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Dor (2012) 20
Headache Disorders/International Headache So-
Quadro 1. Causas de dor facial crónica
ciety (ICHD/IHS), trata-se de um tipo de dor cró-
Cefaleias nica caracterizada por acessos súbitos, lancinan-
– Enxaqueca e cefaleias de tipo migranóide tes e com duração que varia de uma fração de
– Cefaleia de tensão segundo a dois minutos, na distribuição do nervo
– Cefaleia de tipo cluster
trigémeo . É também chamada de tic doloreux e
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Nevralgia do trigémeo é muitas vezes precipitada por um fator desen- © Permanyer Portugal 2012
– Idiopática – tipo I cadeante, como por exemplo a mastigação, o
– Sintomática – tipo II riso, a fala ou o toque na face. Na sua forma
Nevralgia do trigémeo atípica clássica não se acompanha de défices neuroló-
– Dor trigeminal neuropática gicos (défice sensitivo ou alteração do reflexo
– Lesão nervosa córneo) e afeta predominantemente as divisões
– Pós-herpética maxilar e mandibular do nervo, sendo mais raro
– Anestesia dolorosa/dor trigeminal por desaferenciação
o envolvimento do nervo oftálmico . Pensa-se
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Outras nevralgias craniofaciais que terá na sua génese um processo de des-
– Nevralgia de Arnold mielinização da zona de Obersteiner-Redlich,
– Nevralgia do glossofaríngeo (região da sua origem aparente na superfície da
– Dor súbita unilateral acompanhada de injeção
conjuntival e epífora (SUNCT) protuberância). Esta zona delimita a transição
– Síndrome de Eagle (apófise estilóide longa) entre o sistema nervoso central (SNC) e o peri-
– Síndrome de Tolosa-Hunt (inflamação do seio férico, e entre a mielina com origem nos oligo-
cavernoso) dendrócitos e a mielina com origem nas células
– Síndrome de Gradenigo (síndrome do ápex petroso) de Schwann, respetivamente. Este processo de
– Síndrome de Raeder (paratrigeminal)
– Síndrome de Ramsay-Hunt (lesão pós-herpética do desmielinização focal está na base de uma
nervo trigémeo) transmissão efática no nervo, das fibras A par-
cialmente desmielinizadas para as fibras com
Dor facial relacionada com outras patologias pouca mielina (fibras A-d e C). Trata-se de uma
– Vascular – arterite de células gigantes
– Oftalmológica – glaucoma, nevrite ótica, iridociclite síndrome com maior incidência numa idade
– Dentária e mandibular – dor dentária, síndrome da mais avançada (idade média de 63 anos), o que
articulação temporomandibular pode ser explicado pelo aumento progressivo
– Seios perinasais – sinusite da tortuosidade das artérias cerebrais, sendo
– Dor facial atípica (somatiforme)
que o contacto vascular com esta zona do ner-
vo, de forma continuada no tempo, pode condu-
zir a uma desmielinação nervosa focal que se
traduz numa dor nevrálgica trigeminal com ca-
racterísticas clássicas, também classificada
A nevralgia do trigémeo assume um papel pre- como de tipo I. É possível verificar a ocorrência de
ponderante por ser a entidade clínica em que o contactos vasculares (arteriais e venosos) em 96%
tratamento cirúrgico é mais frequentemente apli- dos casos dos indivíduos com dor trigeminal tí- Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
cado com bons resultados. pica, sendo apenas possível verificar contactos
Nos tratamentos cirúrgicos da dor facial, in- vasculares com o nervo em ressonância magné-
cluem-se a microdescompressão vascular, os tica (RM) em 3% dos indivíduos que não têm dor
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tratamentos de neuromodulação (estimulação trigeminal . A artéria mais vulgarmente implica-
de nervo periférico, estimulação motora cortical da é a artéria cerebelosa superior, em até 80%
e estimulação cerebral profunda 33,34,35,38 ) e os dos casos. Numa minoria de casos os contactos
procedimentos ablativos (tractotomia trigeminal, vasculares são realizados por veias, sendo que
entre outros). Outros métodos de tratamento são esta forma é mais frequentemente resistente ao
os procedimentos percutâneos como a ganglio- tratamento cirúrgico.
gliose por radiofrequência (RF), a injeção de Quando os acessos de dor se caracterizam
glicerol ou a compressão do gânglio de Gasser por dor crónica constante em mais de metade
com balão e a RC. Neste artigo trataremos ape- do tempo no território do nervo trigémeo, com
nas a microdescompressão vascular e os proce- acessos de agravamento, trata-se de uma ne-
dimentos ablativos. vralgia do trigémeo de tipo II ou atípica (segun-
do a classificação de Burchiel). Este tipo de
Etiologia e diagnóstico nevralgia é frequentemente mais resistente ao
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Abordamos de seguida os diagnósticos mais tratamento, quer este seja médico ou cirúrgico .
Destaca-se ainda a nevralgia do trigémeo sin-
comuns de dor facial crónica com origem nevrál- tomática, que se apresenta muitas vezes de forma
gica/neuropática. atípica e acompanhada de défices neurológicos
(sensitivos no território do nervo, dos músculos
Dor facial de origem trigeminal mastigadores ou alteração do reflexo córneo). A
DOR mente abordada é a nevralgia do trigémeo. Tal causa mais frequente é a esclerose múltipla,
A dor facial de origem trigeminal mais comu-
sendo que esta forma de nevralgia é também
34 como definido pela International Classification of mais resistente aos tratamentos convencionais,