Page 33
P. 33



acontece com a hipoxia-isquemia, a hipoglicemia ou em crises convulsivas,
podendo resultar em morte neuronal ou apoptose. Além da elevação no stress
dos glucocorticóides, que como mecanismo adaptativo favorece o aumento da
atenção através do hipocampo nos acontecimentos emocionalmente significa-
tivos, mas se excessivo e prolongado pode resultar em neurotoxicidade. Outro
mecanismo é através do stress celular que promove o aumento do glutamato,
neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central que activa os recep-
tores n-metil-d-aspartato (NMDA) e que mobiliza o cálcio. O aumento do cálcio
produz uma reactividade aumentada das enzimas dependentes do cálcio, afec-
tando e comprometendo o funcionamento celular. Nas condições de um stress
intenso, o glutamato desencadeia efeitos neurotóxicos que podem levar à
morte celular. Parece, assim, que pelo menos em condições de stress os neu-
rónios estão mais vulneráveis a pequenas ocorrências.
A disfunção do sistema de stress pode ser um mecanismo para o agrava-
mento das cefaleias primárias associadas ao stress persistente. De facto, estu-
dos em pacientes com cefaleia diária crónica revelam o aumento significativo
de glutamato e nitrito no líquido cefalorraquidiano. Nos pacientes com enxa-
queca verificou-se que as plaquetas tinham aumento de glutamato e aspartato
e que o glutamato estava também aumentado entre as crises mais nos pacien-
tes com aura e ainda mais durante a dor de cabeça.
Então temos que múltiplos aspectos se articulam: o aumento de impulsos
nociceptivos periféricos com a sensibilização central, a alteração do sistema
modulador da dor com a hipótese de uma percepção e facilitação da dor au-
mentada pela persistência do sistema de stress.
O tipo de dor de cabeça pode ser variável em função da predisposição
genética e neurobiológica da pessoa. Assim, tanto pode haver agravamento de
enxaqueca como a sobreposição de cefaleia de tensão com a enxaqueca.
Um dos mecanismos psicológicos que pode determinar uma cefaleia é a
conversão (designada como dor psicogénica). O paciente face a um estado
emocional desagradável e intenso, ou a um conflito psíquico, resolve-o através
da repressão da fonte de ansiedade evitando-a e a cefaleia toma o seu lugar
libertando o doente dessa ansiedade ou situação ameaçadora. A cefaleia pode
ter uma evolução arrastada associada à permanência do conflito psíquico in-
terno ou à presença de factor externo que o desperta, mas desaparece pouco
depois do fim do mesmo. Há, em geral, uma relação temporal entre o apareci-
mento do sintoma em geral de modo agudo e o acontecimento que determinou
o conflito. Para além do benefício primário associado à libertação do conflito
existe benefício secundário associado como afastamento do trabalho ou res-
ponsabilidade ou até terciário, por exemplo quando há benefícios na relação
do doente com outras pessoas, obtendo assim apoio. Existem outros sintomas
como ansiedade, perturbações do humor e outras manifestações sensoriais ou
motoras, que podem sugerir doença neurológica. A avaliação por exames
complementares é negativa. É importante reter a possibilidade frequente que
entre as queixas do paciente algumas correspondam a patologia somática.
Pessoas com traços de personalidade, com grande necessidade de contro-
lo de si próprios e do ambiente que os rodeia, racionalidade das emoções e
comportamentos, grande ordenalidade, moralidade e honestidade, receio exa-
gerado de cometer erros, elevada sensibilidade a críticas e culpabilidade,
presença de sentimentos de raiva não expressa, tendência ao auto-sacrifício e
vitimização, por vezes trabalhadores enérgicos, perfeccionistas, com grande
exigência interior, com preocupação com sucessos mas com insatisfação in-


30
   28   29   30   31   32   33   34   35   36   37   38