Page 24 Volume 11, Número 2, 2003
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Cruz C, et al.: A actividade das cínases ERK 1 e 2 na medula espinhal causada pela distensão da bexiga é aumentada em condições inflamatórias crónicas
,
reu em condições em que os animais foram
estimulados, dado que não se observou qual-
quer célula imunorreactiva em cortes da medula
espinhal de animais não estimulados, inflama-
dos ou não. Por outro lado, verificámos que a
activação dependia da intensidade do estímulo
uma vez que o número de células positivas foi
directamente proporcional à intensidade do es-
tímulo.
Os nossos resultados sugerem também que a
actividade é transitória. Era, no entanto, já sabi-
do que o número de células imunorreactivas
Figura 2. Número de células imunorreactivas para as para a forma fosforilada das ERK 1 e 2 atinge
pERKs 1/2 em cortes transversais do segmento L6 da um máximo dois a três minutos após um estí-
medula espinhal . Os animais foram estimulados por
distensão da bexiga urinária com uma pressão de 15 mulo nóxico somático e que este número dimi-
(distensão inócua) ou 60 cm H O (distensão nóxica) nui gradualmente ao longo de duas horas. No
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durante dois minutos. Na medula espinhal, o número nosso trabalho, verificámos que duas horas
de células imunorreactivas foi proporcional à após um estímulo nóxico inicial o número de
intensidade do estímulo e aumentou em condições células positivas era semelhante ao induzido
inflamatórias crónicas. Os resultados estão denotados
como o valor médio do número de células por um estímulo inócuo. No entanto, nunca
imunorreactivas e respectivo desvio-padrão. **p<0,01; foram analisados os níveis de actividade destas
***p<0,001. moléculas após um segundo estímulo. Um se-
gundo estímulo nóxico induz um número de
células imunorreactivas semelhante ao observa-
do no caso de um único estímulo nóxico. Deste
modo, estes dados demonstram que em ani-
mais intactos a activação destas cínases não é
potenciada por estimulação repetida. Neste
aspecto, os nossos resultados parecem divergir
dos de outros investigadores que verificaram
que até 60 min após uma injecção de formalina
na pata ainda é possível observar na medula
espinhal numerosas células imunorreactivas con-
tra a forma fosforilada destas cínases (Ji, et al.,
1999). É sabido que as ERK 1/2 podem intera-
gir com domínios intracelulares de receptores
Figura 3. Histograma representando o padrão temporal
da expressão da forma activa das ERKs 1/2 em cortes membranares (Adams, et al., 2000), facilitando
transversais do segmento L6 da medula espinhal de e potenciando a transmissão do impulso nervo-
ratos não inflamados cujas bexigas foram distendidas so. Deste modo, após uma activação inicial das
com uma pressão de 60 cm H O durante 2 minutos. ERK 1/2 devido a um estímulo inicial nóxico, os
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Duas horas após um estímulo nóxico o número de níveis da cascata poderão manter-se elevados
células observado era semelhante ao induzido por
estimulação inócua. Uma segunda estimulação induz já que o limiar de activação neuronial foi dimi-
um número de células imunorreactivas semelhante ao nuído e estímulos de menos intensidade pode-
observado no caso de uma única estimulação nóxica. rão activar estas cínases. No entanto, durante o
Os resultados estão denotados como o valor médio do intervalo de tempo aqui estudado entre dois
número de células imunorreactivas e respectivo desvio-
padrão. *p<0,05. estímulos (2 h) pode ocorrer desfosforilação por
acção de fosfatases específicas (Sun, et al.,
1993; para revisão ver Keyse, 2000) e conse-
quente inactivação das ERK 1 e 2.
Discussão Os nossos resultados demonstram que a ac-
A cascata de sinalização intracelular de sinal tivação das ERK 1 e 2 na medula espinhal era
que inclui as cínases ERK 1 e 2 está activa no potenciada pela inflamação crónica da bexiga
sistema nervoso central em condições várias induzida por injecções repetidas do agente
tais como o desempenho de tarefas de apren- antitumoral ciclofosfamida. Este composto é
dizagem, exposição a neurotrofinas (Grewal, et metabolizado em acroleína, a qual, por acumu-
al., 1999; Pizzorusso, et al., 2000) e estimulação lação na bexiga, causa cistite química (Vizzard
nóxica somática (Ji, et al., 1999). Os resultados e Boyle, 1999). Em animais injectados com este
apresentados neste trabalho indicam que a fármaco, a estimulação da bexiga induziu acti-
estimulação nóxica da bexiga também induz vação das ERK 1 e 2 em mais células do que
activação por fosforilação das cínases ERK 1 e em animais normais. Aparentemente, a activa-
2 ao nível do segmento espinhal L6. De acordo ção desta cascata de sinal num maior número DOR
com o que tinha sido observado após a estimu- de células da medula espinhal poderá depen-
lação somática, a activação da cascata só ocor- der da facilitação do afluxo nervoso sensitivo 23
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