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Se a opção for uma anestesia geral, é consensual que seja feita com uma
indução sequencial rápida:
– pré-oxigenação com O a 100% durante 3 min (ou 3 inspirações profundas)*;
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– indução rápida da inconsciência (com tiopental 4-5 mg/kg ou propofol
1,5-2 g/kg)*;
– relaxante de acção rápida – a succinilcolina* 1,5-2 mg/kg normalmente
limitado a 100 mg;
– pressão cricóide (manobra de Sellick) assim que comece a perda de
consciência executada por alguém experiente* 40-41 ;
– intubação e insuflação imediata do cuff*;
– remoção da pressão cricóide e verificação da boa colocação do tubo*;
Não esquecer:
• as grávidas, devido à diminuição da sua capacidade residual funcional
e ao maior consumo de oxigénio, iniciam hipoxia aos 3 min (em vez dos
8 das não grávidas);
• a incidência duma intubação falhada na grávida (1/250) (*4/1.000) é 10
vezes maior que na população em geral;
• embora haja já alguma experiência no uso de máscaras laríngeas em
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cesarianas programadas estas não são propostas pela maioria da litera-
tura mundial como 1ª opção de intubação na cesariana de emergência;
• se for possível a ventilação por máscara, a máscara laríngea é a 1ª
opção alternativa à intubação falhada;
• a traqueostomia/cricotiroidotomia de emergência são soluções que
requerem kits e exercícios de “crise” actualizados;
• os endoscópios de fibra óptica, além de não existirem em todo o lado,
também exigem prática de utilização.
Este é, evidentemente, o pior cenário possível. Admitindo que acontece
sem que nenhuma destas alternativas possa solucionar o problema (por não
estarem disponíveis no momento ou por não haver suficiente prática para a sua
execução), podemos deparar com o pior dilema possível para o anestesista.
Caso se trate duma cesariana emergente, com sofrimento fetal agudo, com
um anestesista experiente, é lícito fazer uma anestesia sob máscara facial,
com pressão cricóide feita por alguém experiente, até ao acordar.
No entanto, é também lícito optar pela segurança materna em detrimento
do feto e não arriscar a continuação duma anestesia geral sem uma protecção
eficaz da via aérea.
Esta visão catastrófica foi, em grande parte, e como já se referiu, responsá-
vel pela popularidade das técnicas locorregionais, mas não devemos esquecer
nunca o lugar da anestesia geral e o perigo que constitui ela cair em desuso. Nos
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países em que isso aconteceu o número de acidentes com anestesia geral é
incomparavelmente maior que naqueles que mantiveram a sua prática regular.
Para a baixa de popularidade desta técnica não podemos também deixar
de considerar que:
– a passagem dos agentes anestésicos através da placenta para a corrente
sanguínea fetal provoca um grau variável de sedação no recém-nascido;
– o uso de uma anestesia mais superficial para evitar a sedação fetal levou
a uma grande frequência de fenómenos de awareness, que se tornaram
uma das mais frequentes razões de processos legais de queixa materna;
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