Page 36 Volume 16 - N.1 - 2008
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C. Mendes: Problemática da Avaliação Regular da Dor Aguda no Pós-Operatório
após terapêutica parentérica e uma hora após de uma dor é o relato do próprio doente: «Dor é
analgésicos orais). Aumentar a frequência aquilo que o doente diz que sente e existe sem-
das avaliações quando se altera a terapêu- pre que ele o diz» .
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tica ou a dor não está controlada . A avaliação álgica de rotina usando uma es-
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Devemos avaliar imediatamente queixas de cala de dor fornece um meio útil para detectar
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dor inesperadamente intensa, sobretudo se dor não-identificada ou não-aliviada . Revela-se
súbita ou associada a alterações de sinais vi- crucial para tentar medir a intensidade de dor,
tais. Febre, hipertensão, taquicardia ou oligú- optimizar a terapêutica e ter meios objectivos de
ria podem indicar complicações, como deis- comparação.
cência da sutura, infecção ou trombose A escala adoptada deve ser validada, fiável,
venosa profunda . apropriada para doentes de várias culturas, sim-
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ples de perceber e de usar, tanto para o pesso-
Como avaliar a dor? al como para os doentes, barata e facilmente
A dor deve ser avaliada em todos os doentes, acessível. Numerosos métodos estão documen-
é um direito destes . A presença de dor indica tados como fornecendo medidas válidas da in-
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a necessidade de avaliação; diagnóstico, este tensidade álgica , mas algumas escalas de
por vezes facilitado quando se trata de dor pós- dor são mais adequadas do que outras para um
operatória; planeamento da terapia e reavalia- determinado doente. Para cada indivíduo, a
ção após intervenção . adopção de uma mesma escala estandardizada
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Para uma abordagem concertada entre os para medição, tanto no pré como no pós-opera-
membros da equipa de terapêutica de DPO tório, diminui a confusão, tanto para o doente
deve haver : como para o pessoal. Entre as mais usadas es-
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– Objectivos comuns: estabelecimento dos tão as seguintes escalas:
níveis funcionais e de conforto para o alívio – A EVA parece ser mais difícil de compreen-
da dor (ex.: intensidade da dor em repouso der e de usar em idosos ou outros doentes
e em actividade). com problemas visuais, náuseas, ou com
– Linguagem comum: escalas de intensidade anestesia residual.
de dor, instrumentos estandardizados e for- – A escala numérica de 0 a 10, oral ou por
matos de registo e documentação. escrito, é muitas vezes preferida para pes-
– Bases comuns de conhecimentos: protoco- soas que saibam contar até 10. É fácil de
los e guidelines de orientação clínica. explicar, medir e registar e fornece números
– Comunicação regular por meio de registos para avaliação de objectivos terapêuticos.
e relatórios estandardizados. Alguns médicos recomendam a adopção
A estandardização dos instrumentos de avalia- universal desta escala em adultos sem pro-
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ção de dor e de outros meios de colaboração blemas cognitivos .
entre os diversos intervenientes na analgesia fa-
cilita a comunicação e reduz atrasos em efectuar 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
as alterações necessárias do plano terapêutico.
Mas medir apenas a intensidade da dor é in- Sem dor Pior dor imaginável
suficiente e pode levar a uma terapêutica incor-
recta. Pretende-se avaliar globalmente não só a – A escala de faces de Wong-Baker é útil
dor e o seu impacto funcional a nível físico e tanto em crianças como em adultos.
emocional, mas também as consequências da – A escala numérica de 0 a 5 correlaciona-se
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sua terapêutica, incluindo efeitos secundários ; bem com a de 0 a 10 e é mais fácil de usar
validar os dados colhidos previamente e com- para alguns doentes com défices cognitivos.
provar se a analgesia prescrita foi realmente O ideal é pedir ao doente para quantificar a
efectuada ou se houve alguma alteração da me- máxima, a mínima e a média de dor que teve
dicação e quais as razões dessa alteração. Isso nas últimas 24 horas; a dor que tem agora e o
é facilitado pela existência de registos regula- grau de alívio com a medicação que a sua dor
res . Para avaliar os objectivos pretendidos, é teve nas últimas 24 horas. Medir a dor em re-
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importante conhecer também as expectativas do pouso e em actividade (mobilizações, respira-
doente e a sua satisfação com o tratamento. ção profunda, tosse…).
Para esclarecer as expectativas do doente e
perceber se os objectivos de terapêutica analgé-
Escalas sica foram alcançados, é também importante
Não há medidas objectivas de dor. Não se quantificar qual o nível de dor considerada acei-
pode provar se alguém tem ou não dor. Sejam tável para cada doente, no que respeita a não ser
os comportamentos ou os sinais clínicos do do- impeditiva da função. Numa escala de 0 a 10,
ente, a opinião dos enfermeiros ou a dos médi- níveis de 5 ou mais interferem significativamente
cos, nenhuma fonte de informação é tão segura com a função. Mas quando se avaliam níveis de
ou fiável como o que o doente diz e nunca pode conforto como objectivos funcionais, a maioria DOR
ser usada em vez disso . Portanto, o gold stan- dos estudos afirma que se deve rever o plano
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dard para averiguar a existência e a intensidade terapêutico com scores de 3 ou superiores . 35
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