Page 43 Volume 20 - N1 - 2012
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Dor (2012) 20
Catastrofizaçãodador
© Permanyer Portugal 2012
a b
(a = 0,12, SE = 0,01, p < 0,0001) (b = 0,89, SE = 0,27, p = 0,001)
Ansiedadepré- Dorpós-
cirúrgica c’ cirúrgica
(c’ = 0,09, SE = 0,06; ns)
Figura 1. Representação gráfica do modelo de mediação. Note-se que o efeito total (peso c [c = 0,19, SE = 0,05, p = 0,0001])
consiste num efeito direto (peso c’ [c’ = 0,09, SE = 0,06], n.s.) e num efeito indireto (peso ab (ab = 0,11, SE = 0,03, sig.]).
Este foi um estudo prospetivo, realizado entre realização simultânea de análises de regressão hie-
março de 2009 e dezembro de 2010. Uma amos- rárquica logística e linear para investigar os predi-
tra de 195 mulheres sujeitas a histerectomia foi tores de dor aguda pós-cirúrgica, o que contribuiu
avaliada em dois momentos: 24 horas antes (T1) para reforçar a robustez do modelo encontrado. Em
e 48 horas depois (T2) da cirurgia. Antes da cirurgia segundo lugar, e dado que os resultados das aná-
foi-lhes administrada uma bateria de instrumentos lises de regressão apontavam para um potencial
de avaliação constituída pelos seguintes questioná- efeito de mediação entre três variáveis, os autores
rios: questionário sociodemográfico e de dados recorreram às técnicas de bootstrapping 32,33 de
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clínicos; Brief Pain Inventory – short form (BPI-SF) , Preacher e Hayes para testar os efeitos indire-
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aplicado para avaliar a experiência de dor nas mu- tos, tendo feito uma distinção entre os vários
lheres com dor pré-cirúrgica; Hospital Anxiety and efeitos e seus pesos correspondentes (Fig. 1).
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Depression Scale (HADS) para a avaliação dos Este artigo destaca-se pela importância e impli-
níveis de ansiedade e depressão pré-cirúrgicos; e cação clínica dos seus resultados. Em ambas as
«Escala de Catastrofização da Dor» do Coping análises de regressão hierárquica (logística e line-
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Strategies Questionnaire – Revised Form (CSQ-R) ar), foram identificados os seguintes fatores de
para avaliar o grau de catastrofização da dor. risco para a gravidade e intensidade da dor pós-
Adicionalmente, 48 horas depois da cirurgia as cirúrgica: idade (mulheres mais novas com maior
mulheres foram avaliadas relativamente à inten- probabilidade de reportarem mais dor); dor pré-
sidade média e máxima de dor sentida nas últi- via, quer relacionada com a cirurgia, quer devido
mas 48 horas pós-cirurgia. A avaliação foi feita a outras causas; ansiedade pré-cirúrgica e catas-
através de uma escala de classificação numérica trofização da dor. Adicionalmente, a análise con-
(numerical rating scale [NRS]) cotada de 0 a 10, junta de diferentes tipo de variáveis permitiu cons- Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
parte do BPI. O alívio proporcionado pela adminis- tatar que, curiosamente, as variáveis clínicas
tração de analgésicos foi também avaliado. Parale- relacionadas com a cirurgia, a anestesia e a anal-
lamente, foi recolhida informação acerca duma va- gesia, demonstraram não exercer influência signi-
riedade de dados clínicos relacionados com a ficativa na experiência de dor pós-cirúrgica. Este
cirurgia, a anestesia e a analgesia, tais como: tipo facto vem reforçar a relevância dos fatores psico-
de histerectomia, peso e altura do útero, tipo de lógicos na experiência de dor pós-cirúrgica. A
anestesia, estatuto American Society of Anesthesio- identificação da idade e da dor prévia como fato-
logists (ASA) (classificação do estado físico segun- res de risco para a gravidade e intensidade da
do os critérios da ASA), tipo de analgesia e consu- dor pós-cirúrgica vem replicar os resultados de
mo de analgesia de resgate, consumo de outros estudos, numa variedade de cirurgias 34-46 .
psicofármacos e número de dias de internamento. No que concerne aos fatores psicológicos, vá-
Em termos estatístisticos este artigo apresenta rios estudos têm demonstrado que a ansiedade
duas características que vale a pena salientar. pré-cirúrgica 12,16,19,40,47 e a catastrofização da
Em primeiro lugar, a variável de resultado «inten- dor 48-53 constituem dois dos mais importantes
sidade maxima da dor pós-cirúrgica nas primei- preditores da gravidade e intensidade da dor
ras 48 horas pós-cirurgia» foi analisada quer pós-cirúrgica numa variedade de procedimentos
como variável dicotómica (gravidade da dor), cirúrgicos. Contudo, poucos estudos incluíram e
quer como variável contínua (intensidade da dor; exploraram simultaneamente as duas variáveis
NRS 0-10). Relativamente à variável dicotómica, como potenciais preditoras da experiência de dor
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as mulheres foram classificadas em dois grupos: aguda pós-cirúrgica. Granot e Ferber já tinham
ausência de dor ou dor leve (NRS ≤ 3 quando focado esta relação específica entre a ansiedade
questionadas acerca da «intensidade de dor pré-cirúrgica, a catastrofização da dor e a dor pós-
DOR máxima» nas ultimas 48 horas) e dor moderada cirúrgica. Os resultados indicaram que a catastro-
a grave (NRS ≥ 4 para «intensidade de dor
fização da dor era um preditor da dor pós-cirúrgi-
42 máxima»). Esta opção estatística possibilitou a ca após a ansiedade pré-cirúrgica ser controlada.