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Cefaleias e factores
psicológicos
A partir da definição de dor da International Association for the Study of
Pain (IASP) pode-se dizer que a cefaleia é uma experiência subjectiva, senso-
rial e emocional desagradável localizada à extremidade cefálica do corpo hu-
mano, podendo resultar de uma lesão ou ser descrita em termos de tal poten-
cial lesão.
A dor de cabeça é um sintoma subjectivo e, tal como na dor em geral, os
factores psicológicos estão sempre presentes em maior ou menor grau.
As cefaleias também podem ser provocadas predominantemente por esta-
dos psicológicos ou psicopatológicos tal e qual como acontece serem causadas
por factores de ordem somática ou doenças orgânicas. No caso do paciente
sofrer já de cefaleias estas são agravadas por estes factores.
Nas causas orgânicas há uma situação mais evidente de causa-efeito, os
mecanismos de dor melhor compreendidos e a intervenção na situação or-
gânica em geral a resolve. Nas causas psicológicas a interacção é mais
complexa, menos objectiva, a base biológica está presente mas é reflexo da
actividade mental e por isso a intervenção terapêutica etiopatológica é mais
demorada.
Em geral, o clínico coloca em último lugar a avaliação do estado mental
do paciente e negligencia o diagnóstico positivo de uma perturbação psiquiá-
trica, ficando o paciente sem orientação terapêutica e entregue a si próprio.
Esta atitude vai contribuir para a iatrogenização do doente, para a cronicidade
deste, para a repetição de exames e terapêuticas com gastos adicionais e, por
último, para o prejuízo funcional do doente com implicações nomeadamente
a nível da sua produtividade e qualidade de vida.
A avaliação deve sempre incluir necessariamente nas cefaleias crónicas a
avaliação psicológica, tendo presente que o paciente não revela espontanea-
mente os aspectos psicológicos da cefaleia mesmo que estes sejam fundamen-
tais. O que o paciente coloca tal como noutras situações clínicas é o sintoma,
neste caso a dor de cabeça. Os factores psicológicos não precisam de ser in-
tensos ou graves em termos psicopatológicos para interferir com a dor de
cabeça. Por exemplo, aspectos psicológicos cognitivos como a catastrofização,
ou o locus de controlo externo, ou a insegurança são suficientes para alterar
o curso de uma dor de cabeça.
Os factores psicológicos podem exercer a sua influência na dor através do
eixo hipotálamo-hipófise, sistema nervoso autónomo e de alteração do proces-
samento da dor a nível central.
Como referimos, todas as cefaleias em maior ou menor escala tem a pre-
sença de factores psicológicos, mas existem situações em que estes são o
desencadeante principal.
Entre estes o stress é a causa mais frequente de dor de cabeça. A tensão
é simultaneamente emocional e física.
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