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Dor (2014) 22
casos, pela dor, o seu sintoma mais relevante. A continua a ser discutida, não havendo evidência
dor associada à OA pode estar presente em repou- suficiente para justificar ou contraindicar a sua uti-
so, mas agrava-se com a carga e o movimento da lização 21,22 . Já a viscossuplementação intra-articular
articulação afetada , e pode progredir gradualmente com ácido hialurónico, traduz-se numa melhoria
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durante vários anos, causando sofrimento e redução significativa, no período de 5 a 13 semanas, no
da qualidade de vida dos doentes. controlo de dor e na função articular . Não existe
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A origem da dor na OA ainda não está totalmen- evidência que justifique a utilização de doxiciclina 24
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te esclarecida e apenas recentemente se começou e da lavagem articular para o tratamento da dor
a observar um maior interesse pela investigação dos na OA. Dentro das várias intervenções cirúrgicas,
seus mecanismos. Presume-se que seja uma con- a substituição da articulação por uma prótese é
sequência da ativação dos neurónios aferentes pri- particularmente eficaz nos pacientes com limita-
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mários devida à deformação de tecidos peri-articu- ções funcionais e queixas álgicas significativas .
lares ou do osso subcondral, ao aumento da pressão
intraóssea e à inflamação sinovial 8-10 . Esta atividade
neuronal periférica aumentada poderá induzir alte- Modelos animais de osteoartrose
rações plásticas centrais (espinhais ou supraespi- Os estudos em animais são essenciais para a in-
nhais) que poderão exacerbar a perceção da dor . vestigação dos mecanismos da dor na OA humana.
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Na ausência de fármacos que alterem de forma Vários modelos de OA têm sido desenvolvidos, cada
eficaz a evolução natural da doença, o tratamento um com vantagens e desvantagens intrínsecas , que
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da dor associada à OA assume especial relevância. poderão traduzir diferentes etiologias da doença com
No entanto, as abordagens de tratamento existentes um grau diferente de severidade e de progressão.
não são ainda satisfatoriamente eficazes 2,12-14 . Exis- No estudo experimental da OA recorre-se geral-
tem atualmente três modalidades de tratamento: mente a um de três tipos de modelos animais:
não-farmacológico, farmacológico e cirúrgico, de espontâneos, cirúrgicos ou químicos. Os modelos
acordo com várias guidelines publicadas por insti- espontâneos resultam do desenvolvimento não in-
tuições de referência como o American College of duzido de uma degeneração articular comparável
Rheumatology ou a Osteoarthritis Research Society à da OA humana em certas estirpes de ratinho ou
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International . Está demonstrado que a prática de porquinho-da-índia 28,29 , tendo a vantagem óbvia da
exercício físico, assim como a participação ativa relevância clínica de um desenvolvimento espon-
dos doentes em programas de educação, diminui a tâneo de OA. Estes modelos têm, no entanto, a
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dor e a limitação de movimento em doentes com OA . desvantagem de requererem uma custosa e longa
Estas terapêuticas não-farmacológicas podem, manutenção dos animais em condições controla-
no entanto, ser complementadas com analgésicos. das e uma grande variabilidade no tempo de de-
O paracetamol é considerado uma terapêutica de senvolvimento de OA, sendo difícil prever a seve-
primeira linha graças à sua eficácia moderada e ridade da patologia. Em contraste, os modelos
favorável perfil de efeitos secundários. No entanto, cirúrgicos, de indução mais rápida, originam insta-
o efeito analgésico pretendido nem sempre é obti- bilidade articular com recurso à meniscectomia
do, podendo considerar-se um aumento da dose parcial ou à transecção dos ligamentos cruzado
de paracetamol ou a substituição/adição de um anterior ou colaterais. Estes modelos provavelmen-
anti-inflamatório não esteroide (AINE) à medicação te reproduzem mais fielmente as lesões da OA
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do doente . Para contornar os efeitos sistémicos secundária/pós-traumática, sendo menos apelati-
dos AINE, o uso de anti-inflamatórios tópicos é tam- vos para o estudo da dor na OA primária. Os mo-
bém uma opção. A utilização de opióides no trata- delos químicos caracterizam-se pela injeção intra-
mento da OA tem vindo a aumentar . No entanto, -articular de moléculas que causam alterações no
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o benefício, descrito particularmente com a utiliza- metabolismo dos condrócitos ou na integridade da
ção de opióides mais fortes (oxicodona, fentanil ou matriz extracelular cartilagínea. Neste grupo temos
morfina), é limitado pelos efeitos secundários des- o modelo da injeção intra-articular de monoiodoa-
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tes fármacos, pelo que não é recomendada a uti- cetato de sódio (MIA) , ou de colagenase . O
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lização por rotina . O tramadol, um fármaco com modelo do MIA, amplamente utilizado, tem sido
menos efeitos potencialmente graves que os anti- particularmente útil no estudo da nocicepção as-
-inflamatórios, tem assumido particular relevância. sociada à OA, assim como do efeito dos analgésicos,
Apesar de ser um opióide mais fraco, uma meta- por induzir de forma rápida, eficaz e reprodutível um
nálise recente na qual foram incluídos ensaios clí- comportamento nociceptivo e alterações articula-
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nicos que usavam formulações de tramadol e de res correlacionáveis com a OA humana .
tramadol/paracetamol mostraram um ligeiro efeito Existem diferenças entre os vários modelos expe-
analgésico, com uma diminuição de 12% da dor em rimentais, não só a nível comportamental mas tam-
comparação com o valor basal . A corticoterapia bém a nível da expressão génica. No caso do mo-
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intra-articular, com o seu efeito significativo apenas delo da transecção do ligamento cruzado anterior,
a curto prazo, poderá ter um papel importante no a cartilagem articular mostra um padrão de expres-
tratamento da dor na OA, particularmente durante são génica sobreponível ao da OA humana, com
DOR agudizações . A eficácia do tratamento com agen- sobrexpressão de fatores implicados na patogénese
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da OA, tais como MMP-13, MMP-2 e TIMP, assim
tes que visam modificar a evolução da doença, como
28 o sulfato de glucosamina, condroitina e diacerina como de proteínas da matriz extracelular, tais como