Page 5 Volume 20 - N1 - 2012
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Dor (2012) 20
Dor (2010) 17
Editorial



Sílvia Vaz Serra © Permanyer Portugal 2012





s minhas primeiras palavras, neste primeiro Os anti-inflamatórios não-esteróides fazem
volume de 2012, são de agradecimento e parte do nosso arsenal terapêutico, pelo que
Aendereçam-se a todos aqueles que cola- nunca é demais rever as suas indicações e
boraram com a revista Dor e permitiram que o efeitos secundários, chamando a atenção para
objetivo traçado para o ano de 2011 (parecia duas áreas particulares: a dor lombar e o doente
tão inverosímil!) de acertar o tempo real com idoso.
o tempo da revista fosse alcançado. Conside- A constatação da importância do alívio da dor
ro que o conhecimento do momento está sem- no pós-parto vaginal levou a que uns colegas
pre desajustado com o tempo real. No mesmo elaborassem um estudo prospetivo comparativo
instante em que algo é interpretado como inova- sobre a utilização de morfina epidural versus
ção, descoberta, no mesmo instante começa a analgésicos minor, tendo como outcomes o grau
ser questionado, colocado em dúvida… e é bom de satisfação, a analgesia obtida, os efeitos ad-
que assim seja. A importância da revista «andar versos e a necessidade ou não de analgesia de
a horas» é equivalente à necessidade de obje- resgate.
tivar a intensidade da dor. O valor em si tem Um outro artigo relata um estudo prospetivo
menos realce que a monitorização da evolução sobre a utilização de um fármaco conhecido –
da intensidade da dor. O mesmo se passa com capsaicina – que apresenta um novo sistema de
a evolução dos conceitos, das terapêuticas, dos aplicação dérmica com alta concentração. É
temas, das perspetivas que vão sendo explanadas uma experiência inicial desta modalidade tera-
ao longo das revistas e ao sabor da experiência pêutica na prática clínica de situações de dor
acumulada e do conhecimento científico do mo- neuropática periférica.
mento, um ad continuum… Este volume termina – the last but not the least
O volume abre com um artigo que se debruça – com o comentário a um artigo muito pertinen-
sobre o desenvolvimento de um instrumento de te e atual que avalia a relação entre ansiedade
heteroavaliação que permite avaliar a intensida- pré-cirúrgica, catastrofização da dor e a gravi-
de da dor na população de doentes idosos ou dade e intensidade da dor pós-cirúrgica. Os
com demência. É cada vez mais pertinente não resultados deste estudo apontam para a mudança
descurar esta grande franja da população por- do foco para os fatores cognitivos na experiência Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
tuguesa que sofre de dor crónica e trazer-lhe de dor aguda pós-operatória.
qualidade de vida e dignidade. Uma última palavra. A revista Dor é o espelho,
Realçar a chamada de atenção para uma en- uma das faces visíveis da Associação Portu-
tidade tão pouco diagnosticada – dor da cintura guesa para o Estudo da Dor (APED), mas tam-
pélvica na gravidez – através de um artigo de re- bém pretende ser o espaço de reflexão e de
visão que enaltece a importância de futuros en- debate, livre e aberto a todos os que têm algo
saios clínicos randomizados e multicêntricos como a acrescentar em termos de dor nas suas múlti-
forma de se efetuar um correto diagnóstico e plas vertentes.
tratamento desta situação clínica. Uma sugestão Perspetivam-se tempos exigentes e difíceis
de trabalho? que se repercutem em todas as áreas da dor,
Dor em Cuidados Intensivos – uma outra área o que torna um desafio para todos a correta
tão esquecida que necessita de uma abordagem abordagem da dor. Porque não interpretar a dor
mais sistemática e abrangente. da mesma forma que Valter Hugo Mãe encara a
O artigo seguinte relata o testemunho (na pri- literatura: «a literatura não é uma narrativa plana
meira pessoa, difícil e impressionante) de alguém mas sim uma reportagem. É um modo de discus-
que vivenciou a dor de uma outra maneira e que são, escrever, criativamente. É preciso encontrar
acrescentou uma outra dimensão à experiência lugares que não sejam comuns».
de dor. Obrigado. Até breve.





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