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M. Mendonça, et al.: Dor na Osteoartrose: Modelos Animais e Testes Farmacológicos

Quadro 1.
Von-Frey Randall-Sellito Weight Bearing
0-14 15-28 0-14 15-28 0-14 15-28
Opióides 35,36,60-62 + + + + + +
AINE 13,35,36,61,63 0 0 +/0 0 + +/0
Paracetamol 35 0 0 +/0 0 + –
Anti-Epilepticos 35,60,61,63 + 0 +/0 0 +/0 +/0
Clonidina Intratecal 64 – + – – – +
Antidepressivos 63 – – – – + +
Sumário da eficácia de diversas classes de fármacos analgésicos no modelo de injeção intra-articular de MIA com recurso à aplicação
de filamentos de Von-Frey na pata, à avaliação do limiar de pressão exercida na pata pelo método de Randall-Sellito, e distribuição
diferencial do peso nas patas posteriores – Weight Bearing. Recorreu-se à sobressimplificação e generalização dos resultados para facilitar
a análise dos múltiplos dados de diversos estudos. Os resultados foram divididos em 2 intervalos de tempo, precoce – até 14 dias, e
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tardio, dos 15 aos 28 dias, de acordo com o padrão descrito por Bove e Combe . +: Efeito analgésico demonstrado consistentemente;
+/0: Resultados díspares entre diferentes estudos: analgesia ligeira ou sem efeito analgésico; 0: Sem efeito analgésico documentado;
–: Não avaliado. O agrupamento dos fármacos é o seguinte: (opioides) morfina e tramadol; (AINE) Diclofenac, Naproxeno, Ibuprofeno,
Indometacina; (Anti-Epilepticos) Lamotrigina, Gabapentina, Lacosamida; (Antidepressivos) Amitriptilina.

e do paracetamol (Quadro 1). De facto, embora o partilharem os mecanismos neurobiológicos com o
paracetamol seja uma das terapêuticas farmacoló- modelo animal. De facto, uma fraca correlação entre
gicas de primeira linha na OA, o efeito analgésico os modelos animais e a patologia humana pode levar
não é detetado nos modelos experimentais . Estas a diferenças entre os resultados obtidos na experi-
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inconsistências podem dever-se ao uso de parâ- mentação animal e nos ensaios clínicos. A mimetiza-
metros de nocicepção não relevantes do ponto de ção dos mecanismos de dor das patologias em es-
vista clínico para avaliação do efeito analgésico, tudo é por isso essencial para uma melhor correlação
como foi referido anteriormente. entre os modelos animais e a patologia humana.
Assim, ao utilizar modelos animais de OA, é es- No caso do modelo do MIA, este é amplamente
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sencial avaliar os parâmetros da nocicepção rele- utilizado na investigação da dor na OA . O MIA é
vantes para a doença humana. Como referido ante- um inibidor metabólico que atua bloqueando a ati-
riormente, a nocicepção induzida pelo movimento é vidade da desidrogenase do gliceraldeído-3-fosfa-
provavelmente o melhor parâmetro a avaliar no es- to e, consequentemente, da glicólise, levando à
tudo do efeito antinociceptivo dos analgésicos. Os morte celular. Embora não apresente especificida-
resultados obtidos na avaliação dos efeitos antino- de para os condrócitos, a sua injeção intra-articular
ciceptivos da morfina e diclofenac, através dos induz uma degeneração progressiva e preferencial da
testes de Knee-Bend e CatWalk, comprovam que cartilagem, consequente da sua fraca capacidade re-
são métodos úteis para a avaliação da nocicepção generativa, sendo a sua ação dependente da dose.
induzida pelo movimento de uma forma clinica- Neste modelo, observa-se uma morte abrupta e
mente relevante, ao contrário dos métodos que aguda de condrócitos que, apesar de provocar um
avaliam a resposta referida – hiperalgesia e alodí- conjunto de alterações histológicas e comportamen-
nia na pata. Dessa forma, estes testes podem ser tais sobreponíveis às da OA humana tardia, tem um
bons preditores da eficácia dos fármacos analgé- padrão de evolução acelerado em comparação
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sicos em modelos pré-clinicos de OA, podendo ser com esta . No entanto, conforme acima referido,
utilizados em estudos futuros. foi verificada uma semelhança reduzida entre o
perfil de transcrição génica na cartilagem de ratos
A validade dos modelos animais com OA induzida por MIA e na cartilagem da OA
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humana , pelo que será necessário aprofundar a
para o estudo de dor compreensão deste modelo e de outros que dis-
Os modelos animais de OA têm-se mostrado úteis pomos para o estudo da dor na OA. De facto, a
para investigar os mecanismos de dor associada à translação dos dados experimentais para a pato-
OA, e descobrir novas moléculas com perfil analgé- logia humana será sempre o passo mais difícil,
sico, tais como inibidores dos canais TRPV1, anta- dada a complexa etiologia da OA humana.
gonistas do recetor para a substância P (recetor
de neuroquinina 1 [NK1]), e alguns bloqueadores
seletivos dos canais de sódio . No entanto a sua Perspetivas futuras
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eficácia clínica permanece por demonstrar. Vários estudos têm descrito o papel das neuro-
Evidentemente, mesmo que estes modelos se- trofinas em estados de dor. O nerve growth fator
jam úteis para a compreensão dos mecanismos de (NGF) é um membro da superfamília das neurotro-
dor e para o desenvolvimento de analgésicos, es- finas da qual também fazem parte o brain-derived DOR
tes fármacos apenas serão clinicamente relevantes neurotrophic fator (BDNF), o neurotrophin 3 (NT-3)
se as patologias para as quais foram desenvolvidos e o neurotrophin 4/5 (NT-4/5) . O NGF pode ligar-se 31
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