Page 43 Volume 16 - N.1 - 2008
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Dor (2008) 1
tendo como base a teoria da preemptive anal- recuperação mais rápida da motilidade gastroin-
gesia, e não terem encontrado diferenças de testinal. Foi utilizado como pré-medicação anes-
eficácia, surge um novo conceito: analgesia pre- tésica, por via oral e associado tanto a anestesia
ventiva. Este conceito tem três objectivos princi- geral como anestesia epidural, embora com me-
pais: diminuir a dor após lesão tecidular, preve- lhores resultados com esta última 1,7-11 .
nir sensibilização espinhal e diminuir a incidência Tal como os anteriores, o magnésio actua nos
de dor inflamatória ou crónica e consiste na ad- receptores NMDA. Numa revisão de vários estu-
ministração perioperatória de anestésicos locais, dos, Lysakowski, et al. constataram melhoria da
opióides, paracetamol e AINE. Com esta abor- analgesia pós-operatória, com diminuição do con-
dagem, foram obtidos melhores resultados no sumo de opióides com o magnésio em alguns
controlo da dor e na sensibilização espinhal; dos estudos, enquanto outros não revelaram
ainda assim, reconhece-se que vão surgir doen- qualquer influência do magnésio na analgesia,
tes com dor persistente (10 a 50%) e entre as nem na diminuição dos efeitos secundários as-
principais causas que podem contribuir para sociados aos opióides. Nesta revisão, não foi
este aparecimento, destacam-se: terapêutica também conclusiva qual a melhor dosagem ou
analgésica inadequada, técnicas cirúrgicas que fórmula química (gluconato, sulfato ou lavulinato
impliquem lesão de nervo e técnica anestésica de magnésio) a utilizar .
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escolhida . A gabapentina é um fármaco antiepiléptico de
É sabido que a terapêutica multifarmacológi- terceira geração, com estrutura semelhante ao
ca, baseada no efeito sinérgico de dois ou mais GABA. Muito utilizado no tratamento da dor cró-
fármacos, tem melhores resultados que a mono- nica, ultimamente tem sido alvo de diversos es-
terapia, que os opióides mantêm-se como a tudos na terapêutica da dor aguda pós-operató-
base da analgesia perioperatória e que os AINE ria. A sua principal acção é inibir a subunidade
e o paracetamol reduzem o consumo de opiói- A2δ dos canais de cálcio, levando a uma dimi-
des. No entanto, os fármacos e as vias de ad- nuição da hiperexcitabilidade neuronal, embora
ministração devem ser adequados ao tipo de a sua activação das vias inibitórias descenden-
cirurgia e aos recursos da instituição. O segui- tes no período pós-operatório imediato pareça
mento pós-operatório varia entre hospitais, e de- ser mais relevante e possa explicar o efeito si-
terminados fármacos ou técnicas podem não nérgico com os opióides. Utilizado no período
estar submetidos a padrões de vigilância e se- perioperatório, a gabapentina oral torna-se uma
gurança apropriados. A terapêutica da dor agu- adição ao tratamento analgésico multimodal. A
da pós-operatória deve, assim, ter sempre como pregabalina é um fármaco estruturalmente se-
base de actuação o contexto cirúrgico, as neces- melhante à gabapentina, que tem como vanta-
sidades do doente e os recursos existentes. gem um início de acção mais rápido e poucos
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A procura de novas abordagens no tratamen- efeitos adversos .
to da DPO não trouxe técnicas inovadoras ou A clonidina, um fármaco anti-hipertensor, tem
novos fármacos, mas sim uma utilização diferen- sido utilizada como adjuvante dos opióides no tra-
te de fármacos já conhecidos e utilizados em tamento da dor aguda pós-operatória. Com efeitos
situações diversas. a nível espinhal e central, diminui o consumo de
Quando existe risco elevado de desenvolvi- opióides e prolonga a duração dos bloqueios, tan-
mento de dor crónica, a associação de um fár- to epidural como perineural, e parece reduzir a
maco anti-hiperálgico (como antagonistas NMDA, hiperalgesia quando utilizada via epidural .
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gabapentina ou pregabalina) durante o período No que diz respeito a técnicas, o bloqueio
perioperatório pode tornar-se útil . epidural continua a ser uma técnica eficaz para
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A quetamina é um fármaco que ganhou novo analgesia no pós-operatório imediato, com todas
interesse devido às suas propriedades antago- as vantagens conhecidas; para além disso,
nista dos receptores NMDA, importantes na apresenta também benefícios como terapêutica
atenuação da sensibilização central e na tole- preventiva no desenvolvimento de dor residual.
rância aos opióides. Quando utilizada em bai- Quando utilizado no intra-operatório, e não ape-
xas doses (dose inicial de 0,5 mg/kg ev. segui- nas no pós-operatório, reduz a sensibilização
da de 2 a 5 mcg/kg/min em perfusão ev.), central após cirurgia major. Este efeito parece
diminui o consumo de remifentanil no intra-ope- estar relacionado com a dose e diferentes asso-
ratório e de morfina no pós-operatório e tam- ciações de fármacos e é mais acentuado se em
bém a incidência de hiperalgesia associada à associação com a quetamina .
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administração de remifentanil em doses altas Outra técnica que parece promissora é a co-
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(0,4 mcg/kg/min) . locação de cateteres na incisão cirúrgica com
O dextrometorfano (fármaco que não está co- infusão contínua de anestésico local. Não só em
mercializado em Portugal) é também um antago- termos de analgesia, mas também no que se
nista NMDA, que revelou, em alguns estudos, refere à redução da libertação de mediadores
melhoria da qualidade da analgesia, com dimi- inflamatórios pelos neutrófilos, na redução da
DOR nuição da intensidade da dor e consumo de adesão dos neutrófilos ao endotélio, na menor
analgésicos, da hiperalgesia térmica primária
formação de radicais livres de oxigénio e na
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