Page 7 Volume 10, Número 1, 2002
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Dor (2002) 10
ca, com expressão e comportamentos da dor (vocali-
DOR zação, postura, alteração da actividade).
A emoção mais frequentemente associada à dor é o
ESTÍMULO medo. O medo está associado com a ameaça à integri-
dade biológica, ao bem estar, podendo desencadear um
SINAL estado de ansiedade e de pânico idênticos a alguns dos
doentes que sofrem de enxaqueca que, na eminência de
SENSAÇÃO uma crise, desenvolvem uma ansiedade antecipatória e
pânico, o que por sua vez influencia a evolução da
PERCEPÇÃO PRIMÁRIA própria crise ou gera um estado de hiper-vigilância e
(imediata)
tensão emocional permanente, que poderá ter como
consequência, comportamental por exemplo, o abuso de
RESPOSTA
(automática e simples) medicação através de toma antecipada da mesma.
Motivações Há portanto um componente afectivo específico e
Cognições
Personalidade Emoções intrínseco à própria dor e distinto da reacção afectiva
Informação PERCEPÇÃO SECUNDÁRIA que se pode seguir à experiência da dor e respectivas
Aprendizagem (diferida)
Antecedentes consequências.
INTERPRETAÇÃO
O significado da dor é subjectivo, dependendo do
Contexto resultado da avaliação cognitiva que o indivíduo em
socio-ambiental SIGNIFICADO
causa faz do acontecimento como um todo, o que
constitui um factor importante a determinar o compor-
tamento da pessoa com dor.
RESPOSTA (elaborada e complexa)
A dor tem um significado simples, objectivo e ime-
diato quando a experimentamos através de uma pan-
cada, mas pode ser muito complexo e distante da
Terapêuticas Intervenções
lesão física que provocou a dor, quando se sofre a
CONSEQUÊNCIAS
influência de factores afectivos e motivacionais, sendo
por isso diferente o acontecimento em si, a lesão
Positivas Negativas
quando existe e a descrição da experiência da dor.
EVOLUÇÃO CLÍNICA
A resposta à dor é cruzada, isto é, o trauma físico
desencadeia um estado fisiológico, e o significado da
Figura 1. dor uma resposta psicológica mas que interagem reci-
procamente. Assim, as informações processadas a
partir da lesão e do significado não estão separadas.
Portanto, na primeira etapa da experiência da dor O aspecto motivacional intrínseco à dor insere-se
existe uma alteração do estado fisiológico que excita e nas representações cognitivas ou simbólicas de con-
modifica a matriz fisiológica previamente existente, sequências positivas ou negativas antecipadas ou pre-
sendo que o organismo responde a essa alteração vistas e afectos conscientes ou inconscientes, o que
tanto mais rápido e automático, quanto mais intenso, juntamente com os outros comportamentos psicológi-
súbito e conhecido como ameaça (a memória percep- cos modela a experiência de dor e comportamentos.
tual pode não ser consciente e determina respostas É importante referir que não é por acaso que os
automáticas) é o estímulo, pelo que menor será a pacientes depressivos sem dor proveniente de estímu-
participação da segunda etapa, muito mais complexa lo físico referem o seu estado como dor angustiosa, e
da experiência de dor, em que a sensação é interpre- que, em circunstâncias de tragédia, as pessoas invo-
tada no contexto global psicológico dinâmico e cir- cam um sentimento de dor simultaneamente vital e
cunstancial do indivíduo, adquirindo um significado anímico, mas sim porque a dor está também ligada a
mais complexo e integrando-se na representação de um componente cognitivo comum que é o sofrimento,
dor. bem como a outros estados psicológicos negativos.
Este segundo componente é também afectivo, espe- As respostas emocionais e comportamentos de dor
cífico e não reactivo (o sentir). É a experiência emoci- podem estar presentes sem estímulo nociceptivo, mas a
onal da dor que ocorre na sequência de um conjunto partir de evocação da representação de dor voluntária
de sentimentos, isto é, a lesão desperta no indivíduo ou involuntária, por vezes distante do estímulo sensorial,
sentimentos sensoriais intimamente ligados ao corpo, uma vez que a representação da dor, não sendo está-
à sensação de que “algo está a acontecer” e senti- tica, pode modificar-se. Por exemplo, as respostas de
mentos vitais de mal-estar desagradável. E também dor podem mudar de intensidade consoante a repre-
um sentimento anímico intimamente associado ao sig- sentação de ameaça constitui maior ou menor risco vital
nificado, constituindo-se uma memória de dor afectiva. para o indivíduo, sendo esta avaliação subjectiva.
Por exemplo, do acontecimento que provoca a lesão a A dor pode ser persistente, não porque o estímulo
que a pessoa reage com emoção ou emoções (medo, nociceptivo se mantenha, mas porque o significado e
surpresa, expectativa, aceitação, raiva) que produz a emoção contidos na experiência da dor mantêm viva
DOR (em) uma resposta fisiológica por activação neurove- e constante a própria dor. Por exemplo, quando à
getativa idêntica ao stress, de intensidade muito vari-
lesão e experiência se associaram a uma alteração
6 ável, ocorrendo paralelamente uma resposta psicológi- intensa do afecto provocado por outro acontecimento
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