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Na MJD, num total de 1.778 cesarianas em 2002, houve uma taxa de
complicações de 4% – 75 casos – de gravidade variável. Directamente ligadas
à anestesia geral estiveram implicados 69% dos casos – dos quais 4 intubações
impossíveis, que obrigaram a alteração de técnica sem complicações posteri-
ores e 1 aspiração de vómito, também com evolução benigna. Relacionadas
com as locorregionais estiveram 29% das complicações, maioritariamente
vómitos e hipotensão, todas de carácter temporário e benigno, o que, aliás, faz
com que em muitos centros não sejam considerados como uma complicação
mas sim um “inconveniente”.
Embora qualquer técnica anestésica seja susceptível de complicações, é
quase consensual que as mais frequentemente relacionadas com a anestesia
locorregional (hipotensão, náuseas/vómitos) são menos graves que as associ-
adas à anestesia geral (intubação impossível, aspiração de vómito).
A aspiração pulmonar de conteudo gástrico continua a ser um dos quadros
mais temidos pelos anestesistas, cuja gravidade é por si só capaz de os fazer
optar por uma técnica locorregional.
Os cuidados para minimizar os riscos de aspiração não devem, no entanto,
estar confinados exclusivamente às candidatas a uma anestesia geral, pois
convem não esquecer que, acidentalmente, qualquer locorregional pode aca-
bar em geral ou numa doente sem reflexos.
Assim, as recomendações para diminuição da acidez do conteúdo gástrico
nas candidatas a cesariana são comuns para qualquer tipo de anestesia:
– 6 a 8 h de jejum na cesariana programada*;
– 2 doses de bloqueador dos receptores H2 de histamina (cimetidina ou
ranitidina), ou de inibidor da bomba de protões (lansoprazol) por via
oral na cesariana programada e a mesma administração, profiláctica,
em caso de trabalhos de parto de “risco”;
– uma dose de bloqueador H2 endovenosa em caso de cesariana urgente*;
– 30 ml de citrato de sódio oral antes de todas as cesarianas*;
– aspiração do conteúdo gástrico antes do fim da cesariana sob anestesia geral;
– evitar comida com grandes pedaços e/ou ácida no trabalho de parto*.
As recomendações de cateterismo venoso periférico com um bom calibre
(18 ou 16G), posicionamento – inclinação de 15º 21 –, preenchimento com
solução não glicosada, vantagens do aquecimento activo durante a cesariana 22
e monitorização são também comuns à anestesia geral e locorregional. O
preenchimento prévio a uma raquianestesia para cesariana tem algumas espe-
cificidades, parecendo ser mais eficazes os colóides e os meios mecânicos
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(enfaixamento dos membros inferiores) que a administração de cristalóides .
A task force de anestesia obstétrica da Associação Americana de Aneste-
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sia recomenda, no âmbito da preparação pré-cesariana, que seja reforçada a
comunicação entre obstetra e anestesista, confirmando uma redução de mor-
bilidade maternofetal sempre que é feita uma avaliação pré-operatória, para a
qual aquela colaboração é fundamental. Nessa avaliação não devem ser esque-
cidos os antecedentes anestésicos, especialmente os relacionados com cesari-
anas anteriores, a tensão arterial e um exame físico com particular atenção à
via aérea e às costas.
Quanto ao interesse dum hemograma completo perioperatório, as opiniões
divergem quanto à sua eficácia na redução do risco de complicações relacio-
nadas com a anestesia, embora sejam unânimes em reconhecer a importância
da contagem de plaquetas nos casos de hipertensão na gravidez.
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