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Hans Seleye definiu stress como uma resposta não específica do corpo a
qualquer exigência de adaptação ou estado de tensão biológica face a estímu-
los somáticos, psíquicos ou sociais. O sintoma mais evidente desta resposta
biológica e psicológica pode ser em determinadas pessoas a dor de cabeça. Os
estímulos que activam o sistema de stress podem ser isolados ou múltiplos,
recorrentes ou contínuos, individuais ou generalizados.
Nas situações de stress prolongado e mantido os estímulos antecedem a
dor de cabeça e podem persistir ao logo do tempo de modo directo ou pela
persistência interna das consequências emocionais e afectivas de um modo
reprimido. Mais frequentemente, a cefaleia de tipo tensão é imediata ao stress
agudo enquanto a enxaqueca em geral ocorre após em período de descompres-
são. A avaliação, a interpretação, o significado atribuído ao acontecimento (o
stress percebido) é determinante e varia de pessoa para pessoa. Isto vai deter-
minar como a pessoa sente, reage e como reavalia a situação de stress. Uma
grande lesão pode provocar menos dor e stress se significar a libertação de
uma situação muito ameaçadora como um campo de batalha. Os mecanismos
psicológicos de adaptação e de resolução de problemas da pessoa vão contri-
buir decisivamente para a manutenção e persistência ou não da dor de cabeça.
Pode haver um factor de stress único e agudo e ser causa de uma cefaleia
crónica se a pessoa não conseguiu a resolução emocional interna. Outros casos
existem em que a ameaça psicológica interna acontece antecipadamente face
à ocorrência de qualquer acontecimento ou da sua recorrência, e assim temos
também dor de cabeça antes e na ausência da presença do factor de stress
objectivo.
O estado de stress é o resultado de uma ameaça ao equilíbrio interno
biológico e psicológico em que vários processos fisiológicos e comportamen-
tais são activados para a manutenção desse equilíbrio. Destes o mais impor-
tante é a activação do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal com consequente
libertação de glucocorticóides que exercem efeitos deletérios sobre as vias
límbicas e outras áreas cerebrais, a activação do sistema nervoso autónomo,
a libertação de opióides endógenos e a interacção com o sistema imunitário.
O sistema límbico é simultaneamente comum ao sistema de stress, às emoções
e ao sistema de dor. Assim, uma informação de dor ou de stress são percebidos
através do sistema límbico e projecções no córtex cerebral. O stress e a depres-
são estão frequentemente associados. Pensa-se hoje que a ocorrência de morte
celular a nível do hipocampo seja uma das razões para as alterações de memó-
ria e que contribua também para a depressão reactiva ao stress de longa du-
ração. Por outro lado, o hipocampo está ligado ao medo condicionado, o que
ocorre frequentemente nos pacientes com cefaleias.
Sabemos que os fármacos antidepressivos aliviam a dor ainda que não
exista depressão, o que leva a pensar que estes sistemas estão ligados. Estudos
demonstram também um efeito protector neuronal dos antidepressivos face
ao stress prolongado.
Por outro lado, é hoje claro e certo que as intervenções terapêuticas psi-
cológicas aliviam a dor, o que confirma o efeito modulador na dor através
destas intervenções.
As citocinas libertadas nas lesões dos tecidos ou em tensão ou espasmos
musculares podem também ter um importante papel na dor, nomeadamen-
te muscular, pelo seu efeito nocivo ao nível do músculo e na activação cíclica
do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal com consequente libertação de gluco-
corticóides. O hipocampo é extremamente sensível a estes. Também ao que
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