tratamentos com duração curta . não se associou a diminuição da incidência da
56
Na dor crónica oncológica, apesar de estar in- síndrome pós-mastectomia .
66
cluído na lista da Organização Mundial da Saú-
de (OMS) como fármaco essencial na dor refrac- Cirurgia abdominal
tária e de ser sido estudado e administrado em Em cirurgia de ressecção do cólon por neo-
diferentes situações clínicas, em revisão Cochra- plasia, a administração endovenosa de cetami-
ne constata-se ausência de evidência estabele- na como analgésico adjuvante (iniciada antes da
cida que suporte a sua utilização 46,48,57 . incisão através de bolus 0,5 mg/kg e perfusão a
No tratamento da dor pós-operatória, aguda 0,25 mg/kg/h, suspensa no final da cirurgia) em
ou crónica, a administração mais eficaz é aque- esquema de analgesia multimodal (anestésicos
la que se inicia e se mantém no período perio- locais, clonidina e opióides por via epidural ou
peratório, enquanto se mantiverem os estímulos endovenosa), constatou-se um efeito preventivo
nociceptivos (efeito analgésico «preventivo»). Em da DCPO, com diminuição da dor residual a um
cirurgias major com anestesia geral, a sua ad- ano nos grupos que receberam perfusão epidu-
ministração por via endovenosa é muito benéfi- ral no perioperatório, particularmente no grupo
ca, em particular quando não se utilizam técnicas em que esta foi iniciada antes da incisão cirúr-
locorregionais. Na optimização da sua utilização gica . Quando foi avaliada a sua administração
67
devem ser consideradas outras variáveis, tais na histerectomia, verificou-se que permitiu um
como: a dose, o esquema posológico, o tipo de controlo mais eficaz da dor aguda pós-operató-
cirurgia e a gravidade de dor antecipada. Em ar- ria e menor consumo de opióides, mas não apre-
tigos de revisão de Himmelseher, et al. e de Ber- sentou efeito preventivo da DCPO aos seis me-
ti, et al. são sugeridos esquemas posológicos para ses, contrariamente ao outro fármaco em estudo,
administração endovenosa da cetamina como ad- a gabapentina .
68
juvante na anestesia geral 58,59 . Em doentes com
dor pré-existente, com consumo pré-operatório de
opióides e tolerância estabelecida, existe evidên- Amputação
cia que a cetamina não só diminui a dor pós- A administração endovenosa de cetamina (bó- DOR
operatória como também pode reduzir o consu- lus seguido de perfusão, iniciados antes da in-
mo de opióides . Este efeito de optimização da cisão e mantida durante 72 horas) não alterou, 9
42