Page 34
P. 34



terna, insegurança, pensamentos pessimistas e sentimentos de inferioridade
são características encontradas na clínica. A cefaleia está associada ao esfor-
ço e activação dos mecanismos psicológicos para manter o controlo de si
próprio e do ambiente circundante. Aparentemente não demonstram estar
afectados, não colocam as emoções mas as situações fora de si próprio como
causa do problema. Não se verifica uma personalidade tipo, mas estudos refe-
rem no Inventário Multifásico de Personalidade de Minesotta (MMPI) uma
elevação nas escalas de hipocondria e histeria em doentes com cefaleia cróni-
ca diária, ou perturbação de personalidade de tipo obsessivo nos pacientes
com enxaqueca.
Nalguns casos, a cefaleia é um mecanismo de defesa em relação a situações
desagradáveis, conflitos, internos ou externos ou até de gratificação de neces-
sidades de atenção ou de dependência. Noutros, o confronto, a rotura ou
ineficácia dos mesmos mecanismos pode agravar ainda mais a cefaleia, sendo
o que posso designar de um equivalente de dor mental.
Um dos mecanismos psicológicos que pode estar presente nalguns doentes
é a alexitimia ou incapacidade de descrever e verbalizar os sentimentos e
emoções não apresentando o sentimento e emoções mas comunicando-o sem
qualquer ligação através do sintoma de dor de cabeça.
Por vezes, as pessoas com necessidade de atenções médicas e forte ten-
dência a procurar cuidados médicos podem apresentar, entre outros sintomas
físicos, a cefaleia para a qual procura atenção clínica com forte convicção de
estarem seriamente doentes. Por vezes podem repetir consultas, exames, ape-
sar de ter sido esclarecido; a apresentação da dor de cabeça depende mais do
estado afectivo e emocional e da necessidade de atenção para o mesmo, não
da resolução da dor. Quando a cefaleia está inserida em sintomas físicos múl-
tiplos, recorrentes, e não são explicados por nenhuma doença ou exame ou
efeito de substância podemos estar na presença de uma perturbação de soma-
tização.
Os pacientes sofrem de dor de cabeça há anos e não procuraram ajuda mas
podem usar a cefaleia como sintoma para a consulta em ocasião de dificulda-
des emocionais podendo ou não verbaliza-las.
As pessoas hipocondríacas amplificam as queixas somáticas e distorcem a
realidade somática e deste modo também as dores de cabeça devido ao temor
de uma doença grave e a vulnerabilidade de estarem doentes, sendo difícil para
o doente abandonar a queixa explorando minuciosamente todos os sinais,
desconfiando e testando os resultados dos exames, a avaliação clínica e a
gravidade da causa do sintoma, recusando-se a aceitar a causa emocional do
sintoma. Nesta condição o paciente está mais preocupado em saber a causa
do que com a dor de cabeça em si própria.
Também as crenças, experiências prévias do doente, as informações que
vão sendo obtidas através de consultas podem contribuir para a cronicidade
e persistência das cefaleias em pacientes sugestionáveis, facilmente iatrogeni-
zados ainda que de modo benigno. Sobretudo quando os motivos não são or-
gânicos mas psicológicos, emocionais ou sociais. Dentro deste contexto, temos
ainda uma cultura que resiste ao que é mental e penaliza os motivos psicoló-
gicos do adoecer conduzindo a pessoa que sofre a ter que se queixar somati-
camente e com receio de assumir o seu sofrimento com prejuízo significativo
a nível pessoal e social.
A depressão está frequentemente associada a cefaleias de tipo tensão ou
agravamento de enxaqueca. A influência entre a depressão e a cefaleia é


31
   29   30   31   32   33   34   35   36   37   38   39