Page 46 Volume 16 - N.1 - 2008
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L. Medeiros: A Importância das Bases de Dados no Aperfeiçoamento do Tratamento da Dor Aguda do Pós-Operatório
Criação da Unidade de Dor Aguda partindo de um esqueleto básico de perguntas
A criação de uma UDA deve ser considerada relativamente consistente.
como uma necessidade imperiosa de todos os
profissionais de saúde. O empenhamento e a Motivação dos profissionais –
disponibilidade para a sua criação e implemen- importância dos resultados
tação implica a perseverança e a aferição de Sem motivação dos profissionais de saúde
conceitos entre os médicos anestesistas, de envolvidos numa UDA, o resultado final será:
modo a conseguir uma uniformidade e uma har- questionários mal preenchidos, avaliações incor-
monização dos critérios de avaliação e trata- rectas, interpretações duvidosas, doentes não
mento dos doentes. Nesta conjugação de esfor- avaliados, conclusões abusivas. Partindo destas
ços, é fundamental a contribuição dos elementos premissas, os resultados finais serão rotunda-
mais experientes do Serviço de Anestesiologia, mente falsificados e estarão obviamente muito
que com a sua maturidade e experiência forne- longe da realidade. Para evitar isso, todos os
cem o núcleo base da formação da UDA, a que profissionais deverão estar cientes da importân-
se associa a irreverência e o sonho dos médicos cia e responsabilidade dos seus actos, sem o
mais jovens. É desta conjugação, mesclada com que não será possível ter uma noção aproxima-
os conhecimentos adquiridos por outras unida- da da realidade que nos rodeia no pós-operató-
des em fase mais adiantada de implementação, rio imediato. Para isso, devem ser incentivados a
que se obtém a mistura considerada optimizada utilizar os resultados obtidos com a avaliação dos
para a constituição de uma UDA. A filosofia que questionários de modo a poderem tirar conclu-
orienta uma estrutura destas não se coaduna sões susceptíveis de melhorar futuras avaliações
com tarefas entregues a alguns elementos do e simultaneamente de melhorar a analgesia pres-
Serviço de Anestesiologia, uma vez que a anal- tada aos doentes. A divulgação de resultados
gesia do pós-operatório atravessa transversal- entre os profissionais da UDA é a melhor forma de
mente todos os doentes e anestesistas e deve os motivar a recolherem eficazmente os dados
ser programada desde o pré-operatório passan- das suas avaliações do pós-operatório.
do pelo intra-operatório. Assim, a UDA deverá
ser uma estrutura global que envolve todo o Análise contínua e crítica dos resultados
Serviço de Anestesiologia e cujo funcionamento
será tanto melhor quanto maior for o empenha- A motivação dos profissionais que colaboram
mento e a participação de todos. No entanto, num programa de UDA só pode existir se houver
esta implementação da UDA no Serviço de permanentemente uma avaliação contínua do
Anestesiologia não deve descurar o intercâmbio trabalho efectuado, com a apresentação de re-
profissional privilegiado com outros departamen- sultados sobre aspectos positivos e negativos
tos do hospital tais como: cirurgia, enfermagem, da abordagem efectuada pelos profissionais. Só
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farmácia e fisioterapia . Só com organização, assim é possível cada um dos colaboradores ter
ensino e treino é possível optimizar as técnicas uma noção aproximada da importância do esfor-
analgésicas de modo a reduzir a intensidade da ço que diariamente realiza para manter a base
DPO, bem como todos os efeitos secundários de dados a funcionar de forma eficaz. A cons-
inerentes não só à dor mal controlada como tam- tatação de que há vários aspectos negativos
bém ao uso inadequado dos analgésicos . para melhorar só pode funcionar, dentro deste
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contexto, como reforço positivo no sentido de
Elaboração dos questionários aperfeiçoar as performances de quem efectua
A avaliação do grau de analgesia e de outras no «terreno» a recolha dos dados. Simultanea-
mente, a apresentação de resultados permite
complicações do pós-operatório implica a reali- optimizar os questionários a efectuar e a longo
zação e implementação de questionários dirigi- prazo e após análise exaustiva dos dados reco-
dos aos doentes e que têm diversos princípios lhidos, promover a melhoria e simplificação dos
básicos na sua concretização: linguagem clara, protocolos analgésicos instituídos.
concisa e sem ambiguidades; perguntas que
realmente avaliem o grau de dor/analgesia dos
doentes, número reduzido de questões de modo Novos parâmetros para análise
a não saturar o doente no pós-operatório ime- É do trabalho de recolha e da análise crítica
diato e perguntas que sejam consensuais em dos dados obtidos que o grupo pode inferir no-
relação a todos os médicos 2,3,5,8 . vos parâmetros de avaliação e simultaneamente
O não preenchimento destes requisitos poderá aperfeiçoar os já existentes. Esta evolução só
colocar em risco a objectividade das respostas tem sentido se houver uma participação conjun-
obtidas e a interpretação correcta das afirmações ta de todos os elementos, de modo a que as
emanadas dos doentes. novas ideias que surjam resultem de um amplo
Todo este processo de elaboração de um consenso entre os profissionais e que funcionem
questionário é um processo demorado, que de- como forma agregadora das vontades individu- DOR
verá ser reavaliado múltiplas vezes, de modo a ais. Qualquer alteração imposta sem uma dis-
que, ao iniciar-se a colheita de dados, o façamos cussão prévia e sem que haja um consenso 45
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