Page 47 Volume 16 - N.1 - 2008
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mínimo sobre os novos objectivos a atingir, está tardia é a avaliação, maior é a tendência do
condenada ao fracasso e será responsável pela doente para minimizar ocorrências que se veri-
eventual futura desmobilização e desagregação ficaram há mais tempo, principalmente se novos
do grupo. Esta implementação de novos parâme- acontecimentos se tornaram o fulcro da sua
tros não deve nunca secundarizar a necessidade atenção.
absoluta de reaprendizagem de todos os elemen- É por estes motivos que a avaliação crítica do
tos, das novas premissas introduzidas . questionário e dos resultados deve ser constan-
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te e basear-se numa dialéctica entre todos os
Acessibilidade da base de dados elementos do serviço, de modo a melhorar os
A base de dados que congrega todos os pa- resultados obtidos e a evitar a divulgação de
râmetros avaliados ao longo do tempo, e que falsas avaliações. Um resultado discrepante em
representam um manancial riquíssimo de infor- relação a uma realidade por todos conhecida
mação que como já referimos necessita de ser deve corresponder a uma total reformulação das
trabalhada de modo a melhorar a performance perguntas envolvidas neste resultado, existentes
do grupo, deve estar disponível a todos os pro- no questionário e/ou a uma reciclagem dos ele-
fissionais que de algum modo colaborem na mentos da UDA em relação aos pressupostos
construção desta mesma base de dados. Só um envolvidos nas respostas dos doentes de modo
acesso simplificado permitirá a melhoria indivi- a evitar interpretações defeituosas. Um exemplo
dual e colectiva e contribuirá decisivamente concreto da nossa experiência baseia-se na per-
para o despontar de novas ideias que irão cata- gunta existente no nosso questionário: «Expec-
pultar novos horizontes para o trabalho a desen- tativa do doente (em relação à dor do pós-opera-
volver 7,9,10 . Esta consulta livre e espontânea só tório) – melhor, igual, pior». Uns anestesiologistas
será possível se para além deste acesso desbu- interpretaram a resposta como «a expectativa era
rocratizado for complementada por uma confi- melhor, igual, pior em relação à realidade álgica
guração da base de dados simples e de fácil do pós-operatório», outros anestesiologistas in-
manuseamento. Assim, a configuração da base terpretaram como «a realidade álgica do pós-
de dados deve ser pensada de uma forma pro- operatório foi melhor, igual, pior do que a expec-
fissionalmente empenhada quer pelo grupo da tativa do doente». A avaliação crítica dos
UDA, quer pela equipa informática que acom- resultados da base de dados, perante a experi-
panha a realização e a manutenção da base de ência empírica dos avaliadores, permitiu con-
dados. A formação de uma estrutura profissio- cluir que havia erros de interpretação das res-
nalizada, quer médica quer informática, é funda- postas fornecidas pelos doentes. Este facto,
mental para o êxito e implementação de um levou à reformulação da questão que passou a
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programa com este perfil . ter o seguinte texto «(em relação à dor do pós-
operatório), foi melhor, igual, pior do que estava
à espera?».
Implementação crítica dos resultados
da análise Aperfeiçoamento dos protocolos
A divulgação interna contínua da análise dos
resultados obtidos com a avaliação dos questio- É através do processo dialéctico descrito an-
nários efectuados é a melhor forma de promover teriormente que é possível reformular e elaborar
a discussão em torno da qualidade das pergun- questões que melhorem o conhecimento das
tas efectuadas e da avaliação dos objectivos queixas álgicas do doente, e deste modo permi-
atingidos. Perguntas bem elaboradas mas que tir a implementação dos protocolos analgésicos
não conseguem traduzir fielmente o ambiente adequados a cada tipo de cirurgia e a criação
álgico/analgésico dos doentes, são questões de novos protocolos que possam corresponder
que devem ser retiradas do questionário. Por a «lacunas analgésicas» detectadas na realida-
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outro lado, alguns dos resultados obtidos podem de anestésica/cirúrgica de cada instituição .
ser enviesados em relação a uma realidade por Toda a infra-estrutura criada para este fim e
todos conhecida. Este facto, aponta para dois que se consubstancia na UDA, permite o apro-
tipos de problemas: ou a construção das ques- veitamento das potencialidades criadas para
tões conduz a falsas interpretações ou avalia- explorar outros aspectos do pós-operatório di-
ções pelo doente/médico, ou as questões efec- recta ou indirectamente ligados à avaliação da
tuadas exigem aos doentes um grau de lucidez dor e à analgesia. Foi assim que no nosso ques-
e memória que não é compatível com um pós- tionário foram adicionadas questões relaciona-
operatório imediato. Um exemplo concreto resul- das com a avaliação das náuseas e vómitos do
ta da avaliação no pós-operatório da incidência pós-operatório, bem como a avaliação de efeitos
de náuseas e vómitos. Não se pode pedir a um secundários da analgesia. São estas questões
doente uma resposta retrospectiva sobre náuse- que analisam aspectos relacionados com even-
as e vómitos nas primeiras 24 horas do pós- tuais efeitos secundários (ex.: náuseas, vómitos,
DOR operatório, porque obviamente o doente tem obstipação, parestesias, tonturas/vertigens), que
condicionam, juntamente com a dor, o grau de
amnésia sobre os primeiros momentos do pós-
46 operatório imediato. Por outro lado, quanto mais satisfação dos doentes no pós-operatório . Esse
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