Page 14 Opióides
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Figura 6.
O poder do ópio estendeu-se de tal forma que originou duas guerras
intituladas «Guerras do Ópio» (Fig. 6). A primeira (1839-1842) teve como
causa directa a proibição pela corte imperial chinesa do consumo de ópio
pelo povo, facto que não foi acatado pelos ingleses, que continuaram a
vender ópio em grandes quantidades aos chineses. Como consequência, Tao
Kwang mandou confiscar 20.000 barris de ópio aos ingleses, o que motivou
uma retaliação através do ataque ao porto da cidade de Cantão. Em 1842,
com a assinatura do Tratado de Nanjing, os chineses saíram derrotados,
tendo não só que permitir o comércio livre de ópio na China, como também
pagar uma indemnização elevada, a abertura de cinco novos portos maríti-
mos para comércio estrangeiro e a cedência de Hong Kong à coroa
britânica. A paz não durou muito tempo e a Segunda Guerra do Ópio termi-
na em 1856 com nova derrota chinesa. O Tratado de Tientsin (1858), legaliza
finalmente a importação de ópio pela China. Como consequência, no final
do séc. XIX, um quarto da população chinesa era «ópio-dependente»!…
Até ao séc. XIX, o único opióide usado em medicina, ou para efeitos
recreativos, era o ópio, que é um cocktail químico complexo que con-
tém açúcares, proteínas, gorduras, água, ácido mecónico, planta da
cera, látex, goma, amoníaco, ácido láctico e sulfúrico e vários alcalóides
principalmente a morfina (10-15%), codeína (1-3%), noscapina (4-8%),
papaverina (1-3%) e tebaína (1-2%), Todas as últimas substâncias, com
excepção da tebaína são usados em Medicina como analgésicos. Estes
opióides são de inestimável valor devido à sua capacidade de reduzir
e/ou abolir a dor sem causar perda de consciência. Também aliviam a
tosse, os espasmos, a febre e a diarreia.
Em 1805, pela primeira vez a morfina foi isolada do ópio pelo far-
macêutico alemão Wilhelm Sertürner (1783-1841) (Fig. 7), que lhe cha-
mou Principium Somniferum. Mais tarde adoptou o nome de morfina
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