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do nervo por uma ansa da artéria cerebelosa especificamente para o tratamento da dor
superior (ACS), que deve ser dissecada e mobi- neuropática trigeminal incluem-se a estimula-
lizada, interpondo-se entre a artéria e o nervo um ção motora cortical, a estimulação cerebral
material sintético almofadado (Teflon ) (Fig. 3). profunda 33,34,35,38 , a estimulação de nervo pe-
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Apesar de menos frequentes, é possível verificar riférico e a estimulação magnética transcra-
contactos vasculares com outras artérias, por arté- niana repetida 21,29,30,37 . Estes apresentam uma
rias e veias em simultâneo, ou apenas por veias 24,25 . eficácia variável para o tratamento da dor facial © Permanyer Portugal 2012
O ângulo ponto-cerebeloso é uma área topo- crónica e apresentam indicações precisas. Se-
gráfica que inclui estruturas nervosas e vascula- rão também explorados com maior detalhe nou-
res importantes, sendo que as complicações tro artigo desta publicação.
possíveis incluem a hipoacusia e a paresia fa-
cial, já descritas 24,25 . A hemorragia pode tam-
bém acontecer, muitas vezes por rutura da veia Procedimentos ablativos:
petrosa superior ou de Dandy por estiramento. Os procedimentos ablativos para o tratamento
Esta deve ser identificada precocemente e pode da dor começaram a ser realizados no início do
ser coagulada e seccionada (McLaughlin, et al.) século XX. Estes fundamentam-se na lesão de
na maioria das vezes sem consequências para estruturas do sistema nervoso, com o objetivo
o doente. Estão contudo descritos vários casos de interromper as vias ascendentes sensitivas
de complicações relacionada com o sacrifício da dor. Ao longo dos anos, à medida que o
desta veia (edema cerebeloso, acidentes isqué- conhecimento anatómico e fisiológico das vias
micos e hemorrágicos), especulando-se que estes relacionadas com a perceção dolorosa foi evo-
casos podem estar relacionados com variantes da luindo, foram-se desenvolvendo novas técnicas
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anatomia venosa dos doentes . destrutivas que tinham como alvos diversos
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componentes destas vias aferentes . Apesar da
Recomendações sua longa história e eficácia verificada, a sua
Segundo as recomendações da American Asso- utilização entrou em declínio nos tempos moder-
nos, salvo raras exceções. Isto aconteceu por-
ciation of Neurology (AAN) e da European Federa- que os procedimentos ablativos (que implicam
tion of Neurological Science (EFNS), os casos de uma lesão definitiva nas estruturas nervosas),
nevralgia do trigémeo refratários a tratamento mé- foram em grande parte substituídos pelo desen-
dico devem ser submetidos a um tratamento inva- volvimento de novos fármacos mais eficazes no
sivo (grau de evidência classe III), sendo que controlo da dor e por técnicas de neuromodula-
apesar dos PPC serem provavelmente eficazes ção, que implicam uma modificação funcional
(estudos classe III), a MDV permite o maior pe- não definitiva das estruturas e uma possível va-
ríodo livre de queixas álgicas comparativamente riação da estimulação que permita uma modu-
com as outras técnicas (estudos classe III) . lação mais adequada. As técnicas de neuromo-
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A MVD pode também ser utilizada para o tra- dulação são, contudo, caras e a sua eficácia
tamento da nevralgia do glossofaríngeo e das ainda não está cabalmente demonstrada em Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
nevralgias trigémino-autonómicas. várias patologias.
Para o tratamento da dor facial podemos des-
Radiocirurgia tacar, neste grupo, a utilização da rizotomia por
A RC é uma técnica não invasiva que con- RF em ramos do nervo trigémeo para tratamen-
siste na irradiação limitada da raiz do nervo to da dor facial ou do nervo grande occipital de
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trigémeo na fossa posterior . Esta será explo- Arnold para tratamento de cefalalgias; a neu-
rada em maior detalhe noutro artigo desta publi- rectomia do nervo trigémeo (que consiste na
cação. secção do nervo trigémeo na sua origem do
A resposta ao tratamento habitualmente não é tronco cerebral); ganglionectomias de C2 para
imediata e apesar de uma resposta terapêutica tratamento da nevralgia de Arnold; a mesen-
satisfatória a curto prazo, esta é muito limitada cefalotomia para o tratamento da dor facial
a longo prazo, principalmente nos doentes pre- intratável; a tractotomia trigeminal para trata-
viamente submetidos a MDV. Assim, este é um mento da dor facial; a talamotomia para o tra-
procedimento que deve ser reservado para tamento da dor facial atípica e a cingulotomia
doentes refratários a tratamento médico, que re- para tratamento de dor benigna intratável asso-
cusam qualquer tratamento cirúrgico. Pode ser ciada a depressão e outras alterações do foro
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a
usado como tratamento de 2. linha após a ci- psiquiátrico .
rurgia, apesar de a sua eficácia ser inferior nes- Deste grupo, apenas alguns procedimentos
tes casos. Pode também ser utilizada no trata- se mostraram eficazes de forma consistente,
mento de outros tipos de dor facial . sendo ainda utilizados nos dias de hoje. A rizo-
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tomia por RF apresenta bons resultados para
tratamento da nevralgia do trigémeo e outras
Tratamentos de neuromodulação
DOR No grupo dos tratamentos de neuromodula- síndromes dolorosas trigeminais (como previa-
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mente descrito) . A neurectomia, inicialmente
38 ção para tratamento da dor facial crónica, e desenvolvida por Dandy W. para tratamento da