Page 5 Volume 19 - N2 - 2011
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Editorial
Sílvia Vaz Serra © Permanyer Portugal 2011
sempre penoso retomar os trabalhos de- trabalho, exigência e rigor, aliados a um espírito
pois da época estival (este ano pouco crítico e ousado, se pode fazer a diferença.
É digna desse nome). O setembro parece
mais promissor… «É uma tolice desculpar um falhado com argu-
É tempo de rever o que foi feito e o que ficou mentos de meio, época, saúde, idade, etc. O ver-
pendente, projetado, interrompido pelas pausas dadeiro triunfador cria as condições da sua realiza-
alheias, ou não. ção. Que se importa a gente com as doenças de
o
Este é o 2. volume de 2011, muito do atraso foi Beethoven, e que pesam elas na sua obra? A na-
recuperado – estamos todos no bom caminho. tureza, quando dá génio, dá forças, tempo e cora-
gem para vencer todos os obstáculos que o não
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«O que é bonito neste mundo, e anima, é ver deixem desabrochar. Não há malogrados…» .
que na vindima de cada sonho fica a cepa a
sonhar outra aventura. E que a doçura que não Neste volume politemático e multidisciplinar,
se prova se transfigura noutra doçura muito mais são abordados assuntos tão díspares como a sín-
pura e muito mais nova» . drome das pernas inquietas, essa entidade não
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totalmente compreendida e subdiagnosticada na
A revista Dor vai publicar, já no próximo volume, prática clínica; o estudo da velocidade de condu-
as Normas de Orientação Clínica para a Dor Neu- ção como possível critério minor/indicador no diag-
ropática Localizada (elaboradas no Centro de nóstico da fibromialgia; o funcionamento do pla-
Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da cebo e a polémica utilização de um fármaco
Faculdade de Medicina da Universidade de Lis- unicamente como placebo; as características
boa, sob a coordenação do Professor Doutor peculiares da metadona que a colocam como
Vaz Carneiro). Para além da utilidade e pertinên- alternativa no controlo de síndromes álgicas
cia das mesmas (que contribui para a transmissão complexas até à discussão daquele caso, difícil
e divulgação do «bem fazer»), é de assinalar o (quem não os tem…) em controlar a dor. Des-
caráter precursor e científico do mesmo. pertei a curiosidade? Não vai ficar defraudado…
Este ano será entregue o prémio Revista Dor/ uma boa troca de ideias é sempre salutar.
Bene, que premeia o melhor artigo de Ciências Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação
Básicas e o melhor artigo Clínico em Dor, publi- «Não há maneira. Por mais boa vontade que
cados no ano de 2010 na nossa revista. Para tenham todos, uma discussão nesta santa terra
além de ser mais um incentivo à publicação portuguesa acaba sempre aos berros e aos in-
científica, assinala a importância da nossa revis- sultos. Ninguém é capaz de expor as suas razões
ta como veículo de transmissão e partilha de sem a convicção de que diz a última palavra. E
conhecimento. a desgraça é que a esta presunção do espírito
se junta ainda a nossa velha tendência apostó-
«Recomeça... se puderes, sem angústia e sem lica, que onde sente um náufrago tem de o salvar.
pressa e os passos que deres, nesse caminho O resultado é tornar-se impossível qualquer co-
duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não laboração nas ideias, o alargamento da cultura
alcances não descanses, de nenhum fruto quei- e de gosto, e dar-se uma trágica concentração
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ras só metade» . de tudo na mesquinhez do individual» .
Bem, todas estas notas (francamente positi- Até breve.
vas) já foram apontadas pelo nosso presidente,
mas o que gostaria de salientar é que o esforço Bibliografia
de todos tem produzido frutos. Neste mundo ins-
tável, conturbado e inquietante (assim como o 1. Torga M.
2. Torga M. Diário (1945).
país…), a única certeza que temos é que só com 3. Torga M. Diário (1940).
DOR
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