Page 45 Opióides
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via oral em intervalos regulares parece ser a melhor abordagem inicial
dos doentes crónicos. A combinação com analgésicos de outros grupos
farmacológicos é também uma prática aconselhável .
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A dependência física, resultante da estimulação dos receptores µ, re-
vela-se quando a administração de opióides é interrompida abruptamente
ou quando é administrado abruptamente um antagonista (ex.: naloxona).
A presença contínua de um opióide no organismo durante dias cria um
estado biológico novo, em que a normalidade fica dependente da sua
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presença na biofase dos seus receptores específicos . As manifestações
clínicas mimetizam um «síndrome gripal», e manifestam-se por: ansieda-
de, irritabilidade, tremores, dores articulares, lacrimejo, rinorreia, diafo-
rese, náuseas, vómitos, dores abdominais, insónia, diarreia, podendo che-
gar à mioclonia multifocal. Este quadro é tanto mais exuberante quanto
menor for a semi-vida do opióide em causa e quanto maior for a dose
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administrada ou a duração da administração . A sintomatologia inicia-se
entre as 6 e as 12 horas atingindo o seu máximo entre as 24 e as 72 horas.
Este quadro de dependência física estabelece-se geralmente após 2 sema-
nas de terapêutica com opióides e quase nunca é acompanhado de depen-
dência psicológica 103,104 . Geralmente não é um problema clínico desde que
os doentes sejam instruídos no sentido de evitarem uma paragem repen-
tina dos opióides e de evitarem a administração de antagonistas (ou
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agonistas-antagonistas) . Devido a esta síndrome de privação, é lícito na
dor crónica, iniciar-se a abordagem dos opióides através do uso de um
agonista-antagonista misto antes de se administrar prolongadamente
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um opióide agonista semelhante à morfina .
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A dependência psicológica (addiction na nomenclatura anglo-saxó-
nica) define-se como uma perturbação biopsicosocial, caracterizada pelo
uso compulsivo de uma substância e preocupação em obtê-la, apesar da
evidência de que o seu uso continuado conduz à dependência física, emo-
cional, social ou prejuízo económico grave. É o receio desta dependência
que conduz muitos clínicos à administração de opióides em doses insufi-
cientes em doentes portadores de dor crónica. Esta «compulsão para to-
mar drogas de forma contínua ou periódica a fim de evitar o desconforto
da sua ausência», é raramente um problema clínico . No maior estudo
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prospectivo realizado, apenas quatro casos de dependência psicológica
foram identificados entre 11.882 doentes que não possuíam história prévia
de dependência e que receberam pelo menos uma dose de opióide duran-
te a sua estadia no hospital . Parece que alterações nas catecolaminas
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e/ou no sistema do cAMP, induzidas pelo tratamento repetido com morfina
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têm um papel importante no desenvolvimento da dependência física .
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