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R. Morais, S.F. Bernardes: Perceções Sobre o Ambiente Físico e Sociofuncional de Uma Unidade de Dor Portuguesa
mencionados, em simultâneo, como aspetos po- dimensões usadas pelos diferentes utilizado-
sitivos e negativos da Unidade de Dor. Tal po- res, para avaliarem um determinado serviço
derá ser interpretado pelo facto de profissionais hospitalar no que respeita ao seu ambiente fí-
de saúde e utentes estarem a reportar -se para sico e sociofuncional, estarem dependentes
diferentes propriedades desse mesmo aspeto/ dos seus objetivos, necessidades, interesses,
categoria (e.g. qualidade da mobília ser adequa- expectativas, papéis sociais, condição física,
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da mas não existir muitos elementos decorati- idade, etc. . Além disso, e como evidenciado © Permanyer Portugal 2012
vos) ou mesmo a diferentes espaços físicos (e.g. noutros estudos 8,10 , os profissionais de saúde
as questões de temperatura podem ser adequa- beneficiam de um lugar que lhes proporcione
das na sala de consultas mas não na sala de uma maior sensação de controlo onde possam
tratamentos). afastar -se brevemente das exigências de traba-
Para além disso, importa mencionar que, e à lho e obter alguma privacidade. Assim sendo, é
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semelhança de outros estudos os profissionais plausível que deem uma uma maior relevância
de saúde tendem a avaliar mais negativamente às condições sociofuncionais comparativamente
do que os utentes a maior parte dos aspetos. com os utentes.
Sendo que os utentes tendem mesmo a «norma- Outro resultado evidenciado neste estudo, e
lizar» as condições físicas da Unidade de Dor. de particular interesse, consiste no facto de, tan-
Tal diferença pode estar associada a diferentes to profissionais de saúde como utentes, darem
expectativas, necessidades e graus de familia- relevância às questões relacionadas com clima-
ridade com o espaço. tização e qualidade do ar. Alguns autores argu-
Relativamente ao ambiente sociofuncional, na mentam que existem algumas dimensões que
perspetiva dos profissionais de saúde, a Unidade são comuns aos utilizadores de um determinado
de Dor ideal deve contemplar a maioria das ca- serviço hospitalar, tais como conforto, luz natural
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racterísticas que constituem um bom ambiente e privacidade . De facto, as questões associa-
sociofuncional. Já os utentes parecem não ter uma das à temperatura, humidade e arejamento têm
imagem definida daquilo que deve ser o ambien- alguma frequência nos discursos dos profissio-
te sociofuncional de uma Unidade de Dor. nais de saúde e dos utentes, quer se assumam
No que concerne aos aspetos positivos que com uma valência positiva e/ou negativa. Na
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ambos os utilizadores consideram na sua Unida- versão original do PHEQI , as questões relacio-
de de Dor, os profissionais de saúde fazem men- nadas com a temperatura e humidade do ar
ção às boas relações humanas existentes entre foram avaliadas numa dimensão mais abrangen-
os mesmos, bem como a questões relacionadas te, à qual os autores denominaram de conforto
com as regras existentes que permitem o funcio- físico -espacial. Contudo, na adaptação e valida-
namento da unidade e à confiança e coopera- ção portuguesa da escala, a dimensão confor-
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ção entre serviços hospitalares. Já os utentes to físico -espacial foi limitada a um número redu-
consideram a unidade com características que re- zido de itens pelo que questões relacionadas
metem para um bom funcionamento, isto é, que com a temperatura e humidade do ar deixaram de
permitam a execução das tarefas, formais e infor- ser avaliadas. Apesar de mais estudos serem ne- Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
mais, de forma adequada e relacionadas com a cessários para apurar estas questões, a frequên-
prestação do serviço. Privilegiam, ainda, as re- cia com que os utilizadores mencionaram ques-
lações humanas de trabalho entre profissionais tões relacionadas com a climatização e qualidade
de saúde e utentes, nomeadamente a atenção do ar mostra, efetivamente, a necessidade emer-
fornecida, a disponibilidade, o atendimento e a gente de uma melhor adequação das metodolo-
qualidade das interações e do serviço prestado. gias para avaliar a perceção da qualidade am-
No que concerne aos aspetos negativos, são biental.
os profissionais de saúde que consideram na Em suma, este estudo foi pioneiro no que diz
sua Unidade de Dor, questões relacionadas com respeito ao conhecimento dos aspetos relativos
composição da equipa de saúde e multidiscipli- ao ambiente físico e sociofuncional de maior
naridade da mesma, com a confiança e coope- relevância, para alguns daqueles que consti-
ração entre serviços hospitalares, com as regras tuem os utilizadores de uma Unidade de Dor e
internas existentes que permitem o funciona- institui -se como um primeiro passo importante
mento eficiente da unidade bem como com o na investigação realizada em Portugal sobre a
próprio funcionamento em si, isto é, com a exe- perceção do ambiente físico e sociofuncional em
cução de tarefas, formais e informais, como ne- Unidades de Dor. Assim, os seus resultados po-
gativas. Já os utentes mencionam apenas ques- dem assumir duas grandes vertentes para a in-
tões relacionadas com o funcionamento da vestigação futura a realizar -se na área da Psico-
Unidade de Dor como aspetos negativos. logia Social do Ambiente:
Finalmente importa -nos refletir que, face ao 1. Permitem reflectir teoricamente sobre os as-
ambiente sociofuncional, é mencionada uma petos que são mais relevantes para os uti-
maior variedade de aspetos e em maior frequên- lizadores de espaços hospitalares (e.g. cli-
cia por profissionais de saúde comparativamen- matização e qualidade do ar) e fomentar a DOR
te com os utentes. Uma das possíveis interpre- investigação sobre a relação entre o ambien-
tações para estes resultados reside no facto das te físico hospitalar e a saúde e bem -estar 47
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