Page 29 Volume 11, Número 2, 2003
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Dor
Dor (2003) 11(2003) 11
Potencialidades da terapia genética


no controlo da dor



Martins I , Pinto M , Wilson SP , Lima D , Tavares I 1
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Resumo
Em edição desta revista publicada no ano passado, redigimos um artigo (Tavares, et al. Perspectivas de
manipulação do sistema endógeno de controlo da DOR: o bolbo raquidiano ventrolateral. Dor 2002;10(2):11-5)
onde reuníamos dados relativos ao funcionamento do sistema endógeno de controlo da dor e abordávamos
novas perspectivas para a sua manipulação. Neste trabalho, apresentamos alguns dos recentes avanços
experimentais no controlo da dor através das modernas técnicas de terapia genética. Discutimos, em
especial, os trabalhos em curso no nosso laboratório dedicados ao estudo da dinâmica de migração de um
vector viral Herpes simplex do tipo 1, injectado em dois componentes do sistema endógeno de controlo da
dor: o bolbo raquidiano ventrolateral e o núcleo reticular dorsal.

Palavras chave: Controlo endógeno da dor. Modulação descendente. Opióides. Vectores virais.


Summary
In an issue of this journal published last year (Tavares, et al. Perspectivas de manipulação do sistema
endógeno de controlo da DOR: o bolbo raquidiano ventrolateral. Dor 2002;10(2):11-5) we reviewed recent
data on the role of the endogenous pain modulatory system. The perspectives of manipulation of the system
were presented and critically discussed. In this paper, we report some recent experimental findings
concerning the use of gene therapy in pain control. We further discuss our recent data regarding the
dynamics of the migration of a viral vector (Herpes simplex virus type 1) injected in two components of the
endogenous pain modulatory system: the caudal ventrolateral medulla and the dorsal reticular nucleus.
Key words: Endogenous pain control. Descending modulation. Opioids. Viral vectors.





A dor pode persistir como consequência de pêuticas (Chiocca e Breakfield, 1998). No caso
processos inflamatórios, oncológicos ou dege- concreto da dor, as substâncias produzidas por
nerativos conduzindo a uma situação de dor transcrição dos genes são geralmente neuro-
crónica. Nestas circunstâncias, os analgésicos transmissores com propriedades analgésicas,
normalmente utilizados são muitas vezes inefi- como por exemplo encefalinas, que se libertam
cazes ou produzem efeitos secundários indese- directamente no tecido lesado ou em áreas do
jáveis. De acordo com visões mais recentes, a sistema nervoso que processam a informação
terapia genética afigura-se como uma alternati- dolorosa (Wilson e Yeomans, 2000). Pelas técni-
va potencial no tratamento da dor crónica (Pohl cas de terapia genética consegue-se minimizar
e Braz, 2001). A terapia genética define-se, em as acções indesejáveis de alguns tratamentos
geral, como o conjunto de técnicas que permi- mais usuais como sejam o desenvolvimento de
tem a introdução no organismo de genes, ou tolerância e a produção de efeitos secundários.
parte deles, cuja expressão resulta na síntese
localizada de proteínas com propriedades tera- Estratégias de terapia genética no sistema
nervoso
Na terapia genética da dor aplicada directa-
1 Instituto de Histologia e Embriologia mente ao sistema nervoso podem distinguir-se
Faculdade de Medicina e IBMC duas abordagens distintas: a introdução de
Universidade do Porto, Portugal células ou tecidos geneticamente modificados
Department of Pharmacology
DOR Physiology and Neuroscience (Cejas, et al., 2000; Eaton, et al., 1999) ou a
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administração de vectores virais contendo o
28 University of South Carolina School of Medicine gene de interesse (Wilson e Yeomans, 2000).
Columbia, EUA
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