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O jejum no trabalho de parto é outro assunto polémico que nos pode
orientar a escolha da técnica.
Parece não ser evidente a relação entre o tempo de jejum e o risco de
náusea/vómito. Por outro lado, é consensual hoje em dia que a ingestão
de líquidos “simples” (água, sumos sem polpa, bebidas gaseificadas, chá,
café) durante o trabalho de parto aumenta o conforto e a satisfação maternas,
sendo o volume de líquidos ingerido menos importante do que o tipo de
líquido. Quanto a sólidos é consensual a proibição, variando o período de jejum
recomendado entre as 6* e as 8 h.
Embora esta maior permissividade quanto à quebra de jejum seja reservada
às parturientes sem riscos adicionais de aspiração (como obesidade mórbida,
diabetes ou via aérea difícil) e sem risco aumentado de cesariana (por cesareana
anterior ou CTG não tranquilizador), em obstetrícia nunca se sabe se um trabalho
de parto “normal” vai ou não acabar no BO, pelo que não é de estranhar que nos
apareçam cada vez mais grávidas candidatas a cesariana sem o habitual NPO.
E se somarmos estes riscos que mais assustam o anestesista, começamos
a entender a razão da preferência por uma técnica locorregional.
O facto destas técnicas deixarem a mãe acordada, permitindo usufruir
muito mais do momento do nascimento, para além de estarem associadas a um
menor comprometimento fetal, em muito contribuiu para a sua popularidade.
As técnicas locorregionais, bem como as misturas de fármacos usadas
mais frequentemente, não serão aqui descritas em detalhe e reporta-se o seu
aprofundamento para as referências bibliográficas 25-37 , apenas se referindo
algumas notas sobre polémicas, consensos ou alertas.
Por ordem decrescente de popularidade quanto ao seu uso em cesariana,
temos várias alternativas:
– O bloqueio subaracnoideu simples, pela sua rapidez de instalação e
qualidade de analgesia, especialmente desde a adição de opióides aos
anestésicos locais, é o bloqueio que dá melhores condições ao cirurgião e
suscita menos queixas de desconforto durante os estiramentos da extrac-
ção fetal. *Representa 41,5% das nossas locorregionais para cesariana.
– O bloqueio epidural – inversamente, pela sua lenta instalação está na
maior parte das vezes reservada às situações em que o cateter epidural
já estava instalado, era comprovadamente funcionante e a cesariana
não é emergente – *51,1% (70% das quais vinham da analgesia de parto,
pelo que de facto representam 15% das locorregionais feitas no BO).
– A técnica sequencial (ou epirraqui) – tem vindo a ganhar adeptos por
associar a rapidez de instalação à possibilidade de continuar a analge-
sia no pós-operatório *7,4%.
– Os cateteres raquídeos (cateter no espaço subaracnoideu, ou espinal)
permitem uma instalação lenta do bloqueio subaracnoideu e, prolonga-
da no tempo como na epidural, pela existência do cateter. *Não
existem na MJD.
Não esquecer:
• Mesmo as misturas “mais rápidas” usadas por via epidural necessitam
um mínimo de 15 min para funcionar.
• Não há consenso quanto à “fórmula química” e modo de administração
da dose-teste por via epidural, pelo que qualquer droga injectada neste
espaço deve ser encarada como dose-teste (injectada lenta, fraccionada
e com as doses espaçadas).

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