Page 7 Volume 25 - N2 - 2017
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Dor (2017) 25

Dor Crónica, Analgésicos Opioides


e Insuficiência Hepática – que Opções?


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1
Joana Azevedo , Rita Regufe , Tiago Taleço e João Silva Duarte 3
2




Resumo
1
Estima-se que, nos Estados Unidos da América (EUA) existam 100 milhões de indivíduos com dor . Cerca de
37% das 44.000 mortes por overdose reportadas em 2013 corresponderam a formulações terapêuticas de
opióides . Entre os fatores de risco para sobredosagem destacam-se a insuficiência hepática e renal, uma
2
vez que a farmacocinética e a farmacodinâmica dos opioides se encontram afetadas .
2
O tratamento da dor é um desafio nos doentes com cirrose, sendo frequente a ocorrência de reações adver-
3
sas desencadeadas pelos analgésicos . Não existem marcadores endógenos nem orientações específicas
para determinar a gravidade da insuficiência hepática, o que dificulta o cálculo da dosagem de fármaco a
administrar . A dificuldade de metabolização do fármaco correlaciona-se com o grau de progressão da
3,4
disfunção hepática, mas o ajuste da dose e outras precauções são, geralmente, apenas relevantes na doen-
ça hepática severa . Os ajustes posológicos que habitualmente se fazem são a redução da dose inicial, o
3,5
aumento do intervalo entre as tomas e monitorização contínua em doentes selecionados 4,6,7 .
Palavras-chave: Analgésicos opioides. Insuficiência hepática. Cirrose.


Abstract
It is estimated that in the United States there are 100 million individuals with pain . Almost 37% of the 44.000
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overdose deaths reported in 2013 corresponded to therapeutic formulations of opioids . Renal and hepatic
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impairment are prominent among the risk factors for overdose, since the pharmacokinetics and pharmacody-
2
namics of opioids are affected .
3
Pain management is a challenge in patients with cirrhosis, with frequent adverse reactions due to analgesics .
There are no endogenous markers or specific guidelines for determining the severity of hepatic impairment,
3,4
which makes it difficult to calculate the dosage of drug to be administered . The difficulty in metabolizing
the drug is related to the degree of progression of hepatic dysfunction, but dose adjustment and other pre-
cautions are generally only relevant in severe hepatic disease . The dosage adjustments that are usually
3,5
made are the reduction of the initial dose, the increase in the interval between doses and continuous moni-
toring in selected patients 4,6,7 . (Dor. 2017;25(4):13-7)
Corresponding author: Joana Azevedo, joana.raminhos@gmail.com
Key words: Opioid analgesics. Liver failure. Cirrhosis.





Introdução idosos superior a 40%. Os analgésicos opioides
Estima-se que na população americana exis- constituem a classe farmacológica mais prescrita
tam 100 milhões de indivíduos com dor . Pelo nos Estados Unidos da América (EUA), com um
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menos 30% da população sofre de dor aguda ou total de 245 milhões de prescrições em 2014 e
crónica, sendo a prevalência desta última nos em 3 a 4% da população adulta no contexto de
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terapêutica a longo prazo . O Canadá é o segun-
do maior prescritor de opioides . Em Portugal
8
estima-se que o consumo de opioides, entre 2007
e 2009, ronde as 2000 doses diárias por milhão
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1 Interna de Formação Específica em Anestesiologia de habitantes, 20 vezes menos do que nos EUA .
2 Assistente Graduado de Anestesiologia Cerca de 37% das 44.000 mortes por sobre-
3 Assistente Graduado Sénior de Anestesiologia dosagem reportadas em 2013 resultaram da uti-
e Diretor do Serviço de Anestesiologia 1 lização de formulações terapêuticas de opioi-
Centro Hospitalar de Setúbal 2 DOR
Setúbal, Portugal des . Os fatores de risco associados podem ser
E-mail: joana.raminhos@gmail.com divididos de acordo com o opioide (tipo, dose, 13
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