Page 40 Opióides
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xia, consiste nos casos «ligeiros», no aumento do consumo de fibras
e na administração regular de um laxante suave (ex.: leite de magné-
sia). Nos casos de obstipação grave, resultante da inibição dos mo-
vimentos peristálticos pelos opióides, o tratamento consiste na admi-
nistração de um catártico estimulante (ex.: bisacodil, concentrado de
Senna, ou agentes hiperosmóticos − lactulose ou sorbitol). Pode-se
complementar a terapêutica com laxantes orais ao deitar e supositó-
rios rectais ao levantar. Os amaciadores de fezes, são de interesse
reduzido se usados isoladamente, embora possam ter algum valor
terapêutico quando administrados em combinação com laxantes es-
timulantes a fim de facilitar a defecação, nomeadamente em doentes
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acamados .
Os doentes refractários à terapêutica com laxantes podem fazer um
ensaio com naloxona oral, que tem uma biodisponibilidade inferior a
3% e presumivelmente actua selectivamente nos receptores opióides do
intestino . Devido ao pequeno risco de desenvolvimento de uma sín-
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drome de abstinência por acção da naloxona oral , deve-se iniciar o
tratamento com uma dose relativamente modesta (0,8 a 1,2 mg, uma a
duas vezes por dia). Esta dose pode ser aumentada até se obter o efei-
to desejado ou se desenvolverem efeitos secundários importantes (ex.:
cólicas abdominais, diarreia, etc.). A naloxona está contra-indicada em
todos os doentes com oclusão intestinal.
Náuseas e vómitos
São efeitos adversos de aparecimento frequente. A incidência de náu-
seas induzidas pelos opióides é de 10 a 40%, manifestando-se principal-
mente nos doentes em regime ambulatório, uma vez que a tendência
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para o vómito aumenta com a estimulação vestibular . Parecem resul-
tar de vários factores de que se destacam: acção central dos opióides
na trigger zone dos quimiorreceptores da protuberância, aumento da
sensibilidade vestibular e atraso do esvaziamento gástrico 18,82 . A abor-
dagem inicial destes doentes consiste em investigar a etiologia das
náuseas e vómitos, uma vez que podem não ser induzidos pelos opiói-
des. Perante esta etiologia, e sabendo-se que a tolerância desenvolve-se
rapidamente, o tratamento raramente consiste na administração profi-
lática de anti-eméticos, excepto em casos graves. Por vezes, a substi-
tuição de um opióide por outro com potência analgésica semelhante
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é suficiente. A mudança da via da administração pode ser eficaz .
A opção pelos diferentes tipos de anti-eméticos varia de acordo com o
mecanismo produtor das náuseas e vómitos. Se as náuseas estão associa-
das a uma saciedade precoce, ou a vómitos pós-prandiais, geralmente
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