Page 36 Volume 19 - N2 - 2011
P. 36



T. Ferreira: Dor Crónica Não-Oncológica: a Dificuldade no Controlo Álgico
em dor crónica não-oncológica, são de curta uma abordagem multidisciplinar, da experiência
16
duração . Estes fármacos poderão estar in- dos médicos e toda uma equipa familiarizada
dicados em situações de dor crónica não- com a técnica.
oncológica, não sendo o tratamento da dor o Se considerarmos que «...Where life expec-
único objetivo, mas também obter uma me- tancy is greater than 3 months, a fully implan-
23
lhoria da qualidade de vida e da capacidade ted pump may be more economical» , tere-
funcional 17-19 . mos sempre que efetuar uma avaliação © Permanyer Portugal 2011
A administração continuada de opióides multidisciplinar, com apoio da Psicologia, per-
sem obter um benefício claro, evidente e repro- mitindo uma seleção cuidada destes doentes,
duzível, é obsoleta, desprovida de sentido . como um pré-requisito necessário, quando for
15
Para evitar o absurdo potencial destas situa- ponderado o recurso a estes procedimentos,
ções, é necessário uma monitorização regular cuja inclusão e inserção na escada analgésica
da eficácia destes fármacos no controlo da dor é para Van Buyten JP «Placing these techni-
e melhoria da funcionalidade, da incidência e ques within the WHO analgesic ladder is very
24
importância dos efeitos secundários, da adesão difficult» .
à terapêutica e na deteção dos sinais indicativos É indispensável uma monitorização periódica
de tolerância, dependência e/ou adição. e uma avaliação regular dos efeitos da terapêu-
Não existirá atualmente evidência científica tica e do estado clínico do doente que resultam
suficiente para afirmar que diferentes opióides numa melhoria do tratamento da dor e numa
de longa duração estejam associados a diferen- redução dos efeitos secundários direta ou indi-
20
tes níveis de eficácia ou de perfis de segurança , retamente relacionados com esta 25,26 .
sendo a seleção do fármaco a prescrever de- A dor crónica não resulta apenas dos pro-
pendente da situação clínica e da experiência cessos neurobiológicos de nocicepção, mas
do médico. é também influenciada por fatores psicológi-
Os opióides intratecais só devem ser utiliza- cos e sociais , existindo evidência que a efi-
27
dos quando a terapêutica oral ou sistémica com cácia analgésica dos opióides, inicialmente
posologias adequadas é insuficiente, associada boa, não é sempre mantida durante a terapêu-
com efeitos secundários muito importantes, sen- tica continuada, de longa duração destes fár-
do sempre precedida de provas-teste. macos .
28
A morfina é indiscutivelmente o fármaco pa- Por todos estes motivos, acreditamos que «An
drão. Os agonistas α anestésicos locais, baclo- integrated biopsycho-social approach is more
2,
3
feno, ziconotido, poderão ser administrados iso- appropriated for patients with chronic pain» e
lados ou em associação com os opióides que «Newer technologies may influence a relati-
espinais. ve shift in practice from technology-focused care
Apesar de ser frequente o recurso ao trata- to patient-centered care» .
29
mento destes doentes com perfusões subarac-
noideias, não podemos obviar e temos que pon- Bibliografia
derar que «This systematic review illustrates Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação
Level II-3 or Level III (limited) evidence for intra- 1. Merskey H. Pain terms: a list with definitions and notes of usage.
Pain. 1979;6:249-52.
thecal infusion systems for long-term relief in 2. Merskey H, Bogduk N, eds. Classification of Chronic Pain: Descrip-
chronic non-cancer pain» . tions of Chronic Pain Syndromes and Definitions of Pain Terms. 2. a
21
ed. Seattle, WA: IASP Press; 1994.
Os doentes propostos para técnicas invasivas 3. Justins D, Siemaszko O. Pain 2002 – an Update Review: Re-
deverão ser alvo de uma seleção criteriosa. Es- fresher Course Syllabus. Giambardino MA, ed. Seattle: IASP
tas deverão ser eficazes e adequadas, conside- Press; 2002.
rando o seu custo/benefício, tendo em atenção 4. Breivik H, Collett B, Ventafridda V, Cohen R, Gallacher D. Survey of
chronic pain in Europe. Prevalence, impact on daily life, and treat-
as suas indicações, uso e prática clínica, pon- ment. Eur J Pain. 2006;10:287-333.
derando as suas eventuais ou possíveis compli- 5. Brennan B, Cousins MJ. Pain: Clin Updates. 2004;XII(5).
cações, definindo sempre previamente o rácio 6. Azevedo L. Estudo de Prevalência da Dor Crónica na População
aceitável do risco/benefício de uma intervenção. Portuguesa. Relatório parcial de resultados. Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto; 2007. In press.
Não será um aforismo, uma questão de semân- 7. Miró J, Paredes S, Rull M, et al. Pain in older adults: A prevalence
tica, nem uma simples questão de prudência, a study in the Mediterranean region of Catalonia. Eur J Pain.
2007;11:83-92.
aplicação na prática clínica do conceito «It 8. Hicks NR. Some observations on attempts to measure appropriate-
would appear inappropriate to use invasive tre- ness of care. BMJ. 1994;309:730-3.
atments that have potentially harmful side effects 9. Kendall NAS, Linton S, Main CJ. Guide to Assessing Psychological
if the clinical conditions does not warrant taking Yellow Flags in Acute Low Back Pain: Risks factors for long term
disability and work loss. Wellington, NZ: Accident Rehabilitation and
such risk» . Compensation Insurance Corporation of New Zealand and the Na-
22
Nestas técnicas, a avaliação micro e macroe- tional Health Committee; 1997.
conómica é essencial para manter os custos 10. White PF, Kehlet H. Improving pain management: are we jumping
from the frying pan into the fire? Anesth Analg. 2007;105(1):10-2.
controlados, maximizar a rentabilidade dos pro- 11. Harden RN. Chronic pain and opiates: a call for moderation. Arch
cedimentos, porque, apesar do seu elevado Phys Med Rehabil. 2008;89 Suppl 1:72-6.
custo inicial, este são rentáveis a longo prazo. 12. Loder E. Who will prescribe? A proposal for specialized opioid DOR
management clinics. Pain Practice. 2003;3:218-22.
Os melhores resultados obtidos com aumento 13. Castro-Lopes J, ed. Plano Nacional de Luta Contra a Dor. Lisboa:
da eficácia em relação aos custos resultam de Direção-Geral da Saúde; 2001. 35
   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41