Page 8 Volume 19 - N2 - 2011
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A. Cunha, et al.: Síndrome das Pernas Inquietas Secundário: Revisão a Propósito de um Caso Clínico
AVC isquémico em doente amputado (fase aguda sem intercorrências)
Fase aguda Transferido para internamento SMFR por sequelas de hemiparesina direita
Início de queixas de movimentos involuntários dos membros inferiores, mais © Permanyer Portugal 2011
intensas no membro amputado e de predomínio nocturno que impediam o sono
Fase sintomática
Diminuição dos níveis de atenção e eficiência nos tratamentos com
fadiga precoce, levando a consequente mau rendimento nas áreas
terapêuticas com atraso da evolução funcional esperada
Fase recuperação Diagnóstico clínico de SPI secundário
→ instituição de tratamento com boa resposta
Regreso ao normal desenrolar do programa de reabilitação,
permitindo retomar a evolução funcional esperada
Figura 1. Resumo da evolução do caso clínico.
diagnóstico e propôs avaliação da cinética do encontra-se uma história familiar, sendo que,
ferro (que foi posteriormente realizada e sem maioritariamente, se trata de um padrão autos-
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alterações aparentes) e introdução de medidas sómico dominante . Vários genes foram demons-
de higiene do sono e terapêutica com ropinirol trados como estando associados com a SPI,
(aumento gradual de 0,25 µg 3/dia) mas nenhum deles aparenta estar directamente
Apresentou evolução favorável durante o inter- ligado quer ao sistema dopaminérgico quer à
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namento, com alta hospitalar à semana 6. Boa homeostasia do ferro . Estudos em doentes com
resposta aos agonistas dopaminérgicos com re- SPI demonstraram que a nível do SNC os índices
toma da normal evolução do programa de rea- de ferro intracelular estavam reduzidos secunda-
bilitação. Boa evolução motora (à data de alta, riamente a uma alteração dos mecanismos que
com força muscular do membro superior: direi- regulam o influxo/efluxo de ferro das células, apon-
to proximal 4 em 5 e distal 3 em 5, membro tando deste modo para uma alteração da regula-
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inferior direito – 5 em 5). A nível funcional a ção da homeostasia do ferro a nível do SNC .
necessitar de supervisão para a alimentação, hi- O sistema dopaminérgico está também implica- Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação
giene pessoal e vestuário. Deambulava em cadei- do nesta síndrome apesar do seu mecanismo
ra de rodas com necessidade de supervisão para não estar totalmente compreendido . Não há evi-
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marcha nas barras e nas transferências. Aguar- dências sugestivas de alterações celulares ou
dava nova prótese do membro inferior direito. na estrutura da dopamina. Aliás, um estudo em
doentes com SPI não tratada sugere até que
Seguimento em regime de ambulatório possa haver um aumento da renovação de do-
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Na consulta de reavaliação 1 mês após alta pamina . É, no entanto, consensual que a admi-
do SMFR, apresentava melhoria geral do estado nistração de agonistas dopaminérgicos leva à
clínico, com discreta evolução da força muscular melhoria da sintomatologia tanto na apresenta-
no membro superior direito. Funcionalmente ção aguda como a longo prazo, contrariamente
com capacidade para marcha sob supervisão com aos antagonistas dopaminérgicos que podem
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uma canadiana e autónomo nas AVD e transfe- agravar a clínica . Está também documentada
rências. Mantinha-se a aguardar prótese do mem- uma interacção entre o sistema dopaminérgico e
bro inferior direito. Sem queixas de movimentos in- a cinética do ferro. O ferro, ao actuar como co-
voluntários dos membros inferiores com a medicação factor na formação de tirosina hidroxilase, pode
instituída (ropinirol 0,25 + 0,25 + 1,25 µg) (Fig. 1). alterar a disponibilidade dopaminérgica visto ser
este o passo limitante na formação de dopamina.
Adicionalmente, os quelantes de ferro em estu-
Discussão dos animais mostraram diminuir a expressão e
A fisiopatologia do SPI é ainda incerta, sendo actividade de transportadores de dopamina .
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que, actualmente, a hipótese mais aceite é a Outras vias como a dos opióides ou dos siste-
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do possível envolvimento de um mecanismo mas aferentes foram também implicadas como
genético associado com alterações centrais apresentando alterações em doentes com SPI . DOR
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subcorticais das vias dopaminérgicas e da A SPI pode ser classificada como primária ou
homeostasia do ferro . Em 40-60% dos doentes como secundária caso o doente apresente uma 7
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