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Dor (2009) 17
Dor (2009) 17
Nota Editorial
Zeferino Bastos
É sempre com um misto de saudade e de orgulho tendo sempre presente a vertente científica e a
que nos propomos falar dos amigos. Saudade porque divulgação da Dor. O seu relacionamento com a
sentimos a falta do seu convívio, orgulho quando comunidade científica nacional e internacional per-
reconhecemos os seus feitos. mitiu que fossem convidados a participar nestas
Elogiar o amigo será sempre fácil porque se nos acções cientistas de reconhecido mérito.
esquecermos de algo, a amizade faria com que Além da terapêutica médica, criteriosamente
fossemos perdoados. Enaltecer, neste caso, o usada e, inicialmente, muito limitada, eram utili-
cientista torna-se mais difícil, porque a sociedade zadas outras técnicas como a analgesia por via
exige de nós que divulguemos, sem omissões, o medular (a dar os primeiros passos), a hipofisec-
seu contributo para a ciência, alívio da dor e para tomia química, a cordotomia, a risotomia percutâ-
a melhoria da qualidade de vida, em inúmeras nea, a dresotomia, a TENS, etc.
circunstâncias Novos fármacos que foram surgindo, como o
O Dr. Nestor Rodrigues licenciou-se em Medi- tramadol, a buprenorfina, o fentanil transdérmico,
cina, pela Universidade do Porto, em 1955, com a os bifosfanatos, o estrôncio e outros foram subme-
média final de 18 valores. tidos a ensaios clínicos e judiciosamente utilizados.
Especializou-se em Neurocirurgia, tendo sido O Dr. Nestor Rodrigues era Membro da Interna-
estagiário de Neurologia e Neurocirurgia no Hospital tional Association for the Study of Pain (IASP), tendo
de Santo António e assistente da Faculdade de sido nomeado como seu representante em Portugal.
Medicina do Porto. Foi bolseiro da Fundação Ca- Nessa qualidade, desenvolveu grande actividade
louste Gulbenkian e assistente na Faculdade de de angariação de outros membros de modo que
Medicina de Edimburgo, na Escócia. fosse possível constituir em Portugal uma secção/
Era especialista, em Neurocirurgia, pela Ordem capítulo da IASP. Assim surgiu a APED em 1992.
dos Médicos e pela Carreira Hospitalar. Foi o primeiro Presidente do Conselho Directivo
Foi membro da Comissão Executiva da Ordem da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor
dos Médicos e da Direcção do Colégio de Espe- (APED) desde a sua fundação até 2001 quando foi
cialidade de Neurocirurgia. eleito Presidente da Assembleia Geral.
Era membro regular e honorário de diversas So- Foi editor e membro do Conselho Científico da
ciedades Científicas Portuguesas e Estrangeiras. Revista Dor.
Desenvolveu a sua actividade profissional como Foi um entusiasta da constituição da Federação
neurocirurgião, sendo Director de Serviço em An- Europeia dos Capítulos da IASP (EFIC), tendo sido
gola, Évora e no IPO Porto desde 1977. seu Conselheiro.
Em Luanda, foi Professor convidado de Neurolo- Em Janeiro de 1999, e por influência da APED,
gia e Neurocirurgia na Universidade. de que era Presidente, foi constituído um grupo de
Em Évora, foi Director do Serviço de Neurocirur- trabalho, na Direcção-Geral da Saúde, com a fina-
gia, subdirector do Hospital e Director do Internato lidade de elaborar um Plano Nacional de Luta Con-
Médico. tra a Dor (PNLC), que integrou e coordenou.
Em 1979, ao ingressar no IPO Porto, tive o gran- Esse grupo de trabalho fez um levantamento da
de privilégio de conhecer e trabalhar com o Dr. situação da Dor em Portugal e propôs, tendo sido
Nestor Rodrigues durante vários anos, quer na co- aceite, o dia 14 de Junho como Dia Nacional de
laboração como anestesista em Neurocirurgia quer Luta contra a Dor, comemorado pela primeira vez
na área da Dor. em 1999.
Foi um dos grandes impulsionadores da criação O PNLC foi aprovado por Despacho Ministerial
da Unidade da Dor do IPO Porto que iniciou a sua de 26 de Março de 2001.
actividade em Maio de 1980, sendo seus funda- Sabedores de que esta não foi uma enumeração
dores o Dr. Nestor Rodrigues (Neurocirurgião), o exaustiva das capacidades do Dr. Nestor Rodri-
Dr. Januário Veloso (Psiquiatra) e eu próprio (Anes- gues e das suas qualidades de trabalho, que foi tão
tesista). somente uma tentativa de relembrar, a todos aque-
Mais tarde juntaram-se outras especialidades les que com ele contactaram e trabalharam, o quan-
(Fisiatria, Oncologia Médica, Radioterapia, etc.) to foi importante a sua acção na área da Dor.
Integravam a Unidade da Dor, para além dos já Ao Homem, ao Cientista ilustre e Amigo, falecido
citados médicos, enfermeiras, psicólogos, auxilia- em Agosto de 2009, em nome de todos aqueles
res de acção médica, pessoal administrativo, etc. que tiveram o privilégio de com ele conviver e tra-
O Dr. Nestor Rodrigues, como coordenador da- balhar, em nome dos doentes, da APED e de mim
quela Unidade, a todos contagiava com o seu en- próprio, deixo o testemunho da nossa admiração e
DOR tusiasmo e exemplo. um sentido agradecimento.
Participou activamente na organização de diver-
4 sos congressos, cursos, conferências e palestras, Março de 2010