Page 84 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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Avaliar as alterações comportamentais e fisiológicas. hipersensibilidade ou irritabilidade, diminuição da
(Evaluate) ingestão ou incapacidade de adormecer. As questões
Garantir o envolvimento dos pais. (Secure) levantadas acima para recém-nascidos também se
Ter em consideração a causa da dor. (Take into aplicam aos bebés.
account)
Tomar medidas e avaliar os resultados (Take action) Crianças que começam a andar (1-2 anos)
(Baker e Wong 1987).
As crianças nesta idade podem ficar verbalmente
Quais os desafios da agressivas, chorar intensamente, apresentar um

avaliação da dor nos jovens? comportamento regressivo ou fechar-se, exibir
resistência física, proteger a zona dolorosa do corpo
ou não conseguir dormir. Embora estas crianças
O termo «jovens» refere-se a crianças de idades e ainda não consigam comunicar os sentimentos
desenvolvimento cognitivo variados: recém- verbalmente, o seu comportamento pode expressar
nascidos (0-1 mês); bebés (1 mês a 1 ano); crianças a sua disposição emocional e física. Nesta fase, a
que começam a andar (1-2 anos); crianças em idade elaboração de uma avaliação correta da localização e
pré-escolar (3-5 anos); crianças em idade escolar (6- da gravidade da dor da criança pode exigir o recurso
12 anos); e adolescentes (13-18 anos). As crianças a jogos e desenhos, oferecendo à criança meios não
colocam desafios distintos na avaliação eficaz da dor verbais de expressar o que sente e pensa. Contudo,
em cada fase de desenvolvimento. mesmo nesta idade, algumas crianças conseguem
expressar a sua dor usando linguagem simples. Os
Recém-nascidos (0-1 mês) profissionais de saúde devem estar sensibilizados
para este tipo de diferenças no desenvolvimento.
Nesta idade, a observação comportamental é a única
forma de avaliar uma criança. A observação pode Crianças em idade pré-escolar (3-5 anos)
ser realizada com o envolvimento da família ou do
tutor legal da criança, que podem indicar os padrões As crianças em idade pré-escolar podem verbalizar a
de comportamento «normais» e «anormais» (por ex., intensidade da sua dor, encarar a dor como um
se a criança costuma estar tensa ou descontraída). É castigo, agitar os braços e as pernas, tentar afastar os
importante, para todas as crianças, que o estímulos antes de serem aplicados, não se mostrar
profissional de saúde siga as diretrizes éticas cooperantes, necessitar de imobilização física,
nacionais no que diz respeito à presença de um dos agarrar-se aos pais ou tutores, solicitar apoio
pais ou tutor legal no processo de avaliação e a emocional (por ex. abraços e beijos) ou não
quaisquer questões relacionadas (por ex., conseguir dormir.
consentimento informado). Além disso, é Nesta idade, à semelhança das crianças em idade
importante recordar que o comportamento não é escolar (ver adiante), a criança precisa de poder
necessariamente um indicador exato do nível de dor confiar no profissional de saúde, que necessita de
do doente e que a ausência de respostas ultrapassar as potenciais reservas da criança no que
comportamentais (por ex., expressões faciais, como diz respeito a estranhos e pessoas que sentem como
gritos e movimentos que indiquem desconforto) figuras de autoridade. Este objetivo pode ser
nem sempre indica a ausência de dor. alcançado realizando o processo de avaliação a um
ritmo, uma linguagem e um comportamento
Bebés (1 mês a 1 ano) adequados à criança (por ex., demorar mais tempo,
sempre que possível, usando perguntas abertas para
Nesta fase, a criança pode apresentar rigidez ou incentivar as crianças a falarem do que sentem, e
agitação corporal, expressões faciais de dor (por ex., usando linguagem corporal de apoio e incentivo).
sobrancelhas rebaixadas e juntas, olhos fechados
com força, boca aberta e quadrada), choro intenso e
alto, estado inconsolável, joelhos juntos ao peito,
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