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ta e os nossos protocolos não nos deve fazer abdicar do nosso espírito crítico.
Devemos tirar proveito da experiência dos países de vanguarda, evitando sempre
que possível os erros que eles precisaram de cometer, usando assim a desvantagem
em nosso favor, mas ter consciência que o decalque dos protocolos e soluções dos
britânicos ou dos americanos não resolve todos os nossos problemas.
A nossa população não tem as mesmas características físicas nem os mesmos
padrões culturais dos anglo-saxões. As condições logísticas não são as mesmas.
O número de partos por ano e a percentagem de cesarianas também não são
semelhantes, tal como não o são as complicações e acidentes mais comuns.
Como em qualquer situação que se coloca quotidianamente a um médico,
cada caso é único, tendo que ser avaliado como tal e, sobrepondo-se à rigidez
dos protocolos mas sem nunca esquecer as regras da boa prática, é imprescin-
dível o bom senso, qualidade fundamental dum anestesista.
Esta revisão bibliográfica procurou abranger os centros mais significativos
em termos de anestesia em obstetrícia na Europa e EUA. Não pretende ser
exaustiva, mas sim dar uma perspectiva e fornecer referências para posterior
pesquisa, sobre o leque de opções técnicas e farmacológicas do anestesista
perante a cesariana na actualidade, trazendo à discussão controvérsias e
novos problemas surgidos na última década 12-13 .

6.1. Anestesia para cesariana
O que nos faz optar por uma determinada técnica?
Perante uma cesariana, vamos pesar coisas tão diferentes como meios
técnicos, logísticos, médicos em geral e obstétricos em particular, condicio-
nantes emocionais, culturais e medicolegais de cada caso e, perante a prática
de cada um, escolher a técnica que dê mais garantias de proporcionar à mãe
e filho(s) o melhor resultado – é uma escolha única mas que cada um de nós
tem que saber justificar coerente e consistentemente.
Escolher uma técnica tem, pois, várias componentes, umas dependentes
do anestesista, outras do binómio mãe-filho e outras ainda da instituição onde
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a cesariana se realiza , sendo a taxa de cesarianas e destas a percentagem de
urgentes (*mais de 60% no nosso caso) uma dessas componentes.
Nota:
Sempre que referenciada, a “nossa experiência” reporta-se à do Serviço de
Anestesia da Maternidade Júlio Dinis (MJD), nos anos de 1999-2002 e é
assinalada com um asterisco*.
A incidência de cesarianas a nível mundial apresenta grande diversidade,
variando de valores inferiores a 10% em países como a Holanda a superiores
a 40% em alguns centros de alto risco dos EUA, vários países da América
Latina e Portugal – *41,2%.
Alguns artigos americanos justificam o aumento da taxa de cesarianas no
seu país, dos 4-6% na década de 60 para os valores actuais referidos, pela
diminuição proporcional da mortalidade perinatal. O mesmo não aconteceu na
nossa instituição nos últimos 4 anos, já que aqui, ao contrário dos EUA, a taxa
de mortalidade perinatal mais baixa (7,2/1.000) correspondeu à taxa de cesa-
rianas também mais baixa (34%) no ano de 2000 e a mais alta taxa de
cesarianas (41,2%), em 2001, que se manteve em 2002, correspondeu à morta-
lidade mais alta (9,7/1.000).
Outro factor que influencia a escolha da técnica, e que tem a ver com ela
própria, é o tipo de complicações mais frequentes a ela associadas 15-20 .

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