Page 27 Analgesia em Obstetrícia
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embora possam ser uma grande ajuda se administrados criteriosamente. São
muitas vezes combinados com outros fármacos ou outras técnicas analgésicas, de
modo a atingir-se um efeito optimizado.
Estes agentes causam amnésia, o que não é habitualmente desejável do
ponto de vista materno. Além do mais, originam o chamado “estado dissocia-
tivo”. Nesta situação, a parturiente parece estar acordada, sendo mesmo capaz
de abrir os olhos, mas está “dissociada” do meio ambiente circundante, dando
a impressão de não se importar ou responder aos estímulos externos.
A escopolamina, um anticolinérgico, já não é quase utilizada, devido à
elevada incidência de agitação e excitação que provoca. Origina amnésia e
dissociação, mas não analgesia. Além disso, ao atravessar a placenta, conduz
a um aumento da frequência cardíaca fetal e interfere com a variabilidade.
Este efeito pode ser revertido pela administração de fisiostigmina à mãe. Uma
vantagem é que não é um depressor respiratório.
A ketamina, derivado da fenciclidina, por outro lado, quando administra-
do i.m. ou e.v. induz um estado dissociativo de intensa analgesia com ou sem
amnésia. É extremamente potente, o que permite a utilização de doses peque-
nas. A ketamina estimula o sistema nervoso simpático, podendo exacerbar a
hipertensão em grávidas pré-eclâmpticas. A ketamina endovenosa tem um
início de acção rápido e uma curta duração. Um bólus de 10 a 20 mg consegue
dar analgesia para o período expulsivo. Esta dose pode ser repetida cada 2 a
4
5 min, mas sem ultrapassar 1 mg/kg em 30 min ou uma dose total de 100 mg.
Não foram reportadas complicações significativas maternas ou neonatais com
estas doses. O efeito secundário mais frequente, nas doses recomendadas, é a
sua capacidade para promover o aparecimento de alucinações e disforia. No
entanto, grandes doses de ketamina (1,5 a 2 mg/kg) foram associadas a
laringoespasmo materno, aumento do tónus uterino, baixos valores de Apgar
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e depressão neonatal .
4.4. Neuroleptoanalgésicos
A utilização destes fármacos, para analgesia do trabalho de parto, é
actualmente extremamente rara. Dentro desta categoria, o agente mais conhe-
cido é o droperidol. Este fármaco é muitas vezes usado com grande eficácia,
em doses muito pequenas, na terapêutica das náuseas. Em doses maiores,
consegue provocar sedação e um estado denominado “neuroleptoanalgesia”,
quando administrado associado a um opióide (geralmente o fentanyl). Este
quadro é semelhante ao estado dissociativo: a parturiente parece estar em transe,
com uma aparência tranquila e indiferente ao meio ambiente circundante.
Os efeitos secundários mais frequentes do droperidol são a hipotensão e
a depressão respiratória. Curiosamente, a associação de droperidol com
fentanyl é menos depressora do ponto de vista respiratório, do que qualquer
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um dos fármacos dados isoladamente . O droperidol pode, também, se dado
em doses elevadas, causar estados disfóricos.
4.5. Inalatórios

Apesar de pouco utilizada nos dias actuais, a analgesia inalatória do
trabalho de parto constitui ainda uma alternativa aceitável. Nos Estados
Unidos da América, já não se utiliza a analgesia inalatória intermitente durante
o TP, mas 6% dos hospitais ainda usam os agentes inalatórios para o período
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expulsivo . Esta forma de analgesia é mais frequente na Europa e no Canadá,
nos centros obstétricos em que a anestesia regional não está disponível. O
agente de escolha continua a ser maioritariamente o protóxido de azoto.

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