Page 5 Volume 18 - N.3 - 2010
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Dor (2010) 18
Editorial
Silvia Vaz Serra
o reler os artigos que completam este vo- «A cultura não é o lugar de revelação
lume, não pude deixar de me questionar, alguma, é apenas o lugar onde todas as
Auma vez mais, sobre a importância da par- revelações são examinadas e discutidas
tilha de experiências e conhecimentos, da trans- sem fim. Para que cada um de nós possa
versalidade e das implicações que o fenómeno viver dessa discussão infinita do mundo e de
dor, global (neste mundo cada vez mais globa- si mesmo.»
lizado e individualizado), tem no quotidiano de Jorge de Sena.
todos nós.
Não consegui ficar indiferente ao muito que se E que dizer da importância da dança, como
faz de forma discreta e anónima, mas efectiva, forma de melhorar a qualidade de vida de um
na organização Douleur sans Frontières – uma doente com dor?
participação cívica, frutuosa, plena de objectivos
concretizáveis e estruturantes. Os diferentes olhares que a dor desperta fi-
Quem não conhece o ditado popular «prevenir cam bem patentes e visíveis neste volume, mas
é o melhor remédio»? Neste volume poderei dizer muitos há (não tenho qualquer dúvida) que ain-
que este dito foi abordado, explorado de vários da não se traduziram em letras, palavras, texto
ângulos, várias perspectivas. A importância da e contexto mas que esta vossa, nossa revista
prevenção da dor crónica pós-operatória, entida- quer registar.
de tão esquecida quão menosprezada… Remé-
dio, o que é? Quantos dos nossos doentes não «Como palavra comum, e mais do que ela,
tomam «remédios» desconhecendo que, tam- a escrita é um risco total. De uma maneira
bém, estão a ser medicados? Nesta era do geral ninguém a lerá como o seu autor a con-
retorno à essência do conhecimento, à «pureza cebeu. Ela será ocasião inevitável de desen-
e simplicidade» dos conteúdos (mesmo farmaco- tendimento, desatenção, porventura irritação ou
lógicos), é fundamental possuir o conhecimento desprezo, mas igualmente de comunhão pos-
das interacções de fármacos com as plantas, sível, de entusiasmo, sobretudo de veículo para
que têm tanto de banais como de ancestrais o transporte do próprio sonho.»
efeitos terapêuticos. Eduardo Lourenço.
DOR
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