Page 83 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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podem ser considerado um indicador preciso da dor Quanto tempo deve
do doente.
Em segundo lugar, na medida do possível demorar uma avaliação?
dentro de um contexto com tempo limitado,
permitir que os doentes descrevam a sua dor com as O tempo necessário para uma avaliação varia de
suas próprias palavras (o facto de os doentes poderem doente para doente, consoante os problemas que
fornecer respostas socialmente aceitáveis ao apresentam e o tempo clínico especificamente
profissional de saúde exige uma exploração sensível exigido. Por exemplo, o doente pode sentir uma dor
do que está a ser comunicado). Para doentes que se tão forte que não consegue fornecer informação
sentem pouco à vontade para se exprimirem, o significativa que permita realizar um histórico
profissional de saúde pode propor um conjunto de abrangente da dor. De igual modo, haverá ocasiões
palavras relevantes escritas em cartões a partir do em que a avaliação terá de ser relativamente breve
qual o doente pode escolher os descritores mais (investigar a intensidade, a qualidade e a localização
apropriados. A principal intenção consiste em ouvir o da dor) para que possa ser proporcionada
doente e não retirar conclusões potencialmente falsas rapidamente uma gestão eficaz da dor.
e decisões clínicas erróneas. Também é importante lembrar que, em
Em terceiro lugar, escutar ativamente o que termos gerais, é a qualidade da avaliação da dor que
o doente diz. Em vez de interagir com o doente de resulta numa gestão da dor eficaz e não a quantidade
forma distraída, o profissional de saúde deve de tempo dedicada à mesma.
concentrar-se no doente, observar a sua linguagem
comportamental e corporal e parafrasear palavras, A avaliação da dor difere em
quando necessário, para garantir que compreende de crianças e jovens?
forma clara o que está a ser comunicado. Em
interações caracterizadas por fortes emoções, o
profissional de saúde deve também escutar A resposta a esta pergunta é mista. Por um lado,
ativamente os descritores não verbais. não, não difere, já que, apesar de antigamente se ter
Em quarto lugar, a localização da dor no pensado, incorretamente, que as crianças não
corpo pode ser determinada apresentando ao sentiam dor por possuírem um sistema neurológico
doente uma imagem do corpo humano (pelo menos subdesenvolvido, a verdade é que as crianças sentem
frente e costas) (ver exemplo de diagrama corporal dor. Por conseguinte, um processo de avaliação
no Anexo 1), solicitando que indique as zonas de eficaz da dor é tão importante nas crianças como
dor principais e múltiplas (se aplicável) e que mostre nos adultos.
a direção de uma eventual dor irradiada. Por outro lado, sim, difere, dado que a
Em quinto lugar, podem ser usadas escalas expressão e a deteção da dor nas crianças pode ser
de dor (com uma complexidade e um rigor mais exigente do que nos adultos (ver adiante).
metodológico variados) para determinar a gravidade
da dor manifestada (ver mais exemplos adiante). Existe um processo de
Em sexto lugar, embora seja importante avaliação específico para
gerir a dor do doente o mais rapidamente possível
(isto é, o doente não tem de esperar que seja crianças e jovens?
elaborado um diagnóstico), no processo de
avaliação da dor, o profissional de saúde deve As características específicas da avaliação da dor nas
também diagnosticar a causa da dor e tratá-la, se crianças deram origem à abordagem «QUESTT»:
possível, garantindo assim uma resolução a mais Questionar a criança se esta falar e os pais ou
longo prazo para o problema de dor que se tutores legais de crianças que já falem ou não
apresenta. (Question).
Usar escalas de classificação da dor, se apropriado.
(Use)