Page 85 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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Crianças em idade escolar (6-12 anos) problema (por ex. fazendo perguntas informais
sobre os amigos, a escola, os passatempos, a família)
As crianças em idade escolar podem verbalizar a e evitando momentos deliberados de silêncio que se
dor, usar uma medida objetiva de dor, ser revelam geralmente improdutivos.
influenciadas por crenças culturais, ter pesadelos Como consequência desta diversidade entre
relacionados com a dor, exibir comportamentos de grupos etários (especialmente na capacidades
adiamento (por ex. «Espere um pouco» ou «Não cognitivas das crianças para compreender o que está
estou pronto»), apresentar rigidez muscular (por ex., a ser perguntado e nas capacidades verbais para
punhos fechados, nós dos dedos brancos, dentes articular o que está a ser pensado ou sentido), a
cerrados, membros contraídos, rigidez corporal, ferramenta de avaliação selecionada para o processo
olhos fechados ou testa enrugada), ter de avaliação deve ser apropriada especificamente
comportamentos de crianças mais novas ou não para cada criança. Além disso, dado que o
conseguir dormir. Nesta idade, a criança pode ficar comportamento em si pode não ser um indicador
mais reservada, sentindo medos e ansiedades fiável da dor sentida e que os auto-relatos têm
genuínos (por ex., podem negar a presença da dor potenciais limitações, o ideal será usar uma escala de
por terem receio das consequências, como o exame classificação da dor em conjunto com uma
físico ou uma injeção). investigação dos indicadores fisiológicos de dor,
No entanto, as crianças em idade escolar são como as mudanças na pressão arterial, e na
verbal e cognitivamente avançadas. Como tal, são frequência cardíaca e respiratória do doente (para
mais curiosas acerca do seu corpo e da sua saúde e mais informações ver Capítulo 26 sobre a Gestão da
podem fazer perguntas espontâneas ao profissional Dor em Crianças).
de saúde (por ex. «O que está a acontecer comigo?»
«Porque me dói a barriga?»). Podem também A avaliação da dor difere
começar a compreender as questões de causa e nas pessoas idosas?
efeito, o que permite ao profissional de saúde
fornecer-lhes explicações adaptadas à sua idade (por
ex. «Dói-te o estômago porque tens lá um caroço Os doentes idosos apresentam desafios adicionais
que te está a provocar dor»). Podem também querer pelo facto de poderem sofrer de perturbações
ser envolvidos nos seus próprios cuidados clínicos visuais, cognitivas ou auditivas, ou ser influenciados
e, se possível, fazer escolhas sobre o que lhes vai por normas socialmente determinadas quanto à
acontecer. comunicação de sentimentos negativos (por ex., não
querer ser um fardo social). Os doentes geriátricos
Adolescentes (13-18 anos) (isto é, doentes com idade biológica avançada,
morbilidades múltiplas e – potencialmente –
Os adolescentes podem verbalizar a sua dor, negar a múltiplas medicações) são especialmente
dor na presença de outros adolescentes, sofrer problemáticos quando sofrem de demência.
alterações nos padrões de sono ou no apetite, ser Normalmente, estes doentes recebem analgesia
influenciados por crenças culturais, exibir tensão inadequada devido à sua incapacidade de comunicar
muscular, apresentar comportamento regressivo na a necessidade da mesma. (Definir «os idosos» em
presença da família ou não conseguir dormir. contextos de baixos recursos pode ser problemático.
Nesta idade, a criança pode parecer A definição das Nações Unidas de «idosos» está
relativamente pouco comunicativa ou manifestar comummente associada a um direito legal a
uma disposição desdenhosa. Esta tendência pode benefícios de pensões específicos da idade que
ser parcialmente contrariada se o profissional de emergem do sector de emprego formal, mas, em
saúde expressar interesse genuíno pelo que o regiões como a África subsaariana, este tipo de
adolescente tem a dizer, evitando a confrontação ou definição cronológica é problemática e muitas vezes
sentimentos geralmente negativos (que podem substituída por outras definições multidimensionais
causar ansiedade e evitação), concentrando a e socioculturais mais complexas, como o estatuto de
conversa mais no adolescente e não tanto no