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J.L. Portela: A Dor no Doente Oncológico – um Desafio
humanamente deveríamos ter feito para evitar restantes constituem, por vezes, grandes desa-
todo o sofrimento inútil. É fundamental, também, fios, em que se tem de equacionar a terapêutica
que o doente cumpra o seu dever de modo a que com a qualidade de vida dos doentes, levando
possa, informado e responsavelmente, colaborar sempre em consideração o primado do doente,
no «seu» tratamento e decidir, conscientemente, a ética e o bom senso.
o que é melhor para si. A qualidade de vida é um conceito que deve
A capacidade de aliviar a dor no doente on- estar sempre presente quando abordamos um
cológico é hoje considerável e acessível à maio- doente com dor, oncológica ou não. Conceito tão
ria dos médicos. subjectivo como a própria dor, qualidade de vida
O arsenal terapêutico disponível é vasto com não é mais do que aquilo que a pessoa percep-
fármacos analgésicos, opióides e não-opióides, ciona como o que considera melhor para si. E
eficazes e seguros. aqui entra em jogo a individualidade de cada um,
Dispomos de formas de administração cómo- os seus anseios, as suas ambições, as suas pre-
das e variadas, desde a oral às mais modernas, ocupações, quer individuais quer sociais, no fun-
transcutânea e transmucosa. do, o desejo de estar bem consigo.
Procuramos prevenir e tratar efeitos adversos Por isso, uma das primeiras metas a atingir
e combater sintomas associados, como a ansie- quando se apoia um doente oncológico é o de
dade e a depressão. perceber até que ponto é que a nossa actuação
O apoio psicoterapêutico encontra-se disponí- interfere na sua qualidade de vida.
vel em muitas Unidades de Dor que possuem, Quantas vezes me interrogo se tenho o direito
também, muitas delas, atendimento telefónico de decidir por alguém cuja qualidade de vida
directo para apoio ao doente/cuidador. não conheço ou conhecendo-a a vou alterar.
Para formas mais graves ou difíceis, existem Tratar um doente com dor confronta-nos, mui-
Unidades de Dor com meios mais sofisticados e tas vezes, com a nossa própria dor e estamos
algumas técnicas especiais, como por exemplo, provavelmente a tratá-la como gostaríamos ou
bombas portáteis de infusão, permitindo, inclu- desejaríamos que nos tratassem.
sivamente, automedicações controladas. Deve ser, no entanto, um exercício de conjun-
Podemos, pois, afirmar que desde as formas to, o doente e o seu médico ou a sua equipa. É,
mais iniciais da doença até às formas mais provavelmente, o ponto em que a Medicina mais
avançadas há hoje resposta, que pode ser ade- se aproxima da Arte e a Ciência mais reconhece
quada em cerca de 90% dos casos. Os 10% as suas limitações.
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