Page 41 Opióides
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relacionados com um esvaziamento gástrico comprometido, o tratamento
inicial deve realizar-se com a metoclopramida. Se as náuseas são induzidas
pelos movimentos ou vertigens, os doentes beneficiam da administração
de anti-vertiginosos (ex.: escopolamina ou meclizina) . Se nenhum destes
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mecanismos parece envolvido, o tratamento geralmente inicia-se com um
neuroléptico (ex.: proclorperazina ou metoclopramida). Se estes fármacos
forem ineficazes em doses relativamente elevadas, outras opções incluem:
ensaio com outro opióide, tratamento com um anti-histamínico (ex.: dife-
nidramina ou hidroxizina), neurolépticos alternativos (ex.: haloperidol ou
clorpromazina), benzodiazepinas (ex.: lorazepam), esteróides (ex.: dexa-
metasona), ou antagonistas da serotonina (ex. ondansetron).
Sedação e alterações cognitivas
Ao iniciar a terapêutica com opióides ou quando se aumenta substan-
cialmente as doses administradas, é frequente o aparecimento de ma-
nifestações clínicas de sonolência ou outras alterações cognitivas (ex.:
euforia, disforia, cansaço, confusão mental, ansiedade, alucinações, etc.),
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que geralmente persistem durante dias ou semanas . Apesar de rapida-
mente se desenvolver tolerância, alguns doentes permanecem com per-
turbações intoleráveis. Com a persistência destes efeitos, é aconselhá-
vel eliminar a medicação não essencial que deprima o sistema nervoso
central (ex.: sedativos/hipnóticos, álcool, barbitúricos e benzodiazepi-
nas), e avaliar o doente pesquisando causas concorrentes (ex.: sépsis,
alterações metabólicas, ou metástases intracerebrais ou leptomenínge-
as). Se persistirem, a estratégia passa por diminuir a dose do opióide
e/ou reduzir o intervalo entre as administrações (esta abordagem dimi-
nui a concentração de pico no sangue, mantendo a mesma dose total).
Se apesar destas medidas esta sintomatologia perdurar, deve-se ponde-
rar: a adição de um analgésico não opióide, a administração de um
adjuvante, a substituição por outro analgésico opióide ou a realização
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de uma técnica anestésica ou neurolítica .
Depressão respiratória
É o principal factor limitante da utilização clínica dos opióides. Estes
fármacos exercem um efeito depressor directo nos centros respiratórios
do tronco cerebral (receptores µ e δ), que se manifesta por uma ausência
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de resposta ventilatória à hipóxia . Sendo uma situação rara na analgesia
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para doenças crónicas (a tolerância desenvolve-se rapidamente), a depres-
são respiratória geralmente ocorre quando a dor é subitamente aliviada e
portanto, os efeitos sedativos dos opióides não são mais antagonizados
pelos efeitos estimulantes da dor . Neste contexto, a depressão respirató-
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