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recíproca. A depressão exacerba a dor e a dor exacerba a depressão. Esta
ligação está empiricamente estabelecida há muitos anos e em estudos recen-
tes que revelam que a dor mental da rejeição ou exclusão activa regiões do
cérebro comuns à resposta à dor física. A dor de cabeça pode ser o único
sintoma visível de um quadro depressivo mascarado. O paciente, por vezes,
luta desesperadamente por não assumir a depressão mantendo o sintoma
físico como principal. Outras vezes, o doente não tem mesmo qualquer cons-
ciência do seu estado e a dor de cabeça é um verdadeiro equivalente somá-
tico da depressão. O sintoma físico cefaleia retira da consciência o estado
emocional desagradável permanecendo encoberto. Nestas condições, a de-
pressão passa despercebida. Existem casos clínicos de depressão endógena
em que a cefaleia generalizada nas últimas horas da noite ou início da manhã
é característica do início de uma recorrência depressiva na sua fase mais
precoce, seguindo-se o quadro clínico completo de depressão. Noutras situ-
ações de depressão predominantemente reactiva a situações ou acontecimen-
tos em pessoas psicologicamente vulneráveis ou como complicação de um
estado de stress prolongado, a cefaleia é persistente de tipo tensão e um dos
sintomas do quadro depressivo.
Mais raramente mas que também se encontra na clínica é a presença de
queixa de cefaleia, como mal-estar indefinido, sentimento de estranheza, sen-
do causada por estado de tensão em quadros psicóticos em que a dor é, por
exemplo, descrita como consequência de uma tortura provocada por um de-
mónio ou electricidade no cérebro.
A dor de cabeça é também um sintoma usado por pacientes com perturba-
ção factícia, isto é, com a necessidade psicológica de ser doente e assumir o
papel de doente e ser tratado e cuidado como tal sem qualquer outro tipo de
benefício externo.
Temos, ao mesmo tempo, casos raros de simulação apenas temporários e
com motivação encoberta mas obvia em que a dor de cabeça é usada de modo
intencional para ter uma declaração de modo a evitar uma situação descon-
fortável ou para a obtenção de ganhos objectivos materiais e não emocionais.
Nestes casos, a cefaleia desaparece de imediato após cessar o motivo ou os
pacientes não colaboram quando são confrontados com a necessidade de
proceder a tratamentos e exames invasivos.
A perturbação de dor associada a factores psicológicos, neste caso a dor
assume proporções significativas de mal-estar ou dificuldade no funcionamen-
to pessoal e social. A cefaleia é o centro de atenção e da relação da pessoa
com os outros, existe sofrimento, incapacidade é frequente. Nestes a interven-
ção de diagnóstico ou terapêutica pode provocar mais queixas de dor ou de
mal-estar. A queixa de dor, os comportamentos de dor, estão associados a
objectivos inatingíveis de ausência de dor, no limite nada funciona, nada dá
certo. Podem coexistir os factores psicológicos determinantes do início e
manutenção da dor com um estado físico.
Outra situação são os casos de cefaleias pós-traumáticas e condições de
compensação em que existe a amplificação e exagero da cefaleia e das conse-
quências como incapacidade, mas não é simulação, mas sim um ganho simbó-
lico para as frustrações, o sofrimento, danos emocionais da vida da própria
pessoa. Por vezes a lesão é irrelevante e o paciente apresenta-se inválido e
nenhum tratamento resulta.
Estas condições psicológicas podem constituir e preencher critérios de
diagnóstico psiquiátrico. Para tal há a necessidade de uma avaliação psiquiá-
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